Diversão e Arte

Rappers mudam de patamar após vencer o Duelo Nacional de MC's

O maior evento de batalhas de rimas do Brasil revelou nomes como MC Sid e Orochi para o mundo da música

Correio Braziliense
postado em 02/01/2020 08:20
MC Sid recebeu premiação de R$ 5 mil, quando foi campeão em 2016
 
Métrica, flow, raciocínio rápido, leitura, conhecimentos gerais e referência, tudo isso com muita rima. O papel do MC em uma batalha de rima é juntar essas habilidades e ainda conquistar o público, um trabalho que exige muitas horas de treinamento e vários duelos perdidos.

Mesmo assim, o sonho de viver pela arte faz com que os rappers não hesitem em batalhar pelo que almejam, e os que pensam grande têm o mesmo objetivo: participar do Duelo Nacional de MC’s. Grande impulsionador de rappers para o cenário nacional, o campeonato faz seletivas durante o ano, indo desde a disputa estadual, passando pela regional para chegar à grande nacional, sediada em Belo Horizonte (BH).

Em 2019, o Duelo Nacional de MC’s foi realizado em 15 de dezembro, com dois dias de evento, levando mais de 30 mil pessoas para a Praça da Estação de BH. Representaram o Centro-Oeste, dois brasilienses, o morador de Recanto das Emas, Hate Aleatório, e MC Jhon, de Planaltina. Os representantes do DF se enfrentaram nas quartas de finais, e apenas Hate se classificou para as semis. Na disputa, acabou eliminado pelo cearense MCharles, que depois se sagrou campeão nacional em batalha contra o capixaba MC Noventa.

Realizado desde 2003, o campeonato chegou ao seu 16° campeão, ofertando uma premiação de R$ 15 mil, que além de ajudar o MC financeiramente, abre portas para contatos de gravadoras e para que o público de outros estados o conheça.  Entre os 16 vencedores, alguns tiveram grande projeção de carreira como Emicida, vencedor da edição de 2006, que já foi indicado a dois Grammys Latinos, sem falar nos álbuns consagrados como o O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui e AmarElo. Outros nomes como MC Sid, Orochi e César MC, ainda não conquistaram a mesma ascensão, mas aproveitam de um privilégio de poucos: viver da música.

MC Sid


Único representante do Distrito Federal a vencer o Duelo Nacional de MC’s, em 2016, o rapper começou a rimar por brincadeira até que amigos o inscreveram para a batalha Sobrado Fight, em Sobradinho. “Começaram a chamar um tal de Sid para a batalha e eu comentei ‘nossa, tem outro Sid aqui, que massa’, até que percebi todos me olhando. Batalhei e venci a primeira fase apenas, mesmo assim foi uma grande conquista, porque rimava brincando só, e consegui ganhar de outro MC que já batalhava sério”, conta o rapper em entrevista ao Correio.

Quando começou a namorar, o pensamento não foi outro, logo a levou para frequentar as batalhas, mesmo que só para assistir: “Era nosso rolê de casal”. De encontro romântico, a batalha se tornou uma competição. Sid começou a participar, e melhor que isso, passou a ganhar os duelos, até que o objetivo de ser selecionado para o Duelo Nacional surgiu.

O campeonato se tornou, como o próprio artista define, “uma obsessão”, as batalhas que eram semanais, se tornaram diárias. Em um ano, ele inaugurou o chamado Circuito de Batalha, percorrendo duelos por todo o DF, algo raramente feito na época. “Em 2015, eu só não treinei em dois dias: 10 de outubro, aniversário da minha namorada, e no Natal. Teve uma semana que ganhei oito batalhas em sete dias. Batalhei muito todo santo dia, meu preparo foi rimar muito, venci cerca de 250 batalhas em um ano. Falava com as pessoas rimando, pedia lanche rimando”, relata.

Com tanto esforço, a recompensa veio, se tornou campeão nacional, mas com o título, vieram outros frutos aos quais não estava preparado. “Meu sonho nunca foi ficar famoso. Quando fui para o nacional tinha 1.5 mil seguidores no Instagram, quando voltei tinha 20 mil, o que era muito para mim. Não sabia lidar, fiquei com medo, apaguei as redes sociais e não saia de casa. Ficava angustiado  quando me reconheciam na rua”. 

Quando percebeu que ter pessoas que acompanham seu trabalho é bom, o artista começou a lançar músicas como Falsos MC’s, hoje com 2 milhões de acessos no Youtube, e Assalto a mão Letrada, com 7 milhões de visualizações na plataforma. Desde o nacional, o MC não participa mais de batalhas, se dedicando a produção e a carreira solo.

MCharles

MCharles (à esquerda) foi o campeão da edição de 2019
 
Atual campeão, consagrado no último fim de semana, o cearense vive um momento atípico em sua carreira. Com R$ 15 mil na conta, o artista, que ainda não tem músicas lançadas, mas escreve poesias, chega a outro patamar e se integra ao time dos 16 campeões nacionais. No rap desde 2015, ele agora tem novos planos: “Acredito que, de acordo com os planejamentos que eu tenho, minha carreira vai mudar muito. Não vou parar de batalhar, mas agora vou investir na escrita. Já tive a minha caminhada na batalha, agora vou ter uma grande caminhada como minhas grandes referências, tipo Marechal, Emicida, RAPadura. Vou ser um desses caras”, afirma em entrevista ao Correio.

Entre risadas, o MC não consegue ainda mensurar a emoção de ter sido campeão nacional. “Eu olho vídeos todos os dias e penso ‘Fui campeão mesmo? Alguém me belisca’. Sabe o que é lutar a vida toda para pisar naquele palco e você conseguir conquistar em tão pouco tempo? Eu zerei o game”, vibra.

De acordo com o rapper, a cultura hip-hop o ajudou muito em sua vida. “Ele me ajuda a sentir vivo.  Ajuda-me a controlar a dor, me faz ser útil. Essa é a importância do rap na minha vida, me dá esperança de que o mundo tem valor”.

Cheio de entusiasmo, ele ainda não revela os próximos lançamentos, mas prevê novos trabalhos em até dois meses. “O prêmio me deu a oportunidade de aparecer para o mundo da música e a ganhar uma gravação na Rap Box (uma das maiores gravadoras do mundo do rap)”. Para saber dos lançamentos o rapper pede para que os fãs o sigam em seu perfil @MCharlesOficial, no Instagram.

Orochi


Rapper carioca, MC Orochi começou a batalhar profissionalmente aos 14 anos, no Tanque, tradicional duelo de São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Em 2015, Orochi se sagrou campeão nacional em batalha contra o brasiliense Alves. Após o título, o cantor foi convidado para participar do Poetas no Topo 2, projeto promovido pela Pineapple Storm, uma das produtoras de mais prestígio no rap nacional, que trouxe grandes nomes como Froid, Baco Exu do Blues e Coruja Bc1 para fazerem participação.

Em março de 2019, o cantor se envolveu em polêmica, acabou preso por porte de drogas e desacato, de acordo com a Polícia Rodoviária do Rio de Janeiro. Uma semana após a prisão, o rapper lançou a música Balão, que fala sobre a repercussão do caso e sua história de superação. “Sabendo que eles querem o papel /Minha cara agora tá no jornal/Recebo a ligação do meu pai /Achando que está tudo normal /A mídia não me deu um troféu/Quando eu fui campeão nacional /Agora quer me fazer de réu/Infelizmente eu sou imortal”, diz o rapper em trecho. A música teve tanta repercussão que chegou a números impressionantes, alcançando mais de 65 milhões de visualizações no Youtube. 
 
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco

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