Maria Baqui*
postado em 23/10/2019 15:21
[FOTO1]O livro ;Raul Seixas: não diga que a canção está perdida;, do jornalista Jotabê Medeiros, será lançado no próximo dia 1; em todas as livrarias do país. A proposta da obra é mostrar relatos e memórias de Raul Seixas, além de contar um pouco sobre relatos do cantor ao Departamento de Ordem Política e Social, Dops. Porém, de acordo com o escritor Paulo Coelho, além de ter prestado depoimento, o cantor o teria delatado para ditadura militar.
No Twitter, Paulo Coelho não conteve a indignação a respeito do caso e disse: ;fiquei quieto por 45 anos. Achei que levava o segredo para o túmulo;.
Procurado pelo jornalista, Paulo não quis dar informações sobre o ocorrido e o respondeu por email dizendo não ser ;o tipo de pessoa que gosta de ficar olhando para chagas que já cicatrizaram;.
Contudo, não satisfeito com a resposta do escritor, Jotabê insistiu em solucionar o mistério na relação abalada entre os artistas.
De acordo com Medeiros, Raul Seixas teria pedido para que Coelho o acompanhasse ao Dops para prestar esclarecimento sobre algumas músicas que eles teriam feito em parceria. Seixas havia dito ao escritor que aquela era a primeira vez que estava no prédio. Porém, segundo o jornalista, o cantor estivera no local anteriormente.
;Comparei as datas e vi que, entre o primeiro depoimento de Raul ao Dops e o segundo depoimento, no qual ele levou Paulo Coelho, demorou pouquíssimo tempo;, declarou Jotabê em entrevista para a F. de São Paulo.
Jotabê afirmou que conseguiu as informaçõe ao pesquisar em documentos disponíveis no Arquivo Público do Rio de Janeiro e acredita que ;na maioria das vezes, as pessoas foram atrás da questão da censura às letras e não prestaram atenção aos motivos das audiências; por isso têm poucas conclusões sobre casos da época.
No dia que os dois estiveram juntos no Dops, Raul teria ficado na sala por 30 minutos e quando teria voltado à sala de espera, tentou dar um recado cifrado ao parceiro musical, que não teria entendido.
Em seguida, Paulo Coelho teria sido chamado para ser interrogado sobre a poesia Sociedade Alternativa, cantada por Raul Seixas e sobre o livro que acompanha o disco Krig-ha, Bandolo!.
Pouco depois do ocorrido, em 28 de maio de 1974, a polícia teria ido à casa do escritor e prendido sua namorada Adalgisa Rios. No dia seguinte, quando já havia sido liberado e saído de taxi, do Departamento, com Raul Seixas, Paulo Coelho fora capturado novamente e levado para um local desconhecido, onde teria sido torturado por pelo menos duas semanas.
Segundo o jornalista ;Raul evitou Paulo durante um ano depois do acontecido;.
Paulo Coelho teve acesso aos documentos estudados por Jotabê recentemente e, dessa forma, percebeu que Raul Seixas estava envolvido com o episódio ao ler um texto que dizia que ;por intermédio do referido cantor (Raul); teria sido possível chegar a Paulo e Adalgisa.
MOMENTOS DE TORTURA
Paulo conta ao jornal argentino Clarin que durante os momentos de tortura foi comparado a um ;terrorista; e que teve uma arma apontada para a cabeça em diversos momentos. Ele lembra ainda que na sala onde estava tinha marcas de sangue e tiros por toda parede e que foi ameaçado de morte diversas vezes, além de ter sido obrigado a delatar pessoas desconhecidas dele.
;Eles derramaram água no chão e colocam algo nos meus pés, e eu consigo ver uma máquina de eletrochoque colocada nos meus órgãos genitais;, disse o escritor antes de descrever a situação em que foi eletrocutado e espancado.
Em outro artigo ao Washington The Post, Paulo Coelho deu mais detalhes das duas semanas de tortura: ;depois de não sei quanto tempo e quantas sessões (o tempo no inferno não se conta em horas), batem na porta e pedem para que coloque o capuz. Sou levado para uma sala pequena, toda pintada de negro, com um ar-condicionado fortíssimo. Apagam a luz. Só escuridão, frio, e uma sirene que toca sem parar. Começo a enlouquecer, a ter visões de cavalos. Bato na porta da ;geladeira; (descobri mais tarde que esse era o nome), mas ninguém abre. Desmaio. Acordo e desmaio várias vezes, e em uma delas penso: melhor apanhar do que ficar aqui dentro".