Agência Estado
postado em 13/12/2019 06:20
Com bastante prestígio com o presidente Jair Bolsonaro, o secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, venceu mais uma queda de braço com um ministro do governo. Desta vez, conseguiu derrubar, em menos de 24 horas, uma indicação do titular do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), para o comando do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Antônio indicara a arquiteta Luciana Feres. O secretário já havia vencido uma batalha nos bastidores com Osmar Terra, da Cidadania.
Luciana Feres, nomeada na quarta-feira para o cargo, era uma indicação pessoal do ministro do Turismo, que desejava retirar das mãos de Alvim o comando sobre o setor de patrimônio, área que mexe com licenciamento de obras em todo o País.
No entanto, o nome desejado por Alvim para o cargo, Olav Schrader, defensor da monarquia, foi vetado em análises da Casa Civil por ser estrangeiro, segundo fontes do governo - oficialmente, o Palácio do Planalto não confirma o veto.
O secretário busca novo nome para o comando do Iphan dentro do rol de seguidores do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo. A ideia é que seja alguém ligado a área cultural.
A secretaria de Cultura está acomodada dentro do Ministério do Turismo. Em tese, Antônio é chefe de Alvim, mas o secretário tem livre acesso a Bolsonaro. O presidente já disse que ele tem "porteira fechada" para nomeação, ou seja, pode escolher quem bem entender.
Procurados, Cultura e Turismo não se manifestaram.
Menos de um dia no cargo. Ao deixar o Palácio do Planalto na terça-feira, 10, onde se reuniu com Jair Bolsonaro, Roberto Alvim disse que não havia decisão sobre o Iphan. O ministro do Turismo, no entanto, articulou para emplacar Feres, que foi nomeada no dia seguinte e, horas mais tarde, despedida em edição extra do Diário Oficial.
A arquiteta disse ao jornal O Estado de S. Paulo, após ser nomeada, defender uma conexão "abrangente" entre o patrimônio histórico cultural e o ambiente em que está inserido. "Tem de ter uma visão global, de parceria."
Ela substituiria Kátia Bogéa no comando do Iphan, que afirmou ao jornal ter sido pega de surpresa ao ser exonerada.
Luciana Feres esteve à frente da conquista de um dos mais recentes títulos alcançados pelo País na Unesco: o de Patrimônio Cultural da Humanidade, em 2016, para o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, idealizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e inaugurado em 1943.
Na capital mineira, ela foi coordenadora do Conjunto Arquitetônico da Pampulha e da Comissão Executiva do Programa de Declaração do Conjunto Moderno da Pampulha a Patrimônio Mundial pela Unesco, criado pela prefeitura na gestão de Marcio Lacerda, à época no PSB. Feres esteve nos cargos entre 2013 e 2016.
Além de Antônio, Alvim já teve disputas com o ministro da Cidadania, Osmar Terra (MDB), que resultou na transferência da Secretaria da Cultura ao Turismo. O secretário ocupava uma diretoria da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e entrou em conflito com Terra por causa de nomeações na equipe.
Na terça-feira, 10, o secretário de Cultura disse que não irá "aparelhar o setor". "Um governo de esquerda patrocina propaganda ideológica. O governo de direita patrocina obras de arte. O que estamos lutando é pelo renascimento do conceito de obra de arte", afirmou Alvim após se reunir com Bolsonaro.
O governo tem sido criticado por escolhas recentes para a área de cultura. A Justiça Federal chegou a suspender a nomeação para presidente da Fundação Palmares do jornalista Sérgio Camargo, que já afirmou nas redes sociais que a escravidão foi benéfica e que o Brasil tem "racismo nutella". Na quarta-feira, a nomeação de Camargo foi suspensa para atender à determinação judicial.
Nomeado presidente da Funarte, o maestro Dante Mantovani também causou divergência no meio artístico por declarações em vídeos e redes sociais. Ele já afirmou, por exemplo, que o "rock ativa as drogas, que ativam o sexo livre, que ativa a indústria do aborto, que ativa o satanismo".
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.