postado em 22/10/2019 04:17
Quando chove em Dharamshala*
Quando chove em Dharamshala
as gotas da chuva usam luvas de boxe,
milhares delas desabam
e atingem meu quarto.
Sob o seu telhado de lata
meu quarto chora por dentro
e molha minha cama, meus trabalhos. (...)
Sento-me na cama, uma nação-ilha,
e observo o meu país em enchente,
notas sobre liberdade,
memórias dos meus dias na prisão,
cartas de amigos da faculdade,
migalhas de pão e Miojo
surgem à superfície vivamente
feito rápida recuperação
de uma memória esquecida. (...)
Toda noite
volto ao meu quarto alugado,
mas não vou acabar deste jeito.
Deve haver alguma
outra saída para isso.
Não posso chorar como o meu quarto
já chorei o suficiente em prisões e
em breves momentos de desespero
Deve haver alguma outra saída para isso.
Não posso chorar
o meu quarto já está molhado o suficiente
Tenzin Tsundue, tradução de Gisele Giandoni Wolkoff
(*Dharamsala: capital do exílio dos tibetanos na Índia)