Diversão e Arte

''É preciso recuperar o senso mínimo de pluralidade'', diz Francisco Bosco

Protesto político marca a quarta noite do Festival: diretores lembraram a importância das políticas públicas para cultura

Nahima Maciel , Adriana Izel
postado em 26/11/2019 22:44
[FOTO1]A quarta noite da mostra competitiva do 52 Festival de Brasília do Cinema Brasileiro começou com discurso político sobre a democracia brasileira e tônica de protesto.

A equipe de Parabéns a você, curta paranaense de Andréia Kaláboa, falou sobre importância do Fundo Setorial do Audiovisual, fomento usado na produção.

O curta gira em torno de Yúlia, uma menina que sonha com a festa de aniversário, mas tem o desejo colocado em xeque com a morte do tio. A fita foi gravada em Prudentópolis com um elenco de não atores de uma comunidade com ascendência ucraniana. "Esse festival expressa a diversidade brasileira, esse Brasil que também é estrangeiro", destacou a cineasta.

Os diretores da ficção científica baiana Pelano!, Christina Mariani e Calebe Lopes, anunciaram que o curta tratava, de certa forma, da censura. "Esse é um filme sobre censura, algo que não podemos naturalizar, nem repetir", afirmou Calebe.

Criado como trabalho de uma matéria da Universidade Federal da Bahia, o filme aparece para subverter o conceito de "balbúrdia nas universidades". "É muito importante estar representando a cultura baiana. Esse filme é fruto de matéria da universidade, que não é lugar de balbúrdia, mas de conhecimento", classificou Christina, antes da exibição. No curta baiano, a questão do aquecimento climático serve de base para uma ficção científica que imagina um mundo superaquecido no qual as pessoas entram em combustão espontânea de tanto calor.
O documentário O mês que não terminou, de Francisco Bosco e Raul Mourão, explora os eventos que levaram às manifestações de junho de 2013 para analisá-los como ponto de partida para o resultado das eleições de 2018. ;É impossível, para mim, não falar que é um momento especial estar apresentando esse filme porque já estive na gestão pública a convite de Juca Ferreira quando era ministro da Cultura;, disse Francisco Bosco ao subir ao palco do Cine brasilia pra falar sobre o longa na noite desta terça (26/11). O filósofo e cineasta foi presidente da Funarte em 2015.

O diretor contou que, na primeira vez que entrou no ministério da cultura, conheceu o índio Álvaro Tukano, de quem, mais tarde, ficaria amigo. Bosco lembrou da história para pedir que o Brasil voltasse a ter uma sociedade mais plural. ;O que a gente vê hoje é um governo que fala em nome de um suposto verdadeiro povo. É preciso recuperar o senso mínimo de pluralidade social, racial, de gênero", disse o diretor. ;Nosso filme parte da premissa de que tudo que aconteceu no Brasil nos últimos seis anos teve sua origem em junho de 2013. Queremos tentar entender um movimento cujo único propósito era o de aprofundar a democracia brasileira e ver por que tomou um devir conservador. Aliás, chamar Bolsonaro de conservador é uma desonra com o pensamento conservador.;

Narrado por Fernanda Torres e com entrevistas como filósofo Marcos Nobre, com o economista Samuel Pessoa e com personalidades como Maria Rita Khel, Pablo Capillé, Pablo Ortellado e Reynaldo Azevedo, o longa traz imagens das manifestações, fotografias e uma análise política e social do significado de junho de 2013. Além disso, o filme é permeado por imagens de obras de artistas plásticos contemporâneos como Nuno Ramos, Cao Guimarães e Lenora de Barros. Em vários momentos da apresentçaão, a plateia se manifestou, apalaudindo ou vaiando as personalidades que apareciam na tela, como o ministro Sérgio Moro, a ex-presidente Dilma Rousseff e o atual presidente, Jair Bolsonaro.

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