postado em 28/12/2019 04:07
O sonho que não acaba
Talvez não seja apenas coincidência o fato de eu ter me tornado o primeiro governador eleito do Distrito Federal na condição de brasiliense nato e, durante o meu mandato, poder comemorar os 60 anos de fundação da capital.
Um novo país se consolidou desde o dia 21 de abril de 1960, misturando audácia, coragem e empreendedorismo.
A cidade mais brasileira de todas (e que já é a terceira do país, superada apenas por São Paulo e Rio de Janeiro) foi construída por pessoas que não mediram sacrifícios individuais e souberam juntar as características de cada região para forjar uma identidade nova.
Da mais alta autoridade ao mais humilde peão de obra, todos que viveram os primeiros dias da nova capital enfrentaram a poeira vermelha que impregnava a pele, manchava as roupas, irritava os olhos, que não saía com o banho, que formava uma crosta, e se tornava uma segunda pele.
Muita gente à margem dos livros de história foi tão importante como seus guias. Lembremos os vaqueiros do Nordeste, refugiados da seca, que se tornaram pedreiros; os pescadores nortistas que viraram motoristas de caminhão; os agricultores do Sul que se tornaram marceneiros; os batedores de pasto em Minas que viraram eletricistas.
Vieram crianças para serem alfabetizadas, mães de família, mulheres de fibra, avôs e avós. Vendedores e empreendedores se fixaram na Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante, com seus pequenos negócios.
Vieram, também, da pequena cidade piauiense de Corrente, seu Ibaneis e Dona Mercedes, meus pais. Como não se emocionar com isso?
O brasiliense é aquele que lida com pessoas das 27 unidades da Federação. Brasília é, literalmente, o ponto de encontro do Brasil com o Brasil.
O milagre do florescimento da cidade desenhada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa aconteceu na frente de todos esses pioneiros. Uma cidade belíssima, original. Sede de decisões e dos Três Poderes, orgulho de todos os brasileiros, objeto de atenção do mundo.
A célebre frase de JK, proferida em meio à desolação da poeira de um cerrado inabitado, se tornou verdade: ;Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino;.
Essa fé continua inquebrantável na geração que adveio desses pioneiros. Uma geração consciente de que a cidade está consolidada, mas a obra continua ; e prosseguirá por muito tempo mais, até que possamos extinguir todos os problemas decorrentes de um país em que a marca da desigualdade ainda é forte.
É uma obra conjunta, e temos muito do que nos orgulharmos dela.
Parabéns, Brasília!
Ibaneis Rocha
Governador do Distrito Federal