postado em 03/11/2019 04:17
[FOTO1]A cultura tem seu dia
Pensando em cultura, em teatro, não se pode esquecer um nome importante, que tem tudo a ver com Brasília e com a cultura da capital da República. Com uma história comovente e movimentada até para nascer, a menina que recebeu o nome da avó materna, também atriz, veio ao mundo de forma inusitada, em 3 de fevereiro de 1908, em Valença, Rio de Janeiro. Era filha de dois grandes nomes do teatro na época: Átila e Conchita de Moraes. Em homenagem à avó, recebeu o nome de Dulcina de Los Rios Vallina.
Os pais de Dulcina de Moraes (foto 1) estavam hospedados em um hotel da cidade, excursionando com uma companhia de teatro, quando a mãe entrou em trabalho de parto. O dono do hotel, ao ver que Dulcina nasceria, proibiu que os pais dela ficassem lá. Diante da situação, o elenco se revoltou e se recusou a continuar hospedado no local. Sabendo disso, a Condessa de Valença acolheu o casal, alojou-o em uma casa desocupada, para que Conchita pudesse dar à luz em paz. Foi linda a reação da população que, comovida, solidarizou-se, doando mantimentos para Conchita. Dulcina nasceu, então, entre os desvelos da mãe e o carinho do povo da cidade.
Com um mês de vida, Dulcina estava em cena, no lugar de uma boneca que ocupava o berço utilizado na peça e, aos 15 anos estreou o espetáculo Travessuras de Berta, pela companhia Brasileira de Comédia no Teatro Trianon.
Começou, então, a trajetória da menina que tinha, em sua genética, o sangue de uma grande atriz. A vida seguiu, de palco em palco, até que se casou com o ator e escritor Odilon Azevedo, fundando, em 1935, a Cia. Dulcina-Odilon, responsáveis por muito sucesso pelos palcos nacionais, sendo considerada uma das melhores atrizes da história do teatro brasileiro.
Viúva desde 1966, em 1972, já em Brasília, para onde transferiu a Fundação Brasileira de Teatro (FBT) e formou centenas de atores, em 21 de abril de 1980, foi inaugurado o Teatro Dulcina.
Em 1982, Dulcina criou em Brasília a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, prolongamento da Fundação Brasileira de Teatro. A partir daí, Dulcina se dedicou exclusivamente a dar aulas de teatro na faculdade. Em 1990, a FBT chegou a estar à beira da falência, mas amigos de Dulcina organizaram a campanha Viva Dulcina, cuja renda salvou a fundação.
Em agosto de 1996, acometida de uma diverticulite, Dulcina não resistiu à doença e morreu em 27 de agosto de 1996, aos 88 anos. Está enterrada no cemitério Campo da Esperança, em Brasília.
Rui Barbosa
O Grupo Mulheres do Brasil vai comemorar, nesta terça-feira, o Dia Nacional da Cultura, data estabelecida por uma lei, em 1970, para celebrar o nascimento do jurista, político, escritor e diplomata Rui Barbosa (1849-1923).
Em comemoração à data, o comitê de Cultura do Grupo Mulheres do Brasil/Núcleo Brasília fará um Tributo a Rui Barbosa, no Teatro Dulcina de Moraes, a partir das 19h.
Para abrir a noite, haverá uma roda de conversa sobre a mulher na cultura brasileira. A jornalista Dad Squarisi e a cineasta Núbia Santana trarão reflexões sobre o Brasil multicultural e o papel da mulher na cultura brasileira.
Haverá apresentações artísticas, em homenagem ao escritor e jornalista. Segundo a idealizadora do projeto, Cleuza Brandão, a programação foi desenvolvida com base no livro Cartas à noiva, coletânea de textos românticos escritos por Rui Barbosa para a futura esposa.
Para apresentar as cartas ao público, será realizada uma leitura dramática de alguns textos pela atriz Natanry Osório (foto), uma das precursoras do teatro na capital e que atuava em peças com Dulcina de Moraes. A poetiza Marina Mara fará uma narrativa para contextualizar os textos e a história do escritor e do país.
Haverá uma performance do grupo Nota 10, do Instituto Lumiarte, para declamar os pensamentos de Rui Barbosa e muita música ao som de violinos.
O importante nisso tudo, além do espetáculo que será apresentado, para o qual todos estão convidados, é o resgate e a devolução do Teatro Dulcina a Brasília, ainda mais agora que estamos nos preparando para comemorar os 60 anos de Brasília.
Uma capital tão importante, fruto de um sonho do estadista Juscelino Kubitschek, precisa demonstrar, não só para o Brasil, mas para o mundo, que nos importamos sim com a arte e a cultura e, acima de tudo, sabemos apreciar e valorizar as grandes peças teatrais, em salas decentes e bem cuidadas, a exemplo das outras capitais, que têm o orgulho de ter tantas salas quantos a cultura de seu povo necessita para que o teatro, as artes cênicas, os musicais, os grandes títulos de autores nacionais e internacionais sejam preteridos e ignorados pelo público, devido à triste falta que cada sala fechada faz para a cultura de Brasília.