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Mostra Brasília BRB de Cinema segue até sexta no Cine Brasília. Conheça as obras que serão apresentadas hoje e amanhã no festival

postado em 25/11/2019 04:07
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A produção cinematográfica brasiliense sempre teve um espaço especial na programação do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Isso porque desde 1996 o evento conta com a Mostra Brasília, espaço de exibição dedicado às obras locais. Neste ano, a premiação paralela quase não aconteceu depois do cancelamento do patrocínio da Câmara Legislativa, mas acabou sendo resgatada com verba do Banco Regional de Brasília (BRB).

Agora, sob o nome de Mostra Brasília BRB Cinema, a exibição tem início hoje, a partir das 18h, e segue com programação até sexta-feira no Cine Brasília. Ao longo dos cinco dias, serão apresentados 12 filmes, entre eles quatro longas-metragens e oito curtas, que concorrem ao prêmio a R$ 150 mil em 13 categorias.

A estreia da mostra será hoje, a partir das 18h, com a exibição do curta-metragem Escola sem sentido, de Thiago Foresti. A produção retrata a história de Chicão, um professor que acaba sendo repreendido depois que uma estudante filma uma de suas aulas. Acusado de doutrinação ideológica, ele vai perdendo a motivação. Ao mesmo tempo, uma mulher misteriosa faz reflexões sobre a situação de Chicão.

A ideia do filme veio no ano passado durante o período das eleições. ;Escrevi esse roteiro e mandei para algumas pessoas, que se animaram bastante para fazer. Fizemos uma campanha de financiamento coletivo, em que arrecadamos R$ 7 mil, que serviu para custear parte da produção. Mas o restante foi algo bem voluntário. Esse filme é o resultado dessa inquietação;, revela o diretor.

;Quando fazemos um filme, o que mais queremos é que as pessoas assistam, ao mesmo tempo temos noção da importância dele para a arte no momento atual. Ficamos felizes que ele tenha oportunidade de circular no festival;, avalia Foresti.

Logo após a tela do Cine Brasília exibe Mãe, longa da diretora Adriana Vasconcelos. Como o título dá a entender, a obra fala pela história de quatro mulheres e como cada uma delas lida com a maternidade. ;Tem uma tragédia, um drama que envolve essa relaçã. É um filme sobre relacionamento de verdade, que nasceu da ideia de questionar a maternidade e essa visão muito romantizada, partindo do princípio de que nem toda mulher tem que ser mãe, muitas nem deveriam ter sido;, adianta a cineasta.

A fita, que teve filmagens em presídio no Gama e em hospital em Taguatinga, é protagonizada por Ana Cecília Costa (Órfãos da Terra), Sura Berditchevsky (Barriga de aluguel) e Lisa Eiras (Malhação) e ainda tem Carmem Manfredini, irmã de Renato Russo, estreando como atriz coadjuvante na produção. ;Mãe é um roteiro original, fruto de um prêmio promovido pelo Ministério da Cultura para roteiristas iniciantes. Tive ainda o Fundo de Apoio à Cultura (FAC) e complementei com verbas da Condecine (Contribuição para Desenvolvimento da Indústria). É um filme fruto de fomentos;, explica.

Mulheres em voga
A maternidade é, de certa forma, outra temática da segunda noite da Mostra Brasília BRB Cinema. O assunto é um dos temas abordados no curta que abre a noite, Encanto feminino, de Fabíola de Andrade. O filme mostra a relação da ancestralidade na vida de uma família composta por mulheres e encabeçada por uma avó que compartilha com a neta a importância da figura feminina numa sociedade patriarcal e machista, para isso se utiliza dos mitos e das deusas cultuadas no candomblé.

A produção nasceu do trabalho de conclusão da disciplina Etnologia visual da imagem do negro no cinema na Universidade de Brasília ministrada por Edileuza Penha Souza. Tem roteiro, direção e até atuações de Fabíola de Andrade, com fotografia e edição de Leonardo Monteiro. ;Eu queria fazer um curta falando da importância das mulheres e do papel que elas desempenham na sociedade, principalmente as mulheres negras. É um filme que fala de ancestralidade, identidade, orgulho;, explica Fabíola.

A obra foi toda concebida sem financiamento público e é majoritariamente composta por mulheres. ;Tirei do meu bolso, porque eu achava importante contar uma história que também é a minha, de uma mãe solo, uma mulher do candomblé, universitária, de Ceilândia. Coloquei protagonistas negras de pele retinta exatamente pela representatividade;, completa.

A noite de amanhã se encerra com a exibição do longa Dulcina, de Glória Teixeira. O filme começou a ser pensado e produzido há mais de 10 anos, quando a diretora estudava na Faculdade Dulcina, no Conic, sendo finalizado no ano passado. A montagem mistura linguagens, com depoimentos de pessoas que conviveram com Dulcina de Moraes, imagens de arquivo da atriz e ainda algumas encenações feitas por seis atrizes, entre elas a própria diretora: Bidô Galvão, Carmem Moretzhon, Françoise Forton, Iara Pietricovsky e Theresa Amayo.

;Costumo dizer que quando comecei a fazer o filme, eu pensava em homenagear a mulher, essa grande mestra que eu, inclusive, conheci e admirava muito. Mas quando comecei a entrevistar todas essas pessoas, vi que estava indo além, estava falando do teatro brasileiro. Percebi que estava com uma história do Brasil forte em mãos. Não entendo como até hoje não havíamos falado sobre Dulcina, essa mulher tão corajosa;, afirma.




Mostra Brasília BRB de Cinema
Cine Brasília (106/107 Sul). Hoje, às 18h. Exibição do curta Escola sem sentido, de Thiago Foresti (2019, ficção, 15 minutos; livre), e do longa Mãe (2018, ficção, 82 minutos; 16 anos), de Adriana Vasconcelos. Entrada gratuita. Amanhã, às 18h. Exibição do curta Encanto feminino (2019, ficção, 8 minutos; livre), de Fabíola de Andrade, e do longa Dulcina (2019, documentário, 94 minutos; livre), de Glória Teixeira. Entrada gratuita.




; Três perguntas // Françoise Forton

Como veio o convite para participar do filme Dulcina?
Estou sabendo do filme há mais de 10 anos, assim que a Glória decidiu fazer. Achei mais do que justo e do que necessário, imprescindível. Dulcina é uma grande escola, tanto na maneira de fazer de teatro quanto na história dela. Acho que esse filme é um grande reconhecimento do valor dela para nossa história.

Você conheceu Dulcina de Moraes. Como foi a relação de vocês?
Eu a conheci ainda pequena, antes de ir para Brasília e de existir a Faculdade Dulcina de Moraes. Fui da primeira turma dela. A Dulcina foi uma das grandes batalhadoras incansáveis pelo respeito e reconhecimento da nossa profissão. Ela foi muito mais do que uma atriz, uma grande cidadã, uma grande artista, a dama do nosso teatro.

Para você, qual é a importância de uma obra como essa?
É de absoluta importância. Eu queria que esse filme fosse visto por todos, principalmente pelos mais jovens, para eles verem como a arte acontecia antes mesmo de toda essa tecnologia. A gente não pode esquecer a nossa história, e o Brasil é um país em que não temos memória, principalmente artística. Tudo ficou muito efêmero. Tem toda uma geração que pode não saber quem é Dulcina e é absolutamente importante que eles saibam.





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