Diversão e Arte

Empoderamento feminino marca estreia da semana com Jennifer Lopez

'As golpistas' traz temas como empoderamento feminino e vingança

Ricardo Daehn
postado em 05/12/2019 06:30
[FOTO1]Não é necessariamente pela associação com a música que a diretora e roteirista de cinema, atuante numa banda chamada The Shortcoats, Lorene Scafaria ; por trás de filmes como Procura-se um amigo para o fim do mundo e Nick e Norah: Uma noite de amor e música ; ficou conhecida. Aos 41 anos, Lorene, para muitos, impulsionou uma das melhores interpretações da veterana Susan Sarandon, em A intrometida (2015). Quem já assistiu ao mais recente filme dela, As golpistas, que estreia hoje, tem como certa a indicação para prêmios importantes de uma das protagonistas: a cantora e dançarina de sangue hispânico Jennifer Lopez. Vista em filmes de pouca repercussão como O garoto da casa ao lado e Encontro de amor, Lopez fez muito barulho no Festival Internacional de Cinema de Toronto, em meados de setembro.
Ganância e empatia são duas qualidades representadas pela estrela Lopez, neste novo filme da diretora Lorene Scafaria. Suspense e ternura alimentam a cadeia de vinganças orquestradas por Ramona, a personagem de Lopez no longa-metragem. Baseado na reportagem The hustlers at scores (publicada pela New York Magazine), o filme trata de um acerto de contas. Uso de drogas, extorsões via cartões de crédito e malabarismos sexuais, em canos de pole dance e inferninhos de boates, tomam a cena. Ainda que As golpistas alinhe na trilha músicas de Janet Jackson, 50 Cent e Britney Spears, a ilusão radiante das extravagâncias de noitadas maldormidas é que estão em foco no roteiro.
Elogiada por revistas como a Vanity Fair, Jennifer Lopez, na verdade, é coadjuvante de peso em As golpistas. O miolo do filme está na revisão de valores feita por strippers novaiorquinas unidas contra malfeitores de seus passados. Enquanto rodopio de dólares e desequilíbrio monetário decorrente da crise de Wall Street, em 2008, faziam a festa, Mercedes (Keke Palmer), Annabelle (Lili Reinhart, atriz de Riverdale), Liz (a rapper Lizzo) e Diamond (Cardi B), depois de sucesso com cifras estratosféricas junto à chamada ;vida fácil;, reveem as condições e os desgastes psíquicos da exploração sexual. Na narrativa, Destiny (Constance Wu, atriz de Podres de ricos), uma das arrependidas da trama, relata episódios de vida para a repórter Elizabeth (Julia Stiles).
Ao custo de U$ 20 milhões e com 30 dias de filmagens, As golpistas deriva do texto da reportagem de Jessica Pressler. Nele é possível entender a rede de traficantes e de prostituição que, por exemplo, intermedeia a renda extra para a garota Rosie, que abandona a escola, a fim de ser empregada num restaurante repleto de extenuantes jornadas. A associação com ;cavalheiros; de escritórios da vizinhança (e a hipnotizante grana decorrente) se dá a partir de gorjetas e de insinuações que, futuramente, num revide das moças, vai ocasionar uma pilha de roubos, nos quais os homens assumem prejuízos, ao serem dopados pelas antigas amantes.


'As golpistas': Jennifer Lopez em plano audacioso contra antiga clientela de prostituição

Três perguntas // Andrucha Waddington


Nos bastidores do set do longa O juízo (que estreia hoje), os encontros entre parentes foram múltiplos entre o diretor Andrucha Waddington e muitos de seus familiares: Fernanda Torres (assumiu o roteiro), Fernanda Montenegro fez participação especial, enquanto o filho dele, Joaquim Torres Waddington, foi dos protagonistas. ;Costumo brincar que nós somos uma família de circo. Como exercemos o mesmo ofício é natural que, às vezes, os caminhos se encontrem; no caso de O juízo foi um encontro bem feliz;, avalia. Laços de sangue e relações familiares ; com situações que se estendem a heranças indesejadas ; são alguns dos elementos do novo filme de Waddington. No elenco, o filme tem ainda Lima Duarte, Felipe Camargo e Criolo. (RD)

Seu filme pode ser visto como terror? Como tornou a trama verossímil?

O juízo é filme de suspense sobrenatural, que utiliza pouco recursos de sangue e susto, e utiliza mais os recursos do clima e do drama. O maior desafio na escolha desse viés de condução narrativo foi prender o espectador e trazer o medo de uma outra forma.

Como vê as estruturas do audiovisual hoje no país? Há esperança?

O audiovisual encontra-se hoje em uma fase de colheita de uma safra dos últimos dois anos de produção bem plural, mas com os mecanismos de incentivo à cultura de alguma maneira travados e incertos. Então é muito difícil saber como a gente vai seguir de agora em diante, mas o nosso ofício como produtores e realizadores é lutar para obter uma diversidade em nossa produção acima de tudo. Eu vejo também a entrada do streaming como produtor de conteúdo nacional como uma outra vertente que pode ajudar a equilibrar o mercado.

O filme remexe em estruturas do patriarcado, mas com protagonista frágil. Há contribuições para quebra de estigmas sociais? O que colheu da capacidade cênica do Criolo?

Quanto a estigmas sociais, O juízo aborda a questão da escravidão, algo absolutamente inadmissível. O personagem do Couraça, interpretado pelo Criolo, e sua filha, interpretada pela Kênia Bárbara, trazem à tela esse homem escravizado que está fugindo em busca de liberdade com sua filha, mas ele é assassinado e é parado no tempo. Ele vem cobrar uma dívida e uma reparação, mas é uma questão irreparável. Acho que a síntese de tudo é mostrar a busca dessa reparação que é irreparável. Quanto ao Criolo, é um ator espetacular, além de ser um intérprete, um cantor de magnitude gigante. Ele trouxe uma profundidade para o personagem do Couraça, camadas de delicadeza dentro de uma questão tão profunda. Eu só tenho a agradecer por esse parceiro e amigo que ganhei.


Outras estreias

[FOTO3]
Brooklyn ; Sem pai nem mãe
De Edward Norton. Com Alec Baldwin e Edward Norton. Detetive com síndrome de Tourette investiga o vago assassinato de amigo.
Dois papas
De Fernando Meirelles. Com Anthony Hopkins e Jonathan Pryce. Posturas ideológicas do papa Bento XVI deixam o cardeal argentino Bergoglio às vias de pedir a aposentadoria.


Feliz aniversário
De Cédric Kahn. Com Catherine Deneuve e Emmanuelle Bercot. Visita inesperada chega à celebração dos 70 anos de uma matriarca.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação