Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Mostra Brasília apresenta um panorama da cena audiovisual brasiliense

Iniciada na última segunda-feira, a Mostra Brasília BRB de Cinema segue levantando debates atuais na telona

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Desde segunda-feira (25/11), o horário das 18h no Cine Brasília (106/107 Sul) é dedicado à Mostra Brasília BRB de Cinema, uma seleção de curtas e longas-metragens produzidos no Distrito Federal que, de certa forma, fazem um panorama do cinema candango. Até agora, já foram exibidos dois curtas ; Escola sem sentido e Encanto feminino ; e dois longas ; Mãe e Dulcina. Desta quarta-feira (27/11) até sexta-feira (29/11), serão transmitidos na tela mais dois longas e seis curtas brasilienses.

Diferentemente dos outros dois dias, a Mostra Brasília terá na noite desta quarta-feira a exibição de apenas um longa. É Mito e música ; A mensagem de Fernando, de Rama Oliveira e André Luiz Oliveira, que aborda aspectos polêmicos que envolvem o livro Mensagem, obra com 44 poemas escritos em vida por Fernando Pessoa. Já na sexta-feira, o escolhido é o longa-metragem Ainda temos a imensidão da noite, de Gustavo Galvão. O filme, que chega ao circuito comercial na próxima semana, acompanha Karen (Ayla Gresta), uma musicista de Brasília que busca entender seu papel na arte.

[SAIBAMAIS];Era uma ideia antiga fazer um filme sobre música. Eu tinha essa vontade de prestar uma homenagem a quem faz esse trabalho, e nem sempre é reconhecido;, explica. Os primeiros passos do filme foram em 2011, até por isso, a versão final passou por diversas mudanças e ganhou até assuntos atuais, como a discussão da chamada Lei do Silêncio. ;A gente foi incorporando ao projeto várias situações e relatos que ouvimos de música. Por exemplo, o caso de três jovens que foram presos em Brasília porque tocavam um violão numa quadra. A gente tinha desde o começo essa ideia de entender como a cidade encara quem faz música;, revela Gustavo Galvão.

Sob essa perspectiva, Ainda temos a imensidão da noite também é uma história sobre Brasília. ;É um tema muito forte para mim, porque encaro Brasília não só como uma cidade, mas como um projeto que não deu certo. Só que a gente ainda tem tempo de reescrever essa história que está em construção. É uma cidade com um potencial para ser um polo cultural, mas para que isso se consolide, a gente precisar rever algumas coisas;, avalia o diretor. A produção teve patrocínio do Fundo Setorial do Audiovisual.


Produção de curtas


O cineasta Fáuston da Silva é um dos diretores contemplados com uma produção na mostra. Ele é o diretor do curta A terra em que pisar, que será exibido na programação de quinta-feira e foi financiado com Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Protagonizada por Márcia Costa, a fita acompanha a história de Joana, uma mulher que decide participar de uma ocupação irregular. Dentro desse espaço, ela começa a ter acesso a uma formação política. ;As ocupações irregulares em área urbana são muito comuns no DF. É um tema pouco explorado na ficção, apesar de bem explorado nos documentários. É uma das temáticas que mais afeta a população;, explica.

A história é inspirada numa coletânea de vivências reais e parte do ponto de vista dessa população. O curta foi gravado em uma ocupação real localizada na Estrutural, que depois acabou sendo derrubada pelo governo.

Assim, ele chegou até a história dessa mulher, que chefia uma família, entra nessa ocupação e começa a crescer intelectualmente. ;Ela vai se empoderando. A minha intenção era fazer uma personagem da qual as pessoas não sentissem pena. Quero que as pessoas pensem na esperança que vem pelo intelecto, pela afirmação, pelo desenvolvimento;, completa.
No mesmo dia, mais cinco curtas chegam à tela do Cine Brasília. #SOMOSAMAZONIA, de João Inácio, é um deles, que será exibido no festival na mesma data em que outro trabalho do diretor poderá ser visto na mostra competitiva de curtas, Chico Mendes ; Um legado a defender. Os dois filmes documentais são uma realização da WWF Brasil. No curta da Mostra Brasília, João Inácio parte de um questionamento popular ;o Acre existe mesmo?;. ;O filme gira em torno de uma pergunta que criei dessa piadinha horrível. O questionamento mais adequado é ;como o Acre resiste?; em uma realidade de invasores, garimpeiros... O filme é sobre essas dificuldades do ponto de vista de quatro personagens;, conta.

A exibição de quinta tem, ainda, a animação Claudia e o Crocodilo, de Raquel Piantino, sobre essa mulher que vive em um bairro sossegado com seu animal de estimação; Ambulatório, de Júlia de Lannoy, um documentário que aborda o primeiro Ambulatório de Atenção Especializada às Pessoas Travestis e Transexuais do DF; Luis Humberto ; O olhar possível, de Mariana Costa e Rafael Lobo, trama sobre a vida e o trabalho do fotógrafo; e O véu de Amani, de Renata Diniz, história de uma garota paquistanesa que mora no Brasil e enfrenta as diferenças culturais.

Também financiado pelo FAC, O véu de Amani nasceu de outro projeto de Renata Diniz: uma série sobre as crianças refugiadas no Brasil, que, em cada capítulo, mostra o processo de adaptação. ;Peguei uma das histórias e transformei em curta. É a história de uma menina muçulmana que ganha um biquíni de presente da vizinha Maria, uma menina católica. Tem esse conflito de cultura, de religião. É um ponto de vista infantil, um olhar sutil da criança, mas que também atinge os adultos;, analisa.


Serviço
Mostra Brasília BRB de Cinema
Cine Brasília (106/107 Sul). Quarta-feira (27/11), às 18h. Com exibição de Mito e música ; A mensagem de Fernando, de Rama Oliveira e André Luiz Oliveira (documentário, 96 min; 12 anos). Quinta-feira (28/11), às 18h. Com exibição de Claudia e o Crocodilo, de Raquel Piantino (animação, 10 min; livre); #SOMOSAMAZONIA, de João Inácio (documentário, 12 min; livre); Ambulatório, de Júlia de Lannoy (documentário, 21 min; livre); A terra em que pisar, de Fáuston da Silva (ficção, 25 min; livre); Luis Humberto ; O olhar possível, de Mariana Costa e Rafael Lobo (documentário, 20 min; livre); e O véu de Amani, de Renata Diniz (ficção, 15 min; livre). Sexta-feira (29/11), às 18h. Com exibição de Ainda temos a imensidão da noite, de Gustavo Galvão (ficção, 98 min; 16 anos). Entrada gratuita.

*Todos os filmes da Mostra Brasília BRB do Cinema também são exibidos no Complexo Cultural de Planaltina, no IFB Recanto das Emas e no Complexo Cultural de Samambaia.