Agência Estado
postado em 24/11/2019 08:10
Feliz aniversário - parece título de filme, e é. Se a grande atração da festa de 30 anos da distribuidora Imovision é Juliette Binoche, e a grande atriz francesa ficará no Rio, mais exatamente em Niterói, onde vai apresentar A Liberdade É Azul na Reserva Cultural, São Paulo não ficará desguarnecida de talentos, na semana que vem. O clássico de Krzysztof Kieslowski, em versão restaurada, ficará circunscrito a Niterói, mas Cédric Kahn vira apresentar para os paulistanos seu novo filme, no domingo que vem.
É justamente Feliz Aniversário. Jean-Thomas Bernardini agradece. Há 38 anos, esse francês desembarcou no Brasil para seguir carreira na moda. Terminou descobrindo o cinema. Virou produtor, distribuidor, exibidor - e até ator, com participação em Fim de Festa, de Hilton Lacerda, que integra a programação de aniversário. A data mesmo já passou, 14 de julho, quando se comemora a Queda da Bastilha, estopim da Revolução Francesa. "Foi coincidência", diz Jean-Thomas. Considerando-se que ele virou o homem do cinema francês no Brasil, lançando mais filmes franceses do que qualquer outro distribuidor ou exibidor, a data parece arranjada, mas foi por acaso que a Junta Comercial imprimiu seu carimbo de validação da Imovision em 14 de julho de 1989. Há 30 anos.
Nesse tempo todo, Jean-Thomas Bernardini viu ocorrerem muitas transformações - as novas tecnologias que mudaram a forma de fazer cinema, as novas plataformas que redesenharam o mercado. Só o que permanece é a paixão de cinéfilo. Algum filme preferido? Não um, exatamente, mas Jean-Thomas gosta de contar que a paixão começou quando descobriu os filmes da então nascente nouvelle vague, que assistia quando jovem nos cinemas de Marselha. É a única dica para quem quiser saber sua idade - que ele não conta. "Minha mulher não deixa; não quer que eu pareça velho", conta. Seja lá quantos anos forem, a cabeça é de jovem, cheia de planos.
O projeto mais ambicioso é o lançamento da plataforma de streaming da Imovision, com uma carteira de mil (mil) títulos. Cerca de 70% é de filmes da França e os 30% distribuem-se entre produções latinas, incluindo brasileiras, asiáticas e independentes americanas. "Já deveria ter saído, mas há uma questão de depósito. O governo, através da Codecine, ligada à Ancine, cobra uma fortuna, R$ 8 mil por título. Há quatro anos esperamos a regularização e redução da tarifa."
Jean-Thomas está apreensivo quanto aos rumos do cinema brasileiro. "É uma atividade econômica importante, além do valor cultural. Está sendo criminalizada." Ele busca alternativas de diálogo. "O cinema brasileiro está num grande momento de reconhecimento internacional. Não deveria ser tratado assim."
Nessas três décadas, ele já trouxe grandes nomes do cinema a São Paulo. "Daria um livro. Trouxemos gente que diziam que era arrogante, difícil, mas o amor pelo cinema sempre falou mais forte." Na Reserva, ele terminou abrindo um restaurante sofisticado. "Aprendi que o bom filme é para ser discutido com uma taça de bom vinho, uma boa refeição. O programa fica completo." O conceito passa ao largo da fórmula pipoca + refrigerante.
Era um sonho que agora se realiza. A cada filme com Juliette Binoche que lançava no Brasil, Jean-Thomas fazia o convite. Finalmente, no 30º, ela aceitou. Vem relançar A Liberdade É Azul. A Imovision ainda negocia uma forma de se juntar à distribuição do novo Hirokazu Kore-eda, A Verdade - já adquirido por outro distribuidor. Juliette, depois do Brasil, vai a Macau, para o lançamento internacional do filme no festival da China. The Truth, primeiro filme em língua inglesa do autor japonês - que venceu a Palma de Ouro com Assunto de Família - reúne duas grandes estrelas, Juliette e Catherine Deneuve.
Jean-Thomas - a Imovision - distribuiu muitos filmes da Deneuve. O que pensa Juliette desse encontro com a eterna Bela da Tarde? "Era menina quando vi Pele de Asno (de Jacques Demy), que marcou minha descoberta de Catherine. Sempre me senti próxima dela, mas também muito distante, porque Catherine é alguém que impõe distância entre as pessoas e ela. Talvez seja uma estratégia de sobrevivência, porque ela é um mito. A surpresa foi descobrir que Catherine é engraçada e pode se enturmar com a equipe, no set. Não é sempre, mas filmando com um diretor de outra cultura, em outra língua, ela nunca passou para ninguém outra ideia que não a de que deveríamos servir ao filme e às personagens."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.