postado em 15/12/2019 04:07
[FOTO1]Remexer nos nomes dos 125 indicados ao Globo de Ouro ; ainda que sejam votados pela Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood ; dá a medida de quão difícil seja obter reconhecimento na meca da indústria mundial das produções audiovisuais. Para a premiação, a ser realizada em 5 de janeiro, apenas 4,2% dos indicados vêm de países fora do eixo estabelecido entre norte-americanos e ingleses.
Esperado na lista, o atordoante suspense Parasita, de Bong Joon Ho, está entre os exemplos de vitorioso na quebra de barreiras: trata-se do primeiro filme sul-coreano a chegar entre os indicados em 77 anos de premiação. Aposta certeira para a lista do Oscar, possivelmente, quebrará o mesmo paradigma. Curiosamente indicado como melhor diretor, Joon Ho levou a Palma de Ouro em Cannes, passada a polêmica que abriu, no mesmo festival, há dois anos, quando exibiu Okja. Em Parasita, destacado ainda para a competição de melhor roteiro (Joon Ho, ao lado de Han Jin Won), a trama recai sobre problemas climáticos e sociais, dando sequência à veia crítica do cineasta que já tratou de poluição e experimentos catastróficos junto à natureza.
Abordando o tema da destruição do ecossistema, Chernobyl (candidata à minissérie televisiva), ainda que rodada em inglês, traz mérito para o sueco Stellan Skarsgard (revelado para indústria por estrangeiros como Sven Nykvist e Lars von Trier), candidato a ator coadjuvante. Também de forma indireta, há o pódio no Globo de Ouro para o cineasta brasileiro Fernando Meirelles. Explorando a gênese argentina do Papa Francisco e o encontro dele com o antecessor, Bento XVI, Dois Papas tem muitas chances, selecionado como melhor filme, melhor roteiro e ainda com sublimes interpretações de Jonathan Pryce e Anthony Hopkins (ambos no páreo).
Passado o acúmulo das indicações ao Globo de Ouro por personagens emblemáticos como Pancho Villa, Che Guevara, Zorro e Pablo Picasso, o espanhol Antonio Banderas interpreta, na língua materna, um personagem bastante significativo na carreira em Dor e glória, o longa-metragem com o qual Pedro Almodóvar colocou a Espanha na disputa por melhor filme falado em língua estrangeira. Na fita, que rendeu a Banderas o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes, ele dá vida ao cineasta Salvador Mallo, tipo assumidamente baseado em etapas da vida de Almodóvar.
No prisma de valorização da carreira de mulheres na indústria do cinema, a celebração é farta para os feitos das artistas estrangeiras. Ladeada pelo autor da trilha de Yesterday, o britânico Daniel Pemberton, a islandesa Hildur Guonadottir (com o trabalho indicado ouvido em Coringa) competirá com três talentos absolutos da música que somam 444 indicações para o Oscar. Vale a lembrança da vitória de Guonadottir, na celebração do Emmy ,que ela conquistou pelo trabalho em Chernobyl.
Um fato raro no Globo de Ouro: um mesmo país (no caso, a França) competindo na categoria de melhor filme estrangeiro desbancou a possibilidade de o Brasil emplacar A vida invisível (de Karin A;nouz) na concorrência. Novamente o Festival de Cannes sinalizou a vanguarda, já que as duas fitas selecionadas para o Globo de Ouro se projetaram com os prêmios de melhor roteiro (Retrato de uma jovem em chamas, da diretora e roteirista Céline Sciamma) e Os miseráveis (do maliano Ladj Ly, premiado pelo júri, em Cannes, empatado com o brasileiro Bacurau).
Multicultural, a chinesa Lulu Wang (que fala inglês, mandarim e espanhol) entra na disputa com o longa O adeus que, exibido no Festival de Sundance, figurou na dezena de prêmios atribuídos pelo influente American Film Institut. Reconhecida por longas como Oito mulheres e um segredo e Podres de ricos, a atriz Awkwafina foi indicada ao Globo de Ouro pelo papel de uma moça chinesa que parte de Nova York para visitar a avó, à beira da morte.