Correio Braziliense
postado em 15/01/2020 04:45
Recado
“Tudo o que a pessoa ignora não existe para ela. Por isso o universo de cada uma se resume ao tamanho de seu saber.”
Albert Einstein
Nota fúnebre
Luís de Camões, Machado de Assis, Eça de Queirós, Clarice Lispector, José Saramago, Jorge Amado (in memoriam), Lígia Fagundes Teles, Rosângela Rocha, Elio Gaspari e os cultores da boa linguagem cumprem o doloroso dever de comunicar a morte do futuro do subjuntivo.
Vítima de abandono e maus-tratos, ele deixa a família verbal enlutada. Os amigos se unem nesse ato de piedade cultural e protestam contra tão prematura e insubstituível partida. Não há escapatória. Sem piedade, jornais, tevês, comentaristas, personagens de novelas confundem a forma nota 10 com o infinitivo.
Até tu, ministro?
O tiro de misericórdia partiu do ministro da Educação. “Entre na internet e veja como foi o último concurso público da Abin. Se você ver, é um concurso que [não] tem praticamente nada de matemática e está lá falando governo estado-unidense. Então você já seleciona pessoas com viés de esquerda nos concursos”, disse Weintraub.
Sua Excelência bobeou. Atirou na Abin e acertou no verbo ver. Ele esqueceu (ou nunca aprendeu) que os tempos verbais têm pai e mãe. O futuro do subjuntivo nasce da 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo sem o –am final. Assim:
Pretérito perfeito: eu vi, se tu viste, ele viu, nós vimos, vós vistes, eles vir(am)
Ops! Parece mágica. Com o truque, nasce a 1ª pessoa do singular do futuro do subjuntivo. Depois, é só seguir a conjugação: se eu vir, se tu vires, se ele vir, se nós virmos, se eles virem.
Moral da opereta
O ministro matava aula. Se tivesse assistido às explicações do professor, teria dito: Se você vir, é um concurso que não tem praticamente nada de matemática.
Nós dizemos: Se eu vir Maria, darei o recado. Quando ele vir o filme, escreverá o comentário. Assim que eu vir o diretor, vou apresentar as reivindicações da turma.
Mais vítimas
Quando eu pôr ou puser? Se eu vir ou vier? Assim que eu reter ou retiver? Se ele caber ou couber? Dúvidas. Dúvidas. Dúvidas. Qual a saída? Só há uma. Recorrer ao paizão. Conjugar o verbo no pretérito perfeito, velho conhecido nosso. Depois, fixar-se na 3ª pessoa do plural. Sem o –am final, temos o filho legítimo.
Pôr
Pretérito perfeito: eu pus, ele pôs, nós pusemos, eles puser(am)
Futuro do subjuntivo: quando eu puser, ele puser, nós pusermos, eles puseram
Vir
Pretérito perfeito: eu vim, ele veio, nós viemos, eles vier(am)
Futuro do subjuntivo: se eu vier, ele vier, nós viermos, eles vier(em)
Reter
Pretérito perfeito: eu retive, ele reteve, nós retivemos, eles retiver(am)
Futuro do subjuntivo: se eu retiver, ele retiver, nós retivermos, eles retiverem
Caber
Pretérito perfeito: eu coube, ele coube, nós coubemos, eles coubera(am)
Futuro do subjuntivo: se eu couber, ele couber, nós coubermos, eles couberem
Esperneio
Sabe quem está esperneando? É o verbo trazer. Ele luta com todas as forças pra não descer à sepultura. “Socorro!”, grita. “Trarei muita sorte a quem me salvar.” Inútil. Traga o que trouxer, ninguém o escuta. Descanse em paz.
Amém.
Leitor pergunta
O ministro da Educação diz que usar “estado-unidense” identifica os esquerdistas. Verdade?
Mena Paixão, Porto Alegre
Os dicionários dizem que não. O Houaiss e o Aurélio informam: estado-unidense (ou estadunidense) é sinônimo de norte-americano ou americano: O presidente americano chama-se Donald Trump. O presidente norte-americano chama-se Donald Trump. O presidente estado-unidense (ou estadunidense) chama-se Donald Trump.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.