postado em 06/11/2019 04:17
[FOTO1]Recado
;Quem sabe ouvir é popular em toda parte e acaba aprendendo alguma coisa.;
Wilson Mizner
Jeitinho de dizer
Bruno Covas foi ao médico tratar um problema de pele. Descobriu que tinha câncer no esôfago com metástase no fígado. ;Vamos à luta;, disse ele. E se submeteu à quimioterapia. Correu tudo bem. Mas o cateter pregou uma peça. Formou um coágulo no coração.
O jeito é prolongar os dias no hospital. O prefeito de São Paulo encarou o contratempo numa boa. Melhor: pronunciou a palavra como manda a prosódia. Cateter é oxítona. A sílaba tônica fica no finzinho ; ter. O plural, cateteres. Muitos dizem catéter. Trata-se de forma popular.
Propriedade vocabular
;Li que o Supremo iria debater a censura. Errado. Censura não se debate. Censura se combate;, disse a ministra Cármen Lúcia. Palmas pra ela. E, de quebra, uma curiosidade. Censura pertence à família de censo. Na antiga Roma, o censor tinha duas atividades. Uma: fazia o censo da população. A outra: policiava os usos e costumes dos romanos.
Sem confusão
Uma letra faz a diferença. Olho vivo:
Censo = recenseamento (censo demográfico)
Senso = juízo, capacidade de julgar, avaliar, sentir: bom senso, senso moral, senso de humor, senso artístico, senso do ridículo.
Exigência
Oba! Hoje é dia do megaleilão do pré-sal. Os investidores se assanharam. A bolsa bateu recorde. Para manter a alta, uma condição se impõe ; pronunciar a palavra com pompa e circunstância. Recorde rima com concorde. Paroxítona, a sílaba tônica é cor.
Por falar em megaleilão...
Mega- pede hífen quando seguido de h ou a. No mais, é tudo colado: mega-homenagem, mega-história, mega-aventura, mega-assistência, megaoperação, megainvasão, megassistema, megarretenção.
Reaver
Receita apreendeu R$ 3,8 milhões de viajantes em 2019. Eles transportam boladas de dinheiro ou obras de arte sem declarar. Resultado: caem nas malhas da fiscalização. O assunto é notícia. ;Muitos tentaram, mas poucos reaviram os bens;, disse o repórter. Bobeou.
Quem vê cara não vê formação. Reaver que o diga. À primeira vista, o verbinho tem pinta de derivado de ver. Mas é só à primeira vista. Os dois nunca se viram nem no elevador. Reaver é filhote de haver. Significa haver de novo, recobrar, recuperar: Ladrões assaltaram a casa de Gilda. Levaram joias e dinheiro. A polícia os prendeu, mas não conseguiu reaver os bens.
Tal pai, tal filho
Reaver se conjuga como haver, mas só nas formas em que o v do paizão se mantiver: reavemos, reavei;, reouve, reouveste, reouvemos, reouveram; reavia, reavias, reavíamos, reaviam; reaverei, reavereis, reaverá, reaveremos, reavereis, reaverão; reaveria, reaverias, reaveríamos, reaveriam; reouver, reouveres, reouver, reouvermos, reouverem; reouvesse, reouvéssemos, reouvessem; reavendo, reavido.
Xô!
Não caia na tentação. Reavê, reaviu, reaveja seriam derivados de ver. Não existem. Nem fazem falta. Recuperar ou recobrar estão aí pra quebrar o galho. Lembre-se: o inferno está cheinho de insubstituíveis.
Erramos
Na coluna de domingo, havia uma nota chamada ;Bruxaria;. Nela, um erro. Faltou uma letra. Em vez de br, leia-se bru. Assim: ;Quinta foi Dia das Bruxas. Os americanos o comemoram. Nós nem ligamos pras coitadas. Deixamo-las lá, montadas na vassourinha. Mas elas, generosas, ensinam uma lição. X ou ch? Depois de bru, não vacile. É a vez do x: bruxa, bruxaria, bruxulear, Bruxelas;. Perdão, leitores.
Leitor pergunta
Li há alguns dias num jornal o seguinte: ;PF acusa navio grego de derramar petróleo;. Achei estranho o uso do verbo acusar aplicado a objeto. Ele não é específico para pessoa?
Francisco L. Moura da Costa, Brasília
Na imprensa é comum personificar coisas. Aceita-se o procedimento com naturalidade: STF decidirá sobre a prisão em segunda instância. Israel acusa Irã de terrorismo. Espera-se a posição do MEC.