Diversão e Arte

Amador só no nome

Festival de teatro mobiliza estudantes de artes cênicas da cidade para mostrar os talentos nos palcos

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 22/10/2019 04:17
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Entre tragédias e comédias, dramas e fábulas, espetáculos infantis e adultos, o 6; Festival Estudantil de Teatro Amador vai encantar e agitar Brasília até 31 de outubro, no palco da Escola Parque da 308 Sul. Ao todo, foram selecionados 15 trabalhos, com participação de mais 160 alunos de colégios públicos e privados do Distrito Federal. Organizado pelo Grupo Nada de Teatro, a proposta é fomentar as artes cênicas no coração do público e do ambiente escolar.

;Quero levar nossa voz e mostrar que somos pessoas que saem de casa às 7h e voltam às 22h para ter um futuro digno;, conta Guilherme Oliveira, aluno do 2; ano do ensino médio. O jovem de 17 anos participa da peça A última estação, que utiliza a ficção para tratar de temas atuais, como intolerância, machismo e preconceitos em geral.

;Muitas pessoas veem Ceilândia como marginalizada e não é assim. A gente quer levar o lado positivo;, continua. A peça marca a estreia do Centro de Juventude de Ceilândia no festival. ;Estamos muito ansiosos para participar. É uma oportunidade única e a gente não pode perder;, avalia o rapaz, orgulhoso. No grupo, o estudante está há cerca de 10 meses, mas começou a fazer aulas de teatro ainda na infância, aos 9 anos, na igreja.

O colégio Cecan estará no festival com a peça A garota de vermelho, dirigida por Marcelo Frei. O espetáculo é apresentado anualmente com algumas adaptações. ;Todos os anos, eu faço essa montagem e ela é colaborativa. Primeiro, eu escuto muito os alunos, pois o próprio texto é uma iniciativa do Johan Behr, um ex-aluno do Cecan. E, daí, esse texto chegou até a gente, mas a montagem passou por um processo de adaptação do texto;, conta o diretor.

Veteranos no festival, a peça é interpretada por alunos do oitavo ao terceiro ano do ensino médio. Além disso, conta com a presença de ex-alunos. ;Mesmo fora do colégio, na faculdade, eles quiseram manter esse vínculo;, pontua Frei.

;Eu acho que o teatro proporciona aos alunos um espaço de reflexão muito grande, de poder mudar o olhar e a perspectiva sobre o cenário que nós temos atual;, destaca um dos idealizadores do festival, Adilson Diaz, que acrescenta, ainda, o senso de coletividade e de laços de amizade.

O projeto nasceu no Colégio Militar de Brasília, na Asa Norte, há seis anos. O formato atual, com diversas escolas, surgiu em 2015. ;A gente percebeu que tinha uma carência na cidade para os estudantes e para os trabalhos das escolas de teatro;, revela Luanna Rocha, outra idealizadora. ;O que nos alarmou foi que muitas escolas nem desenvolviam teatro;, corrobora o organizador, que sentiu dificuldade para começar a mudar a situação.


Adaptação

Localizado na Samambaia, o colégio CCI também é um dos competidores da mostra, com dois espetáculos, Maria no sertão das maravilhas e A megera domada. Maria no sertão das maravilhas é inspirado em Alice no país das maravilhas, mas o texto é adaptado para o sertão nordestino.

;O tema central da peça é o povo sofrido do nordeste. Teremos muito teatro, dança e música;, conta a diretora Aline Cacau. A montagem será apresentada por 20 alunos. ;Foi uma troca de energia muito bacana e dias de muitos ensaios puxados. Estamos ansiosos para o resultado e para a estreia;, diz Cacau.

Os critérios de avaliação foram texto, qual é a produção e linha de trabalho dos professores. Independente e plural, o festival é angariado por apoiadores e parceiros ; das escolas, por exemplo, é cobrado um valor de participação ; e não recebe sem incentivos públicos. Apesar disso, não são delimitadas fronteiras para o projeto. A equipe é composta por voluntários, como ex-universitários que participaram anteriormente.

;Embora o formato seja de mostra competitiva, o foco do festival Festa não é a competição. O mais gratificante é ver o vínculo que é criado entre os alunos e que, no dia do encerramento, isso se mostra numa comemoração e numa alegria mútua, independente de quem seja o colégio, de quem seja o premiado;, destaca a também atriz.

;A gente acaba prestigiando o trabalho de todo mundo no festival, pois não importa quem vença melhor isso ou melhor aquilo. O importante é você sair satisfeito em ver que o trabalho que você fez foi totalmente satisfatório. E aplaudir os outros que estão em cima do palco, pois fazer teatro não é fácil;, afirma Frei.

Somadas, as cinco edições anteriores reuniram 50 espetáculos e mais de 590 estudantes. A organização planeja que o festival faça parte do circuito nacional e seja reconhecido em todo o Brasil, tornando Brasília referência em teatro amador. ;O festival consegue agir nesse lugar de formar novas pessoas sedentas por cultura e por teatro e conseguindo avaliar por outra perspectiva;, defende Adilson.

Para o produtor, é papel da escola proporcionar o interesse e o ensino do teatro, além da reflexão e do senso crítico dos estudantes. ;No começo, a ideia era que os alunos pudessem ter esse espaço, a fim de levar os trabalhos para além das paredes da escola e também promover um lugar de troca entre os estudantes. A gente não consegue nem mensurar a vivência que eles têm e o quão agregador isso é;, finaliza Luanna.

*Estagiárias sob supervisão de Igor Silveira



Programação

22 de outubro
; 15h ; A arca ; Colégio Madre Carmen Sallés, da Asa Norte
; 20h ; A ratoeira ; Colégio Militar de Brasília, da Asa Norte

23 de outubro
; 15h ; Penha ; Centro Educacional 02, de Sobradinho
; 20h ; Sol da liberdade ; Centro Educacional 02, de Sobradinho

24 de outubro
; 14h ; Megera (in)domável ; Teatro dos Ventos, de Águas Claras
; 17h ; + 1 vez Romeu e Julieta ; Teatro dos Ventos, de Águas Claras
; 21h ; Missão clowns impossível ; Colégio Múltiplo, de Ceilândia Norte

28 de outubro
; 15h ; Revolução dos brinquedos ; Cia Luh Rabelo, da Asa Sul
; 20h ; A última estação ; Centro de Juventude de Ceilândia, de Ceilândia

29 de outubro
; 15h ; Desembuço ; Cesas, de Asa Sul
; 20h ; A garota de vermelho ; Colégio CECAN, do Sudoeste

30 de outubro
; 15h ; Transcorpos ; Escola Parque Anísio Teixeira, de Ceilândia Norte
; 20h ; Maria no sertão das maravilhas ; Colégio CCI, de Samambaia

31 de outubro
; 19h ; Cerimônia de premiação



Arte na veia

;Sempre fui apaixonado pela arte, e, desde pequeno, ia a apresentações teatrais, fazia algumas aulas de dança e canto coral. Porém, somente no ensino médio, tive uma experiência com o teatro. Isso me ensinou muitas coisas: amor, cumplicidade e trabalho em grupo foram algumas que me marcaram. O teatro é vida e, sem ele, acho que seria muito difícil viver.;
Gabriel Ferreira, 24, publicitário

;Meu primeiro contato com o teatro foi aos 5 anos, quando entrei na Cia. Néia e Nando por iniciativa da minha mãe, e eu fiz a peça Chapeuzinho Vermelho. Eu era uma criança com muitas dificuldades de habilidades sociais e o teatro me ajudou muito, principalmente com as questões da timidez, de me expor e falar direito, e, até hoje, eu faço teatro.;
João Guilherme Casalecchi, 20, estudante de psicologia


;Meu primeiro contato com o teatro foi na escola, mas sempre foi uma coisa muito informal e sem continuidade. Aí, em 2017, eu conheci a No Ato Produções e fiz um documentário sobre o processo deles, e, em vez de participar, eu observei a oficina. No semestre seguinte, eu ingressei no grupo. A experiência da oficina e de estar no palco foi transformadora. Eu não sabia que meu corpo tinha capacidade de transmitir pensamentos. O teatro me desafia a sair da zona de conforto, e isso é incrível e importante para todo mundo, ele faz a gente se transformar, se reinventar e se descobrir.;
César Ferreira, 27 anos,Professor e fotógrafo



Onde fazer

Os estudantes que participam do festival têm aulas de teatro nos colégios onde estudam. Além deles, o Distrito Federal tem diversos locais que oferecem oficinas ou cursos de teatro ; de forma livre ou continuada ; para artistas amadores. O Correio preparou uma lista:

No Ato Produções
; No Ato Produções (716 Norte, Bl. B, lj. 55; 99311-4525- SER Espaço Integrativo). Realizada por semestre, a oficina de iniciação teatral da No Ato produções é comandada pela atriz e diretora Lucélia Freire. Com aulas terças e quintas pela noite, e aos sábados pela manhã ou tarde. No fim do módulo, os alunos apresentam um espetáculo. Para participar, é necessário ter mais de 16 anos. Valores: R$ 1700 (à vista ou a prazo). O preço pode ser alterado para o próximo ano.

Oficina do Ribondi
; Casa dos Quatro (708 Norte, Bl. F, lj. 42; 3263-2167). Realizada a cada semestre, a oficina dura três meses, com aulas às terças e quintas, das 19h30 às 22h. Ao final, os alunos apresentam um espetáculo. Para participar, é necessário ter mais de 16 anos. Valores: R$ 700 (à vista) e R$ 780 (parcelado). O preço pode ser alterado para o próximo ano. ;Muitas pessoas buscam a oficina para se soltar mais, perder timidez, aumentar a autoestima, aprender técnicas para decorar texto e melhorar expressão e consciência corporal;, conta o produtor Rui Miranda.

Sesc
; (Unidades na Asa Sul, Ceilândia, Gama, Guará, Samambaia, SIA e Taguatinga. Confira no site sescdf.com.br). O Sesc realiza oficinas de teatro durante eventos, como Palco Giratório, Sesc Festclown e Mostra Sesc de Artes Cênicas. De forma continuada, há aulas gratuitas para idosos com o Grupo dos Mais Vividos (GMV). São três horas de atividade, uma vez por semana, de março a outubro, nas unidades de Ceilândia, Gama, Taguatinga e 913 Sul. Ao final, cerca de 80 alunos apresentam espetáculo: desta vez, inspirados por William Shakespeare, será Sonhos de uma noite de verão, no Teatro Sesc Garagem (913 Sul), nesta sexta-feira, (25/10), às 15h, e sábado (26/10), às 20h.



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