Diversão e Arte

Orgulho da marginália

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 10/11/2019 04:08
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Realizar um filme ;quase marginal;, nas palavras do diretor Otto Guerra, foi a motivação para investir esforço em A cidade dos piratas. Autor de sucessos como o longa Wood & Stock: sexo, orégano e rock;n;roll (2006), Guerra é partidário do underground, da contracultura. ;Minha geração acompanhou os beats, admirou a arte de Robert Crumb e as aventuras do The Fabulous Furry Freak Brothers, tudo num universo de crítica ácida, que aponta a falta de saída e de esperança: fazemos parte desta jogada suja. A nossa civilização vive esta sinuca de bico. Transparece uma grande hipocrisia e tudo envolve grana. Tem gente em busca de outras coisas na vida;, comenta o cineasta.

Daí, então, qual seria o recado do longa que bebe da obra de Laerte Coutinho? ;O mote é não ter mote (risos). O filme é uma metralhadora giratória. É bem o tipo de universo de Los Três Amigos (dos quadrinhos nutridos por Laerte, Angeli e Glauco). Os personagens do filme fazem crítica, a tudo, a todos e até a si mesmos. Eles têm isso da autoflagelação ; de ficar tirando onda de si mesmos ; são mestres nisso;, adianta o diretor.

Falar de A cidade dos piratas puxa o artista para uma sensação de caos. ;Organizar tudo na vida é a morte;, avalia. Com ;vida própria;, o desenvolvimento do filme coincidiu com período em que Guerra achou que ia morrer. ;Tive metástase do câncer de cólon, com fígado, pulmão e cérebro afetados. Fiz tratamento pesado de quimioterapia e cirurgia;, relembra ele, que incorporou os dramas pessoais na fita que abole padrões de narrativa.

Liberto de amarras, o desenvolvimento da animação em cinema nacional tende a assombrar o mundo, pelo que defende o realizador. ;A liberdade criativa propiciou filmes como O menino e o mundo ; pretensamente, infantil ;, Uma história de amor e fúria, Até que a Sbórnia nos separe e Wood & Stock. Há filmes brasileiros com alta qualidade e conteúdo surpreendente. O mundo não se resume apenas ao modelo de mangá japonês e às elaboradas produções norte-americanas da Pixar e da Disney. O Brasil apareceu como espécie de lobo mau. Pensam: ;Como um país de Terceiro Mundo surge com estética tão pujante?!’;, diz.

Na luta, como ressalta, Otto Guerra se aplica na manutenção de um quadro positivo, para o país, projetado filmes em ocupações e nas periferias. ;O que o Brasil avançou não tem volta. Temos muitos perigos, como os evangélicos;, sintetiza. Ativo e agente da vanguarda, desde sempre, como demonstrou no longa Rocky e Hudson ; Os caubóis gays (1994), Guerra tem ; junto com a primeira temporada de série em 13 episódios dos indefectíveis cowboys ; dois longas em andamento. ;Estamos num momento incrivelmente inacreditável;, celebra. Além de um a ficção sobre um menino que desconhece o pai, sendo filho da dona de bordel, conduzirá outro longa sobre ;uma princesa que quer ser o capitão da guarda; tipo Diadorim, numa fábula medieval passada no sertão;, resume.



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