Correio Braziliense
postado em 16/01/2020 08:45
Seis anos em exibição e mais de 100 apresentações realizadas por todo o Brasil. Essa é parte da história do espetáculo Achadouros, idealizado em Brasília e encenado pela dupla Caísa Tibúrcio e Nara Faria. A dramaturgia dedicada à primeira infância, que conquistou o público e agradou a crítica (vencendo o prêmio de Melhor Espetáculo Infantil no Prêmio Sesc do Teatro Candango 2015, ano de estreia), inicia o ano com apresentações na capital.
Inspiradas nas poesias do consagrado autor Manoel de Barros, as atrizes idealizaram um espetáculo diferente para o público infantil. Fugindo dos clichês de muita informação na questão da linguagem, trabalham o silêncio como fator preponderante para o sucesso do entendimento de quem assiste à peça. “A mensagem é passada de uma forma sensorial. O espetáculo tem uma linguagem não verbal e a leitura da ação é subjetiva. A percepção que cada um vai ter da obra é muito particular”, explica Nara Faria.
Para chegar na percepção criada para o espetáculo, Nara e Caísa observaram bebês e crianças em uma creche por um mês. A análise comportamental em questões de entendimento do próprio corpo, das relações interpessoais e da relação com o mundo, somadas ao conhecimento do diretor José Regino (trabalhou nas peças infantis Panapanã e Alma de peixe), resultaram em um produto único.
Com interação de um cenário-personagem, que acompanha a mudança dos personagens e figurinos que trazem a questão da neutralidade para a cena, Achadouros continua em cartaz desde 2015. “A estrutura continua a mesma, sem mudanças radicais. Apenas a questão musical e algumas questões pessoais foram aprimoradas”, conta Nara.
Apesar de ser uma peça teatral, a questão pessoal das atrizes e do público influencia diretamente no espetáculo. As lembranças do tempo em que eram apenas crianças, sem ideia do que viriam a se tornar, e o passar dos cinco anos em cena regem os novos entendimentos de Caísa e Nara. “A nossa cara está no espetáculo. Minha relação com as memórias de infância, do tempo de escola, e como mãe, principalmente na hora do parto. A experiência pessoal de cada um é o fio condutor do espetáculo”, define Caísa Tibúrcio.
Nara relembra que, desde o início da peça, passou por momentos diversos. Apresentou-se em palco por oito meses carregando um bebê e agora leva o filho para as viagens. A criança acompanha a mãe em palco e nos “bastidores”. Por estar convivendo com uma bebê no ambiente de trabalho, a percepção e a relação da atriz com o espetáculo mudou.
Os ressignificados surgem no mesmo sentido. Entender os acontecimentos em cena sem interferência externa. Cada espectador tem a oportunidade de, introspectivamente, observar e compreender a peça. Neste ponto, a questão das sacolas plásticas, utilizadas em grande número durante o espetáculo, trazem a questão de crítica e tentativa de ressignificar o consumo excessivo.
A intenção é despertar, no público, uma reflexão acerca do tema — assim como em todos os outros 35 minutos em que a dupla de atrizes está no palco. “Existem várias camadas. Tem essa questão ambiental, tem a questão da chegada do ser humano no mundo, tem a questão antológica do desenvolvimento do ser humano do surgimento até hoje e a questão pessoal”, explica Nara.
De volta à capital — local onde nasceu o Achadouros — para iniciar o ano teatral, a ambição da dupla é grande. Conquistar o mundo, partindo daqui. “É uma volta para a origem, há muito tempo a gente não fazia o espetáculo em Brasília aberto ao público. Abrir 2020, com essa temporada em Brasília, é maravilhoso.”
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
Espetáculo Achadouros
Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul). Dias 18, 19, 25 e 26 de janeiro. Exibições às 11h e 16h, com 35 minutos de duração. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). Vendas no site ou no aplicativo do Sympla.
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