Diversão e Arte

Mostra de cinema egípcio toma conta do Cine Brasília a partir desta quinta

A 2ª Mostra de Cinema Egípcio Contemporâneo traça painel de cinema por ser descoberto e fica em cartaz até domingo

Correio Braziliense
postado em 08/01/2020 08:39
'Ali, a cabra e Ibrahim': narrativa sobre o encantamento

Recentemente, o circuito de cinema de Brasília recebeu uma raridade, com a estreia do longa egípcio Carta registrada, em torno da crise sentimental de uma mulher atingida por extrema depressão. Remexendo numa variedade de gêneros com registro de temáticas diversificadas, e montando uma mostra de filmes que alinha drama, comédia, romance, fantasia, suspense e documentário, o curador egípcio Amro Saad traz, pela primeira vez para Brasília, uma leva de fitas embaladas sob o título 2ª Mostra de Cinema Egípcio Contemporâneo. Serão oito longas, apresentados de quinta a domingo, no Cine Brasília (EQS 106/107), com entrada franca. Batizada de Entre-Lugares, uma exposição (sob curadoria de Regiane Rocha), abrigada no mesmo local, trará obras criadas por mulheres, cuja proposta é aproximar Brasil e Egito.

Há oito anos, Amro Saad batalha pela ponte cultural entre os países, desde a criação da entidade Orientse na cidade. “Há dois anos, produzi e realizei a curadoria da 1ª Mostra nas sedes do CCBB paulistano e carioca, com patrocínio do Banco do Brasil. Infelizmente, a primeira edição não chegou a Brasília. Sempre esteve em meus projetos realizar a mostra em Brasília, na cidade que amo e onde moro. Para a 2ª mostra, felizmente, pude contar com o apoio de grandes parcerias que construí ao longo de anos, além de ter contado com a implantação da agência da Orientse no Cairo”, explica.

A diversidade dos títulos selecionados contempla, por exemplo, o enredo de Não me beije (programado para sexta-feira, às 20h), que trata da sensualidade adormecida de uma estrela de cinema que pretende apostar em nova trajetória profissional. Nesta quinta-feira, o Cine Brasília oferecerá programa duplo, a partir das 19h, com a abertura da exposição, e na sequência, da mostra. O primeiro filme começa às 20h, e é Antes do verão, sobre a interação de pessoas desconhecidas e conectadas a partir da passagem por um resort de luxo.

Na sexta, a programação da 2ª Mostra de Cinema Egípcio Contemporâneo trará A girafa, às 18h. No filme de Ahmed Magdy, pesa tanto um enredo que cerca a possibilidade de um aborto quanto a jornada inesperada de um homem, pelo Cairo, e que se vê distraído de uma obrigação pessoal, ao entrar em contato com jovens arrebatados por um mistério que envolve o zoológico e um fascinante animal.

Igualmente fantasiosa é a atração de sábado (às 20h) Ali, a cabra e Ibrahim. No filme dirigido por Sherif Elbendary, a morte da namorada de Ali multiplica os problemas acumulados pelo jovem que acredita na possibilidade de o antigo amor ter encarnado numa cabra. Haverá, daí, a necessidade de desfazer uma maldição.

No filão do registro de realidades adversas para as mulheres egípcias, desponta a atração de sábado (às 18h), Menina da fábrica. O filme de Mohamed Khan mostra a influência de um supervisor de fábrica na vida de uma trabalhadora apaixonada e que se vê envolvida numa situação em que testemunha gravidez inesperada. A realidade pesada do apartamento social promete se instalar no enredo. Encerrando a mostra, domingo, às 20h, Pó de diamante é um filme com mais de duas horas e meia de duração. Sob a direção de Marwan Hamed, se detém na história de transformação na vida de Taha, empenhado num cotidiano sufocante em indústria farmacêutica. Morando com o pai deficiente, Taha será surpreendido por rota de suspense: uma cadeia de crimes e corrupção se alastrará no dia a dia dele.

Serviço
2ª Mostra de Cinema Egípcio Contemporâneo
 
Cine Brasília (EQS 106/107). De quinta-feira (9/1) a domingo (12/1), com entrada franca. A partir de sexta, haverá sessões às 18h e 20h. 


Três perguntas // Amro Saad 

 
Com carreira consolidada como produtor cultural e curador, Amro Saad emplacou, em Brasília, exibições cinematográficas independentes (cineclubes), além de mostras; agitou ciclos de pintura e fotografia e trouxe para o (hoje fechado) Teatro Nacional lançamentos de livros e apresentações de teatro, música e dança. Formado no ramo do comércio, pela Universidade de Al Mansoura (Egito), Amro Saad entrou em contato com as artes a partir dos oito anos. Integrou grupos de teatro, criou obras em poesia e se apresentou no teatro do Palácio Cultural de Al Mansoura. No Egito, ele publicou livros de poesia, em 2009 e 2018. Vivendo no Brasil, desde 2005, Amro Saad é tradutor e intérprete árabe.

Qual foi o propósito, ao selecionar os títulos?
Os títulos escolhidos foram selecionados com a intenção de mostrar ao público brasileiro as semelhanças entre a sociedade egípcia e a brasileira. Mesmo com todas as informações disponibilizadas nos meios de comunicação, temos dificuldades, tanto aqui quanto lá, de entender um ao outro. O Egito ainda continua, para a maioria dos brasileiros, como o país das pirâmides, do deserto, ou do radicalismo religioso. Todos os filmes possuem uma relevância particular. A mostra terá curta temporada e variedade de gêneros.

Que tipo de receptividade espera?
A humanidade está enfrentando grandes desafios, cada país com suas particularidades. Egito tem uma grande herança cultural, e isso também provoca conflitos internos, principalmente pelo confronto entre os antigos costumes e a voz das novas gerações. A luta pelos direitos, por exemplo, se assemelha, principalmente em relação às mulheres. A mostra traz pontos de muitas semelhanças, mas também irá provocar o público com situações incomuns para o brasileiro, como a mutilação genital feminina.

Como se dá a produção de cinema no Egito? Há estímulo do governo?
O cinema egípcio é um dos cinemas mais antigos do Oriente Médio. Nos últimos anos, testemunhou um declínio significativo. Passou por várias fases. Atualmente, ao contrário de todos os cinemas da região árabe, vem combinando a relação entre a produção cinematográfica artística e comercial, sem interferência governamental. O cinema no Egito está se recuperando e voltando com firmeza. No ano passado, foram produzidos 21 filmes.

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