Correio Braziliense
postado em 14/01/2020 04:19
O cantor e compositor carioca Rogerio Skylab, 64 anos, considera-se “um cadáver na música brasileira”. Percebe que a “grande mídia” não lhe dá tanta atenção quanto no início da carreira, quando o senso de humor tétrico que sempre permeou suas composições o tornou sensação em talk shows e na internet. Mas a verdade é que ele continua mais produtivo do que nunca.
Após estrear, em 1992, com o disco Fora da grei, lançar a série que vai de Rogerio Skylab I a Rogerio Skylab X, de 1999 a 2011, o álbum Skygirls, em 2009, os dois volumes de Skylab & Orquestra Zé Felipe, em 2009 e 2015, a Trilogia dos Carnavais, de 2012, a 2016, e a trilogia Skylab & Tragtenberg de 2016 a 2018, para citar apenas os álbuns de estúdio, o prolífico artista acaba de encerrar mais uma série com o lançamento do álbum Crítica da faculdade do c., que chegou às prateleiras virtuais em dezembro.
Formada ainda pelos álbuns O rei do c. e Nas portas do c., a trilogia abusa do termo, considerado chulo, por motivos muito mais acadêmicos do que escatológicos: “Uma coisa que eu tentei sublinhar, seja em posts, seja em entrevistas, seja em canções, que serão sempre provisórias se comparadas a um texto clássico, é que a minha referência de c. é sobretudo deleuziana. É algo anterior ao corpo”, explica (ou tenta) o compositor, que é formado em filosofia e em letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O músico começará a rodar o país com o novo trabalho. “Meus planos de circulação são os mesmos de 30 anos. Durante todo esse tempo, tenho feito shows continuamente. E, quando reclamam de nunca ter tocado numa determinada cidade, respondo sempre que a culpa não é minha, e, sim, do produtor local”, esclarece. Fica a dica para os produtores locais.
A banda que o acompanha em turnê é a mesma que gravou os três últimos discos com ele: o guitarrista Thiago Martins, o baixista Yves Aworet e o baterista Alex Curi. Também participaram do disco o músico Lívio Tragtenberg, parceiro de Skylab na trilogia anterior e que compôs, com ele, seis das 17 faixas do disco, e trabalhou na pré-mixagem; Vovô Bebê, na faixa Homo sacer; e o funkeiro MC Gorila, em Cabecinha. “Eu adoro funk, pensamos até em fazer um disco juntos. E adorei a ambiguidade da Cabecinha: sexo e política”, afirma.
A banda que o acompanha em turnê é a mesma que gravou os três últimos discos com ele: o guitarrista Thiago Martins, o baixista Yves Aworet e o baterista Alex Curi. Também participaram do disco o músico Lívio Tragtenberg, parceiro de Skylab na trilogia anterior e que compôs, com ele, seis das 17 faixas do disco, e trabalhou na pré-mixagem; Vovô Bebê, na faixa Homo sacer; e o funkeiro MC Gorila, em Cabecinha. “Eu adoro funk, pensamos até em fazer um disco juntos. E adorei a ambiguidade da Cabecinha: sexo e política”, afirma.
Questionado sobre a origem da parceria, o compositor comenta: “Na minha discografia, eu me aproximei de vários nomes, que fizeram participações especiais em meus discos, e nunca ninguém quis saber o motivo daquela aproximação. Em relação ao MC Gorila, ao contrário, ouvi de tudo, até que a participação dele destoa do disco. E o motivo disso é que o funk continua sendo discriminado, para não dizer criminalizado”, conclui, explicando que o que o atraiu no artista foi a contundência de uma de suas frases, bastante explícita.
Um dos nomes do qual Skylab se aproximou, a propósito, foi o cantor e compositor gaúcho Júpiter Maçã, morto em 2015. Na segunda faixa do disco, Skylab, que regravou outras composições de Júpiter e dividiu momentos icônicos com ele, faz uma versão da carnavalesca A marchinha psicótica de dr. Soup.
“Eu não conhecia nada do Júpiter, até que, um dia, eu resolvi ouvir Sétima efervescência, e fiquei impressionado por ser um disco tão bem produzido. Isso é uma coisa rara dentro do universo do underground e da música independente. O movimento punk, ao qual eu estive muito ligado em meus primórdios, é um pouco responsável por essa aura tosca que impregnou um certo segmento do teatro, da música e do cinema brasileiro. Isso é uma faca de dois gumes. É político, porque vai na contramão do estrelismo, sempre atrelado ao capitalismo. Mas vicia: por comodidade e preguiça, acaba sendo o caminho escolhido por ser mais fácil”, destaca.
Um dos trechos da música diz: “E o milênio passaria/ e a marchinha seguiria/ sendo cult, underground/ Mas, lá por 2020/ seria revisitada/ e virar hit nacional”. O milênio passou e, tendo revisitado a música em 2020, Rogerio Skylab não se ilude, e tampouco se importa: “Nunca vai virar hit nacional, e o próprio Júpiter tinha consciência disso”.
*Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira
O novo álbum está disponível, apenas pela internet, nas principais plataformas de streaming. “Parei de produzir discos físicos, porque não vendiam. Seria uma hipocrisia. Até eu não compro mais discos físicos. Nunca ouvi tanta música, tantos discos, como hoje, no formato digital”, afirma o cantor. O artista disponibilizou toda a sua discografia, para download, pelo site rogerioskylab.com.br, no qual também se encontram artigos, livros e outros conteúdos do autor.
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