Diversão e Arte

Incertezas no audiovisual são tema do MAX %u2014 Minas Gerais Audiovisual Expo

Políticas para o setor e atual estado da produção norteiam debates do evento

Adriana Izel - Enviada especial
postado em 30/11/2019 06:30
[FOTO1]Belo Horizonte ; O ano de 2019 tem sido marcado por muitas polêmicas envolvendo o mercado do audiovisual no Brasil. Anúncios como o do presidente Jair Bolsonaro, que ameaçou extinguir a Ancine ; Agência Nacional do Cinema criada em 2001 para regular e fiscalizar a indústria cinematográfica ; , e a paralisação e transferência do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) ; existente desde 2006 para fomentar a produção brasileira ;, têm preocupado a categoria e norteado diversos debates.
A quarta edição do evento MAX 2019 ; Minas Gerais Audiovisual Expo, realizado em Belo Horizonte, dedicou parte da programação do primeiro dia a essa discussão. A feira, que tem rodadas de negócios, painéis, oficinas e pitchings, viu o tema aparecer na maioria dos painéis do auditório principal, com destaque para o debate ocorrido na mesa intitulada Os desafios do audiovisual hoje, mediada por Jussara Locatelli (Realiza Vídeos) e com a presença de Debora Ivanov, advogada e produtora, Diane Maia (Mar Filmes) e Yla Gomes (API ; Associação das Produtoras Independentes).
Na ocasião, as quatro mulheres falaram sobre os problemas sofridos pelo audiovisual. Jussara apontou quatro grandes questões: o fim do Ministério da Cultura e da possível extinção da Ancine; a prestação de contas; a regulação do VOD (vídeo on demand); e a censura que algumas obras têm sofrido. Para as quatro, o que se tem visto nos dias de hoje é um retrocesso das conquistas iniciadas em 1993 com a aprovação da Lei do [FOTO1]Audiovisual, e depois a criação da Ancine e da Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional), que gera a renda do FSA, além da Lei da TV Paga e do Recine, regime de tributação, voltado à expansão e à modernização do parque cinematográfico brasileiro.
Para se ter um exemplo, com ajuda de fomentos como Fundo Setorial do Audiovisual o Brasil lançou, no ano passado, 171 obras, o maior número desde 2002, apesar de pequeno se comparado com Argentina (200), França (300) e Estados Unidos/Canadá (821). Com o fundo, que tem mais de R$ 700 milhões parados em 2019, a classe se preocupa com os lançamentos de 2020. A não publicação da cota de tela, que garante a vaga da produção nacional nas salas de cinema, foi outro problema destacado. ;Não podemos ser apenas mercado e consumidor. Temos que ser prestadores de serviço e, para isso, precisamos de recursos;, avalia Debora Ivanov.
;O desenvolvimento do audiovisual não é política de governo, é de Estado. Então tem que continuar. A gente não pode perder as conquistas;, afirma Yla Gomes. Para ela, algumas questões precisam ser levantadas antes que emperrem o cenário, como a renovação da lei do audiovisual, para captação de recursos, e do Recine; defesa da alteração da Lei da TV Paga; regulação do FSA e do VOD. Atualmente, existem dois projetos de lei em tramitação sobre alguns desses temas: PL 55/2018, do senador Humberto Costa, sobre a comunicação audiovisual sob demanda e Condecine, e PL 8880/2017, do deputado Paulo Teixeira, também sobre o conteúdo audiovisual sob demanda.
Durante a mesa, as produtoras fizeram questão de apontar a relevância do audiovisual para o Brasil. O cenário corresponde a 0,46% do PIB, maior que as indústrias farmacêuticas e têxtil, além de ter gerado, no último ano, 300 mil empregos diretos e indiretos. ;Antes, em eventos como esse, a gente falava de cinema. Agora a gente fala de políticas públicas, por conta dessa crise no cinema atual. Mas uma vitória para o setor tem sido a gente poder mostrar como funciona;, analisa Diane.

*A repórter viajou a convite da MAX 2019


Políticas para o setor e atual estado da produção norteiam debates do evento
Netflix estabelecida no Brasil
A MAX 2019 foi aberta com o painel Conversa com a Netflix, com a presença da diretora de produções internacionais da Netflix no Brasil, Maria Angela de Jesus. Com exclusividade ao Correio, a executiva do serviço on-demand falou sobre a estratégia da plataforma no mercado brasileiro. Confira os principais pontos do bate-papo!

Ponto a ponto // Maria Angela de Jesus


Olhar diferenciado
A gente sempre comenta que o bom de participar desses eventos é trazer visões e outros olhares do país. É assim que a gente encontra histórias autênticas e que possam fazer diferença dentro do nosso serviço. É tão importante olhar para fora do eixo Rio-São Paulo e identificar histórias que comuniquem, conversem e criem uma relação com nossos assinantes, que também estão presentes no país inteiro. Essas histórias podem criar engajamento emocional com o público. Sempre dou como exemplo a série Sintonia, que traz uma história forte e potente da Zona Leste de São Paulo, que chamou muita atenção do nosso público.

Descentralização
O que a gente tenta fazer é trazer essa diversidade de olhares, de histórias. É tão importante você trazer a produção da Espanha, que tem ido super bem no Brasil. Nós tivemos Dark da Alemanha, que a gente sabe que não chega fortemente a outros territórios. A nossa série The rain, da Dinamarca, é outra produção rica, com alto valor. Esse conceito da Netflix é muito rico, de estar aberto e ser uma janela para o mundo. É assim que a gente traz diversidade para dentro do serviço. No Brasil tivemos uma experiência muito rica com O escolhido, que foi gravado no Tocantins. Você já traz uma paisagem, um olhar e uma realidade diferente. No caso de Irmandade, tiveram filmagens em Curitiba, e em 3%, em Inhotim (MG). São maneiras de impulsionar esses centros de produção. A nossa meta principal é mostrar esse nosso país imenso.

Balanço do ano
É curioso a gente olhar para esse ano e ver como foi rico. Fizemos lançamentos grandes: Coisa mais linda, Irmandade, Sintonia e, agora, Ninguém tá olhando. Tivemos terceira temporada de 3%, a segunda de Samantha!, e O escolhido. Quando a gente olha são conteúdos muito diversos entre si e que estão conversando com a nossa audiência. Isso faz parte de todo o trabalho que a gente vem fazendo, isso não acontece do dia para a noite. Manter essa consistência de produção é o que está alavancando dentro da Netflix, e a gente tem certeza de que o ano que vem vai ser ainda mais rico, porque abrimos essa linha de conversa com o público, de que os conteúdos brasileiros são de qualidade.

Mercado
Temos um time local. A gente recebe criadores, produtores e escritores para apresentar projetos. Um bom conteúdo pode vir de qualquer parte. A gente tem que estar aberto e prestando atenção na produção cultural como um todo no Brasil. Esse projeto chegando, a gente vai procurar dar a ele todos os instrumentos para ser construído. O Pedro Aguilera nos procurou para fazer o 3%. Mas temos caso como Irmandade, em que nós propusemos o tema para a equipe da O2 Filmes e eles criaram o projeto e nos trouxeram. É justamente por isso que a gente participa de eventos como o MAX e o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Diversidade
Nosso público é imenso, temos consumidores dos mais diversos lugares do país. É essa diversidade que faz esses produtos dialogarem com o público. As mulheres estão aí, acho que abrir esse espaço de maneira genuína e real faz uma tremenda diferença, seja para gênero, raça, sexo, seja para o que for. A gente precisa ter essa comunicação, mas de uma forma que sai do papel e seja efetiva. Temos iniciativas dentro da Netflix abrindo espaço para jovens vindos da periferia. Tivemos experiências dentro do 3% com jovens trabalhando dentro da produção, remunerados corretamente. Estamos abrindo muito isso. Nós sempre puxamos os nossos produtores a terem mulheres não só na frente, mas atrás das câmeras, assim como negros. É essa diversidade de olhar que vai fazer a diferença. Trazer essa sensibilidade de olhares é o que enriquece.

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