Diversão e Arte

Cena universitária

Festival revela a vitalidade dos grupos e dos atores nascidos em projetos concebidos dentro das faculdades do DF

postado em 14/11/2019 04:17
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A vocação artística de Brasília é histórica, genuína e, cada vez mais, brasiliense. O ator e diretor Diego Borges, quando era aluno de artes cênicas da Universidade de Brasília (UnB), viajou para diferentes festivais de teatro do Brasil à procura de trocas, referências e aprendizado. Finalizou a formação imbuído de um questionamento misturado com muita vontade: ;Brasília é um grande berço do teatro, a UnB tem um curso reconhecido no país, o acesso à capital é fácil, por que não trazer os estudantes para cá? Foi uma motivação bem grande criar um festival na capital do Brasil que pudesse unir as várias regiões do Brasil;, relembra Borges.

Em 2017 nascia o CéU, o primeiro festival nacional de teatro universitário do Distrito Federal. Um encontro de estudantes de diversas universidades e escolas técnicas de artes cênicas do Brasil para promover e incentivar o diálogo e a reflexão sobre os processos de ensino e aprendizagem. São oficinas, mesas de debates, palestras, análises críticas e, claro, espetáculos espalhados por diversos espaços da capital federal. ;É uma tentativa de criar um espaço de discussão e de comunhão. Apresentamos espetáculos de outros estados e também valorizamos a produção local. Convidamos professores e artistas;, descreve Borges, que é um dos idealizadores do evento.

A construção do corpo cômico, a crítica de teatro, a dança em cena e uma residência artística ; que fará uma homenagem aos 60 anos da capital com bailarinos, atores e atrizes, performers e músicos ; são algumas das atividades. O festival aborda de questões de pedagogia da sala de aula ao dia a dia do mercado. ;Por meio do teatro, abordamos o momento social que estamos vivendo. É um espaço para pensar o ensino e a educação dentro e fora da universidade. É um ato de resistência acima de tudo, uma forma de valorizar a cultura, principalmente nesse berço que é o futuro do país;, afirma.

Para realização da segunda edição do CéU, este ano, o apoio das instituições de ensino, como a UnB, a Faculdade Dulcina de Moraes e o Iesb, além da parceria com locais, como o Espaço Cultural Renato Russo, o Teatro dos Bancários e o Sesc, foram fundamentais para a continuidade da iniciativa. ;A produção universitária tem crescido na cidade. Vários grupos surgiram de núcleos dentro das instituições de ensino. É importante valorizar isso. O mercado de Brasília, uma grande parte dele, passou por essas instituições ou teve contato com os professores em oficinas e debates. É o que move a cidade e o que pulsa o festival;, finaliza Borges.


Para a coordenadora do curso de teatro do Iesb, Lenka Neiva de Souza, ao abrir os palcos para os alunos antes do término da graduação e promover as trocas e o aprendizado em cena, literalmente, se expande as perspectivas de mercado, para o público e para os artistas. A instituição promove, ao final de cada semestre letivo, o Iesb em Cena, uma mostra com várias montagens desenvolvidas pelos próprios universitários.

;Desde o primeiro semestre, o aluno pode participar. O objetivo é que ele mostre o fruto do trabalho do semestre, enfrente o público, o feedback da plateia e amadureça a profissão que está abraçando na prática;, detalha Lenka.

Professor da Faculdade Dulcina de Moraes desde a década de 1990, Tullio Guimarães também aposta na formação compartilhada, que soma experiências, vivências e conhecimento. Ele desenvolve o projeto Bagagem teatral, que leva, este ano, alunos do Dulcina, do Iesb e da UnB em uma caravana artística por São Paulo. ;Vamos conhecer a produção contemporânea de teatro de São Paulo que pouco sai da cidade e viaja pelo país;, analisa Tullio.



Depoimento

;Em 2014, ainda cursando Interpretação Teatral em Artes Cênicas pela UnB, fiz uma disciplina do departamento chamada Direção. Foi nesse ano que surgiu a ideia do espetáculo Bistrô e conseguimos concretizá-la. Um espetáculo voltado para espaços não-convencionais, como cafés, restaurantes. Depois de cinco anos, o espetáculo continua. Apresentamos em salas de teatro, cafés, restaurantes e bares. É muito importante e emocionante ver espetáculos que tiveram ponto de partida dentro de uma faculdade e hoje estão no mundo, em temporadas em vários teatros, cidades, temporadas internacionais. É resistência, importante ser reconhecido e assistido;
Marina Olivier, diretora brasiliense do espetáculo Bistrô, em cartaz todas as terças-feiras de novembro no restaurante Bem te Vi, na 408 Sul

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