Diversão e Arte

A alma do hip-hop

O produtor, DJ e compositor Raffa Santoro comemora 35 anos de carreira com grande evento no Complexo Cultural da Funarte

Correio Braziliense
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postado em 30/10/2019 04:08
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Raffa Santoro poderia ter se tornado um concertista, como o irmão Alessandro, uma vez que ambos tiveram como principal referência o pai, ninguém menos que o compositor e maestro Claudio Santoro, criador da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional ; ícone da música erudita no país, cujo centenário é celebrado este ano.

Ainda na adolescência, porém, Raffa direcionou seu talento para a música popular, mais especificamente para o hip-hop, gênero do qual transformou-se um dos nomes mais representativos no país. Ao longo de 35 anos de carreira, como produtor, compositor e DJ, acumulou um vasto legado, que inclui mais de 130 discos (em diferentes formatos), a criação de alguns grupos e a realização de incontáveis e importantes eventos, inclusive no exterior.

Sexta-feira próxima, a partir das 19h, no Teatro Plínio Marcos do Complexo Cultural da Funarte, Raffa celebra os 35 anos de música com um grande evento, parte da programação da quinta edição do Prêmio Profissionais da Música, que tem o maestro Claudio Santoro como um dos homenageados. Ao lado do DJ Chokolaty, ele recebe vários grupos.


Como foi sua iniciação musical?
Ouvindo música clássica, jazz, bossa nova. Essa foi minha trilha sonora até os 11 anos. Mas também cresci ouvindo as composições eletroacústicas que meu pai fazia nos anos 1970, durante nosso exílio na Alemanha. Meu pai havia montado um estúdio profissional em casa e talvez isso tenha me despertado para a tecnologia na música.


Até que ponto você foi influenciado por seu pai, o maestro Claudio Santoro?
Aproveitei, relativamente, pouco dos conhecimentos do meu pai, porque só descobri o que gostaria de fazer com a música por volta dos 16 anos, e ele faleceu quando eu tinha 19 anos.


O que o levou ao hip-hop?
Comecei na cultura hip-hop como B-Boy, dançarino de break. Mas logo em seguida, despertou a vontade de ser DJ. A produção musical foi consequência quando comecei a trabalhar em estúdio profissional. A militância com os projetos sociais veio depois, com meu amadurecimento e, com certeza, estava no meu sangue, por causa de meu pai, que sempre foi um homem que nunca se vendia e sempre mantinha suas convicções ideológicas e políticas. Mas o rap como instrumento de denúncia e de transformação social, que mostrava a realidade das periferias, foi um dos principais motivos de eu ter adotado a cultura hip-hop como estilo de vida.


Chegou a estudar para se tornar produtor e DJ?
Estudei engenharia de som nos Estados Unidos, mas ter feito dois anos de violino e três de piano me ajudaram muito quando comecei a produzir músicas. Na parte de DJ e produtor musical, fui muito mais autodidata, apesar de, nos últimos 30 anos, eu estar sempre fazendo cursos, me atualizando e me especializando, porque, nesse jogo, as mudanças são muito rápidas e se você quiser permanecer nele, tem que estar sempre na vanguarda.


Efetivamente, quando começou a trajetória na música eletroeletrônica?
Em 1986, com minhas primeiras experimentações em casa fazendo remixes de músicas de que eu gostava, montagens musicais e logo em seguida as minhas primeiras composições.


Houve algum show marcante no início da carreira?
Posso citar alguns. Um show feito em cima de trio elétrico, em 1989, no centro de Ceilândia, com os Magrellos minha primeira banda de rap. O primeiro show com Magrellos fora de Brasília, em Juiz de Fora (MG). Outro importante foi no ginásio lotado no Ibirapuera, em São Paulo, em 1991, com os Magrellos, já pela Sony Music, abrindo o show pro Public Enemy para mais de 20 mil pessoas. Claro que durante a minha carreira houve vários shows inesquecíveis. Mas esses, do início, foram marcantes.


Que avaliação faz dos 35 anos de música?
Na verdade são 35 anos na cultura hip-hop. Na música como profissional são 30 anos. Acho que meu maior legado foi ter construído uma carreira sólida, onde tive a oportunidade de trabalhar com grandes artistas e fazer músicas que se tronaram clássicos, além de ter influenciado muitos DJs e produtores musicais Brasil afora e ter ajudado a realizar sonhos de vários artistas e ensinado essa arte em projetos sociais, despertando em jovens a vontade de seguir uma carreira. Agora já existem vários alunos meus no mercado da música, como o Heitor Valente, aqui no DF, por exemplo. E isso me deixa feliz demais.


Tem ideia de quantos discos lançou e produziu?
Já produzi 133 discos de grupos dos quais fiz parte, discos solos, discos para Djs, coletâneas, nos formatos em vinil, CD e Digital.


Quais considera os mais relevantes e por quê?
Considero os trabalhos mais relevantes, talvez, aqueles que tenham vendido mais de 100 mil cópias tais como Funk Melody Dance remixes, com a colaboração dos DJs Ariel Feitosa e Nino MIX, o CD solo DJ Jamaika; o disco do grupo Demenos Crime, com o clássico Fogo na Bomba. Mas também produções marcantes que me levaram ao status de melhor produtor musical no estilo hip-hop como Baseado nas Ruas ; Bagulho na Sequência, Viela 17 ; O Alheio chora seu dono, Câmbio Negro ; Sub-raça, Atitude Feminina ; Rosa, e CPI da Favela, entre muitos outros.


Atualmente trabalha com que grupos?
Trabalho atualmente com o Baseado nas Ruas, Atitude Feminina, Patubaté e o Meiaum.


Quais foram os eventos mais importantes dos quais participou?
Considero os cinco Festivais de Hip-Hop do Cerrado, do qual fui um dos idealizadores, os mais importantes da minha vida.


Já homenageou o maestro Claudio Santoro em algum dos seus trabalhos?
Sim. Fiz um CD chamado Santoro Popular, no qual sampleio trechos de obras dele de arquivos pessoais e coloco uns beats em cima, que saiu em 2012. O disco está disponível em todas as plataformas digitais. Estou preparando coisas mais elaboradas para o ano que vem.


Seu projeto mais recente é de quando?
Lancei este ano duas músicas novas com videoclipes do meu grupo Baseado nas Ruas e duas coletâneas. A primeira Indioribeiriferia, e a mais recente a minha coletânea comemorativa de 35 anos dentro da cultura hip-hop, DJ Raffa 35 Anos volume 01, com diversos artistas da cidade e do Brasil. Todos esses trabalhos estão disponíveis no meu canal no YouTube e nas plataformas digitais.


Como vai ser a celebração dos 35 anos de carreira?
Será um encontro de várias gerações de artistas que eu produzi durante a minha carreira de produtor musical, na Sala Plinio Marcos da Funarte, no dia 1; de Novembro, a partir das 19h dentro das atividades do PPM (Prêmio Profissionais da Música) promovido pela GRV.



Raffa Santoro
Show para celebrar os 35 anos de carreira do DJ, rapper e produtor brasiliense, com a participação de convidados, na programação do Prêmio Profissionais da Música. Sexta-feira, às 19h, no Teatro Plínio Marcos do Complexo Cultural da Funarte. Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia entrada). Não recomendado para menores de 14 anos.




A programação
Inicialmente se apresentam Irmãos Brothers (DJs Bob Bruno, Elívio Blower e Toninho Pop), Magrellos (Freire e Markão), DF Movimento (Ovelha, Mano Tom e Dmc), Sociedade Anônima (Neguinha e Alemão). Em seguida, entram em ação Baseado nas Ruas, Álibi (Jamaika e Osmair), Cirurgia Moral (Rei), Código Penal (Thales e Osmair), Guindart 121 (Daher, Sorel, DJ Mano Mix, Daher Filho), Viela 17 (Japão e DJ Gabj), Provérbio X (Osaías Júnior), Voz sem Medo (DJ Marola e Chamas), Atirude Feminina (Aninha e Hellenn). No encerramento sobem ao palco Matkão Aborígene, AFPX (Osaías Júnior, Aninha e Hellen), Dreek-K, Meiaum (Bernardo e Melt), Aninha & Leif Bessa (piano e voz) e Angel Duarte.


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