Diversão e Arte

Para gostar de ler

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 16/11/2019 04:30
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Os caminhos que levam aos livros podem ser muito diversos e raramente envolvem apenas o objeto em si. Pela estrada, há desde o aprendizado da tecnologia da leitura até o envolvimento por um universo do qual fazem parte tanto a oralidade quanto o próprio livro. Marilda Bezerra, João Bosco Bezerra Bonfim e Ariane Cavalcanti sabem disso, por isso mergulharam com muita disposição em projetos dedicados a estreitar a distância entre os livros e seus leitores.

Ariane aprendeu a gostar da leitura com Harry Potter. Leu A pedra filosofal aos 10 anos. Depois, se apaixonou pelos livros de forma geral. Hoje, aos 30, a bombeira acredita que essa faísca despertada por uma história específica pode abrir portas para um universo vasto e rico. Foi esse raciocínio que a levou a criar o Portal Mágico ; Feira literária 2019, em cartaz apenas hoje no Clube Ases. ;O público do Harry Potter vem de muitas gerações porque são 20 anos de produção de conteúdo e a temática consegue unir uma criança e um adulto;, explica.

O Portal Mágico será uma mistura de feira com espaço de atividades inspirado no primeiro livro da saga de J.K Rowling, A pedra filosofal. Ao comprar o ingresso, o público escolhe uma das quatro casas de Hogwarts ; Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina ;, reproduzidas com cenografia de Moa e abertas a atividades durante todo o dia para receber as gincanas Taça das Casas e Taça do Quadribol. Encontros com autores da cidade, como Pablo Amaral, Kássia Monteiro, Paulo Souza e Patrícia Baikal também estão na programação.

Ariane incluiu ainda na lista de atrações os youtubers brasileiros especialistas em Harry Potter. Nomes como Thiego Novais, do Observatório Harry Potter, Caco Cardassi, do Caldeirão Furado, e Leo Santi, do Patrono Net, participam de encontro com os leitores. ;O Harry Potter tem produção de conteúdo mesmo depois do fim da saga. J. K. Rowling continuou lançando conteúdo no site Pottermore (hoje wizardingwolrd), onde vai explicando o destino dos personagens. E esses youtubers estudam o conteúdo e vão tirando as dúvidas dos fãs, explicam o que aconteceu com um personagem, por que um fato ocorreu, a questão histórica;. Eles vão destrinchando a saga;, avisa Ariane.

O Portal Mágico também terá um lado social, com doação e alimentos e de livros para o sistema prisional e um concurso de redação em escolas públicas com prêmios em ingressos. ;Nossa intenção é estimular a leitura e a escrita. E, para pessoas que não gostam de ler ou escrever, trazer o universo do livro para a realidade para incentivar a pessoa a irem para o livro;, diz Ariane.

Nas escolas

Com os projetos Jornada Literária, Poéticas de resistência: Paranoá livre e Itapoã: caminhos da leitura, Marilda Bezerra e João Bosco Bezerra Bonfim apostam na pedagogia da aproximação entre todas as pontas do tecido da leitura como estímulo e incentivo. Realizada desde 2016, a Jornada Literária visita as escolas públicas das regiões administrativas (RA) do Distrito Federal com um programa que vai muito além de um evento pontual. Bosco e Marilda fazem uma seleção de livros que são distribuídos, ao longo do ano, às escolas e trabalhados em sala de aula pelos professores.

Em seguida, os autores visitam as cidades para encontros com os pequenos leitores, mas também com as comunidades. Até agora, já foram quatro RAs e, na segunda-feira, a jornada encerra a passagem por São Sebastião com uma visita a uma escola rural. ;Quando criamos a jornada, decidimos que trabalharíamos sempre fora do Plano Piloto porque os índices de leitura no DF são muito baixos, especialmente nas RAs, então decidimos atuar nos lugares onde havia índices e leitura mais baixos;, avisa Marilda. Com verba R$ 100 mil de termo de fomento da secretaria especial de cultura do ministério da Cidadania, a jornada visitou 10 escolas de São Sebastião. Em anos anteriores, passou por Paranoá, Sobradinho, Ceilândia e Gama.

Em São Sebastião, os encontros ocuparam o auditório do Instituto Federal de Brasília (IFB) e foram abertos ao público em geral. Na segunda, o grupo de autores formado por nomes como dos escritores Jefferson Assunção, de Porto Alegre, e Leo Cunha, de Belo Horizonte, e do ilustrador Ivan Zigg, do Rio de Janeiro, vai visitar a Escola Classe São Bartolomeu, na zona rural de São Sebastião, que recebe diariamente cerca de 200 alunos. ;Os autores conversam com os alunos, fazem apresentações, conhecem os trabalhos que eles fizeram por meio dos livros;, conta Marilda. ;E na zona rural tem uma energia diferente porque, normalmente, são escolas mais carentes. O interesse dos alunos é muito maior, eles têm um carinho pelo escritor, têm um cuidado, coisa do interior mesmo. E as perguntas são um pouco diferentes daquelas da criança que vive na zona urbana e tem acesso a muita informação.; Um total de 4 mil alunos participaram da jornada em São Sebastião.

Em paralelo ao programa, Marilda e Bosco criaram o Poéticas de resistência: Paranoá livre, programa de formação de mediadores que conta com 25 agentes treinadas para realizar sessões de aproximação entre jovens leitores e os livros. Promovido pelo Centro de Cultura e Desenvolvimento do Paranoá e Itapoã (Cedep), instituição atuante no Paranoá há 32 anos e que recebe desde programação cultural até aulas de alfabetização de adultos, o projeto faz parte do programa Memória e resistência e envolve, principalmente, professores da rede pública, que passam por capacitação antes de oferecer as sessões de contação de histórias à comunidade e aos alunos das escolas do Paranoá.

O Cedep faz parte da história do Paranoá e Bosco explica que isso faz toda a diferença para o Poéticas de resistência. ;O centro esteve presente no processo de fixação da Vila Paranoá, quando houve propostas dos governos de tirar as pessoas dali e jogar para Samambaia. E a gente quer contribuir com a construção disso que a gente chama de ambiente leitor: para ter um ambiente leitor precisamos ter uma sala de leitura e uma quantidade de eventos que digam respeito à leitura;, aponta.

Realizado com R$ 80 mil do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o projeto inclui um kit de livros e uma formação com poetas, escritores e ilustradores que ajudam os mediadores a compreender o universo da gestação do livro para melhor o mergulho nas histórias. ;No nosso conceito, a mediação de leitura vai além da simples leitura em voz alta. É leitura em voz alta, mas é reflexiva, traz perguntas a respeito do que acontece na história e a gente procura criar umas chaves de leitura de maneira que, se as pessoas forem ler outras obras, tenham perguntas a fazer. O lugar cria identidade e nosso propósito é ir formando leitores críticos e a leitura em voz alta é fundamental;, garante Bosco.


Feira Literária Portal Mágico
Hoje, das 12h às 21h, no Clube Ases (ao lado do Pier 21). Ingressos: R$ 100 a R$ 320 no www.sympla.com.br.

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