Controversos, os momentos finais de Carta registrada ; a primeira incursão de Hisham Saqr como diretor de longa-metragem ; podem colocar o espectador naquele esquema de ame ou deteste. Editor, roteirista e cineasta, Saqr (com pleno domínio do enredo) traz uma panorâmica que varre toda a capital que ambienta a fita: Cairo (Egito).
Tratando de problemas como ansiedade, deslocamento social e opressão, o diretor aposta numa espécie de respiro (inconclusivo) para a personagem Hala (Basma, atriz que é filha de ativista pelos direitos das mulheres). Entre outros obstáculos, ela se mostra muito suscetível às críticas de conhecidas e pouco dada a maiores doses de empatia.
;Todo mundo tem problemas; é a frase que Hala obtém como resposta a toda a sorte de impasses que a sufocam: além de uma depressão que acompanha sua condição de maternidade recente, a moça encara a eterna ausência do pai, e a rebeldia da irmã, problema que chega casado com o desassossego da mãe idosa.
Ainda que não se esconda atrás do marido, Hala terá ainda o desgosto de ver o companheiro, preso, dado a um suposto desfalque na contabilidade de um banco. Tratando de espera e esperança (como destacado numa frase do longa), Carta registrado goza da intrigante capacidade de soar sóbrio, apesar de o amontoado de pequenas desgraças cotidianas, desenvolvidas sem dramalhão.