Lucas Batista*
postado em 25/11/2019 10:55
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O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro segue a todo o vapor com programação durante toda a semana. Além das mostras principais, como a Competitiva e a Brasília BRB de Cinema, a 52; edição segue o exemplo de grandes festivais como Cannes, Berlim e Veneza, realizando assim, Mostras Paralelas.
Dentro dessas mostras estão filmes que não conseguiram se destacar a ponto de participarem das competitivas, mas que têm potencial que os credenciam a ser exibidos no maior festival do cinema brasileiro. As produções selecionadas contam, de forma audiovisual, a realidade do país, tendo como foco questões que estimulam o debate sobre a realidade e o futuro do cinema nacional e a sociedade brasileira.
Vozes
Com forte cunho social, essa mostra busca dar maior visibilidade a documentários que relatam histórias de pessoas que se esforçam para terem suas vozes ouvidas. Devido a questões como racismo, machismo, desigualdade socioeconômica, homofobia, transfobia e toda forma de preconceito, essas narrativas acabam invisibilizadas em produções culturais ou até no dia a dia da sociedade.
;Ainda existe muito preconceito no Brasil e isso é uma forma de desmistificar alguns assuntos;, conta a diretora Tetê Moraes, do filme Família de Axé, que documenta uma história de afeto, amor e religiosidade de uma família dentro do candomblé.
Para registrar o Família de Axé, Tetê dedicou três anos de idas e vindas do Rio de Janeiro a Salvador para realizar as filmagens das festas características da religião, bem como o cotidiano da família e os rituais religiosos. ;É uma história estimulante para as pessoas em geral, mostra a união de uma família, uma comunidade, é uma história positiva e de resgate. O filme é bonito, colorido, alegre, com muita dança e comida;, explica a autora.
A estreia pública do longa será no Festival de Brasília nesta segunda-feira (25/11), no Cine Brasília, às 16h, com entrada franca. Além do Família de Axé, também serão exibidos na Vozes os documentários: Maria Luiza, do brasiliense Marcelo Díaz; Batalha, do paulistano Cristiano Burlan; e Cine Marrocos, filme pré-selecionado ao Oscar, do também paulista Ricard Calil.
Guerrilha
;Quando um filme carece de recursos e de tempo para ser realizado, mas, mesmo assim, a equipe se esforça para que aconteça apesar de tudo, fazendo na raça e coragem, ele pode ser chamado de Cinema de Guerrilha;. Assim o diretor do longa Hopekillers, Thiago Moyses, selecionado pela mostra, descreve a categoria.
Tendo como enredo principal uma história sobre vampiros, a produção denúncia preconceitos de classes ricas do Brasil, de forma fantástica e falada em inglês. ;O filme tem uma aparência rústica, suja, uma alma bem brasileira. Na alegoria, criamos um universo inteiro, com variados tipos de vampiros, cada um representando arquétipos sociais das elites e opressores brasileiros;, descreve Thiago.
Com recursos escassos e elenco reduzido, a equipe de Hopekillers passou por alguns desafios durante a realização do longa. ;O filme foi rodado em apenas nove dias. Uma das dificuldades foi uma reação alérgica da atriz Karine Barros, uma das protagonistas, que a levou para o hospital. Ela foi proibida de trabalhar por três dias, que eram 33% das filmagens. Por causa disso, foi preciso um dia de 24 horas sem parar para cumprirmos o prazo. No cinema de guerrilha, o prazo é lei, se não terminar, não tem filme;, relata.
Mesmo assim, o longa foi reconhecido e recompensado com a seleção para o festival. Ao seu lado, vão os filmes de ficção O espiral de contos de Deolindo Flores, dos diretores Rodrigo Araújo e Thiago Soares e Incursão, dos paraibanos Eduardo Moreira e Silvio Toledo.
Novos Realizadores
Mostrar ao público cinéfilos de potencial que podem tomar as rédeas do audiovisual brasileiro no futuro. A Novos Realizadores vem com esse foco para o Festival de Brasília, mesmo assim, as produções escolhidas não são amadoras ou menos qualificadas, pelo contrário, trazem linguagens coesas que podem dar destaque a esses diretores.
;É um recorte saudável porque colocam filmes que não cabem na mostra principal, mas que a curadoria enxerga um valor artístico. Estão buscando uma determinada linguagem promissora. Ainda bem que me olharam e identificaram isso;, esclarece o paulista Rafael Gomes, diretor de Música para não morrer de amor, um dos selecionados para a mostra.
O longa é uma adaptação da peça de mesmo nome, escrita pelo próprio Rafael há dez anos. ;Um filme de sentimento, fala sobre três jovens vivendo em uma cidade grande, em momentos diferentes no amor. Um personagem de coração partido, outro muito apaixonado e o terceiro muito perdido;, conta o autor.
O elenco conta com artistas conhecidos como Ícaro Silva e Denise Fraga, e a relação de Rafael com o festival não é de hoje. ;Fui a Brasília como primeira coisa que fiz durante a faculdade. Um curta em 16 milímetros. Tenho essa relação com o festival, acompanho e estou sempre conectado, porque tem um papel importante na nossa cultura;, relembra o autor do filme que será exibido nesta quinta-feira (28/11), às 15h, também no Cine Brasília.
Ao lado da produção, também foram selecionados Rodantes, do mineiro Leandro Lara; A colmeia, de Gilson Vargas, do Rio Grande do Sul; e Um filme de verão, do carioca Jo Serfaty. Outras mostras paralelas disponíveis no festival são: Território Brasil, Futuro Brasil e Séries.
Confira a programação completa no link.
*Estagiário sob a supervisão de Roberta Pinheiro