Correio Braziliense
postado em 05/01/2020 04:07
O corpo de jurados que elegem os vencedores do Globo de Ouro, ainda que diminuto — são cerca de 90 integrantes da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood — é especializado, e importante para as diretrizes das premiações que se esparramam, no começo de cada ano. Na 77ª edição, o Globo de Ouro tem uma marca previsível entre os mais esperados vencedores da noite de hoje: será o da celebração da sétima arte e o reconhecimento de novidades para a engrenagem da indústria do entretenimento.
Na ala reservada a premiações no cinema, alguns nomes reluzem, desde já, a ouro. É o caso de Reneé Zellweger, dada como aposta certa, na categoria de melhor atriz, no Globo de Ouro. Em Judy — Muito além do arco-íris — ela personifica a aclamada atriz Judy Garland, unanimidade no imaginário dos cinéfilos, pela participação em longas como Nasce uma estrela (versão de 1954).
Igualmente num retorno (tal qual Zellweger), o veterano ator Eddie Murphy está cotado, na categoria de ator de musical ou comédia, por ter interpretado a trajetória do pouco valorizado (em vida), Rudy Ray Moore, negro ator cômico da era de ouro da blaxploitation, e figura festejada na produção Meu nome é Dolemite. Se Eddie Murphy não faturar o prêmio, há expectativa de que Taron Eggerton (que concorre, pelo retrato de Elton John) leve o prêmio pela participação no longa Rocketman. Outro que é barbada na festa de premiados da noite é Joaquin Phoenix, com chances altíssimas de ganhar reconhecimento, dado o protagonismo (em Coringa), como um palhaço atormentado por um cotidiano cão.
Ainda incrementando o filão dos títulos que celebram a indústria do entretenimento, o nono trabalho de Quentin Tarantino, Era uma vez em... Hollywood, dedicado ao período de excessos da geração artística movida a drogas, não deverá sair de mãos abanando, na festa do Globo de Ouro. Visitando os bastidores do cinema, o longa deve render troféu para o ator coadjuvante Brad Pitt, capaz de dar vida a um dublê que deixa à sombra um astro interpretado por Leonardo DiCaprio.
Na dianteira, como melhor filme, Era uma vez em Hollywood... pode marcar a primeira vitória de Tarantino como diretor da melhor produção cômica. O autor de filmes como Pulp fiction está numa das disputas mais enuviadas, entretanto. Dois fatores pesam (e deixam a candidatura de Tarantino no acostamento): há, na concorrência, um medalhão hollywoodiano digno de ouro — Martin Scorsese (O irlandês), enquanto muitos asseguram a vitória de uma tardia descoberta norte-americana — o sul-coreano Bong Joon Ho, do retumbante sucesso Parasita.
Ao alinhar as grifes de Scorsese e Joon Ho, os votantes do Globo de Ouro encontram a encruzilhada de valorizar a renovação (nunca freada, entre o calejado corpo de jurados) ou chover no molhado (e encarar o líquido e certo), e premiar o artífice de Parasita (Joon Ho) ou seguir com Martin Scorsese, de O irlandês, que chega à nona indicação de melhor diretor.
A categoria de roteiro — caso não siga a tradição de cair nas mãos de Tarantino — deve coroar um dos filmes do momento: História de um casamento, lembrado na competição em seis categorias. Noah Baumbach, diretor e criador do longa, terá rara chance de ver as candidaturas naufragarem. O despretensioso drama de Baumbach tem como espécie de imã a atuação breve de Laura Dern, candidata a faturar como melhor atriz coadjuvante. Quem tem cacife contra Dern, é Jennifer Lopez (As golpistas).
A torcida indireta pelo Brasil, nas celebrações do Globo de Ouro, se dá pela inclusão do longa conduzido pelo paulistano Fernando Meirelles: Dois Papas. Com um potente roteiro, o filme não tem despontado nas bolsas de apostas dos especialistas em cinema, ainda que esteja elencado entre os cinco finalistas a melhor filme.
Favoritos na tevê
Como de costume em qualquer premiação, a 77ª edição do Globo de Ouro tem favoritos aos prêmios. Nas categorias televisivas há duas produções que devem dominar a noite. Uma está entre as comédias e musicais, enquanto a outra, entre as minisséries e telefilmes. Ambas devem, de certa forma, seguir o caminho traçado meses antes na cerimônia da premiação do Emmy.
Depois de um belo ano de crítica, a produção britânica Fleabag, criada, roteirizada e protagonizada por Phoebe Waller-Bridge, deve arrebatar o maior número de estatuetas entre as atrações de tevê. Espera-se que a série, que aborda o dia a dia real de uma mulher, conquiste o prêmio principal (melhor série de comédia/musical) e ainda duas categorias voltadas à atuação: melhor atriz em série de comédia/musical para a protagonista; e melhor ator coadjuvante — que reúne astros de todas as categorias na concorrência — para a atuação do Andrew Scott, que vive o “padre gato” da trama.
Outra produção que tem prêmios quase garantidos na noite é a minissérie Chernobyl. A começar pelo fato de que uma grande concorrente, Olhos que condenam, de Ava DuVernay, sequer foi lembrada na premiação. Assim, o caminho fica praticamente aberto para que a trama sobre o acidente nuclear de Chernobyl tenha destaque na noite. Pelo menos dois prêmios são aguardados para a narrativa: melhor minissérie/telefilme e melhor ator em minissérie/telefilme para o protagonista Jared Harris, que deu vida ao químico Valery Legasov.
Disputa acirrada
Fora desse time de preferidos, a disputa deve ficar acirrada e, também, diversificada nas categorias televisivas. A crítica especializada norte-americana aposta em Succession, trama que está na segunda temporada e que retrata a história de uma família que controla um conglomerado de meios de comunicação. Ao mesmo tempo, aparecem fortes The crown, série sobre a família real que ganhou nova temporada com novo elenco, e The morning show, atração da Apple TV+ sobre o cotidiano dos programas matutinos.
Ainda em drama, Jennifer Aniston (The morning show) tem sido lembrada na maioria das listas de previsões na categoria de melhor atriz, assim como Olivia Colman, que interpreta a versão mais velha da Rainha Elizabeth em The crown. No Emmy do ano passado, outra concorrente se sagrou vitoriosa, o que pode pesar na disputa: Jodie Comer, de Killing Eve. Já entre os homens, tudo indica que a premiação de melhor ator deve ir para a Brian Cox (Succession). A aposta mais certa, pelo menos, é de que Kit Harington (Game of thrones) não saia vitorioso — mesmo sendo a única categoria em que a trama fantasiosa foi lembrada.
Sem indicações para Fleabag na categoria de melhor ator de comédia/musical, essa parece ser a única chance para as outras atrações indicadas na vertente. Paul Rudd, que vive dois personagens em Living with yourself; Bill Hader, que ainda não levou Globo de Ouro por Barry (apesar de ter sido lembrado no Emmy); e Ben Platt, de The politician, estão entre os atores que aparecem bem na disputa e podem sair com a estatueta.
No cenário das minisséries e telefilmes, a disputa deve ser quente entre as atrizes. Na categoria, quem aparece na frente é Michelle Williams (Fosse/Verdon). Mas não seria surpresa se Joey King (The act), as duas atrizes de Inacreditável — Kaitlyn Dever e Merritt Wever —, e até Helen Mirren (Catherine the great), tirassem o prêmio da mão de Michelle. Em outra categoria feminina, melhor atriz coadjuvante (uma reunião com atrizes de séries e minisséries), apostasse no óbvio, já que Meryl Streep está na lista pela atuação em Big little lies. Outros dois nomes fortes podem tirar o prêmio da experiente atriz: Helena Bonham Carter (The crown) e Patricia Arquette (The act). E ainda há quem aposte na novata Toni Collette pelo que fez como protagonista de Inacreditável, uma jovem que é acusada de mentir sobre um estupro.
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