Diversão e Arte

Entrevista / Moraes Moreira

Cantor e compositor baiano celebra 50 anos de carreira com show acústico hoje e amnhã no Espaço Cultural do Choro

postado em 05/12/2019 04:18
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"Vejo que construí uma obra"
Um dos pilares de Os Novos Baianos, criador de incontáveis sucessos, inclusive frevos que embalaram o carnaval de Salvador na década de 1980, Antônio Carlos Moraes Pires, ou melhor Moraes Moreira, baiano de Ituaçú, portal da Chapada Diamantina, está comemorando cinco décadas de vitoriosa carreira.

Do começo até agora são 45 discos e mais de 500 músicas gravadas. Autor dos livros Poeta não tem idade (2012) e A História dos Novos Baianos e Outros versos (2008), Moraes ocupa a cadeira n; 38 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. A sua faceta de intérprete poderá ser apreciada em breve no recital Elogio à inveja, em que revisita clássicos da obra de mestres da MPB tradicional como Noel Rosa, Braguinha, Ary Barroso, Erivelto Martins e Luiz Gonzaga e dos contemporâneos Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Roberto Carlos.

Mas, ao retornar a Brasília ; onde esteve em novembro, para homenagear João Gilberto no Festival Transcendência, no Centro Cultural Banco do Brasil ; o cantor e compositor faz show de voz e violão intitulado 50 Anos de Música hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro. Nessas apresentações ele mostra canções que foram marantes em sua trajetória, entre as quais Acabou chorare, Preta Pretinha, Bloco do prazer, Chame gente, Meninas do Brasil, Lá vem o Brasil descendo a ladeira, Forró do ABC e Sintonia.


50 Anos de Música
Show solo de Moraes Moreira hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.


O que você ouvia na infância e na adolescência em Ituaçu, portal da Chapada Diamantina?
O rádio e o alto-falante, fizeram a minha cabeça musical: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Núbia Lafayete, Nelson Gonçalves, uma infinidade de artistas que povoavam o meu imaginário, quando eu tinha 10, 12 anos de idade Esta foi a minha escola. Mais tarde chegaram Dorival Caymmi, os Tropicalistas além de muitos outros, que pertenceram a geração de ouro dos festivais.


O violão foi o seu primeiro instrumento?
Na verdade, o meu primeiro instrumento foi a sanfona de 12 baixos.


Como foram os primeiros tempos em Salvador?
Maravilhosos. A descoberta da cidade grande, o entrosamento com meio artístico e a grande oportunidade de ter conhecido Tom Zé, ter tido aulas de violão com ele, que me apresentou ao poeta Luiz Galvão. Juntos formamos o núcleo inicial dos Novos Baianos.


O que ocorreu depois disso?
Eu e Galvão começamos a compor sem parar. Íamos escrevendo na parede da pensão, o título das músicas. Em mais ou menos dois meses já tínhamos mais de 20 músicas prontas.


No É ferro na boneca, o LP de estreia, que músicas se destacaram?
De Vera, Curto de véu e grinalda e É ferro na boneca


O título do disco e da música vem do bordão utilizado pelo radialista França Teixeira, ou era o nome do programa que ele apresentava numa rádio de Salvador?
França Teixeira era um radialista muito louco que apresentava seu programa todo dia, ao meio-dia. Nós íamos sempre lá, para cantar e divulgar os eventos. Aí, usamos o bordão do programa como nome de uma música e título do disco de estreia.


Que acolhida teve o show O desembarque dos bichos depois do dilúvio universal, quando os Novos Baianos aportaram no Rio de Janeiro em 1972?
Magicamente, conseguimos um empresário e fizemos o show de estreia, no Teatro Teresa Rachel. praticamente só para os garotos e as garotas de Ipanema. Depois, o O desembarque dos bichos tornou-se um dos maiores sucessos do verão carioca em 1972.


Como foi a ocupação do apartamento de Botafogo?
Passamos a viver comunitariamente num apartamento de quatro cômodos.


Foi lá que João Gilberto fez a cabeça de vocês em relação ao samba?
Foi lá, sim, quando ele passou a nos visitar e chamou nossa atenção para a obra de compositores Ary Barroso, Assis Valente e Dorival Caymmi.


E o sítio Cantinho do Vovô era mesmo uma comunidade hippie?
Muitos o viam assim. Para nós, era a concentração de um time de futebol, jogando por música.


Cinco décadas depois qual sua visão de Acabou Chorare, visto pelos críticos musicais como disco mais importante da MPB?
É a nossa Bíblia. Qualquer dúvida recorremos a ele.


Você deixou o grupo depois do LP Novos Baianos F.C. Quais foram os motivos?
Vários, mas o principal foi a chegada dos filhos.


Antes de se lançar em carreira solo você foi o primeiro cantor de trio elétrico no carnaval de Salvador. Que importância teve isso no prosseguimento de sua trajetória artística?
Foi fundamental. Esse encontro com o Trio Elétrico de Dodô e Osmar nasceu a música Pombo correio, que virou sucesso nacional e contribuiu decisivamente para consolidar a minha carreira solo.


Qual é a sua visão da retomada dos Novos Baianos para comemorar os 50 anos do Acabou chorare?
Foi legal por ter matado a curiosidade de uns, e a saudade de outros.


Para você, como tem sido celebrar 50 anos de música?
Olho pra trás e vejo que trabalhei, construindo uma obra.


No show comemorativo, que fará no Clube do Choro, estará sozinho em cena?
Eu o meu violão, o companheiro de toda a vida


Depois de encarar de frente os anos de chumbo, na década de 1970, como vê os tempos de agora, enquanto artista e cidadão?
Pior que na época da ditadura.


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