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Em livro, jornalista narra trajetória de Edir Macedo e da Universal

O jornalista e pesquisador Gilberto Nascimento narra a trajetória do líder religioso e faz uma radiografia da Igreja Universal

Correio Braziliense
postado em 19/01/2020 06:15
“O livro não tem o objetivo nem de atacar nem de defender, mas de contar a história, de narrar os fatos da maneira mais fiel possível e essa história é contada a partir de entrevistas dadas por ex-integrantes da igreja”, descreve o jornalista Gilberto Nascimento sobre a recém-lançada publicação O reino — A história de Edir Macedo e uma radiografia da Igreja Universal, pela Companhia das Letras.

Em minucioso trabalho de apuração, Nascimento percorre do nascimento do líder religioso à ascensão e consolidação da Igreja Universal como templo, presente em 95 países. Setenta pessoas foram entrevistadas ao longo de quatro anos de trabalho — sem falar da produção pessoal de reportagens sobre Edir Macedo para veículos como a revista IstoÉ. Entre elas, ex-bispos, ex-pastores, ex-funcionários de empresas ligadas ao grupo, empresários, representantes do Ministério Público, estudiosos de religião e profissionais de comunicação.

Nas páginas do livro, o jornalista também aborda as controvérsias e as polêmicas presentes na trajetória do bispo e o envolvimento do líder com a política, uma aliança sacramentada com a eleição do presidente Jair Bolsonaro. Ao Correio, Nascimento conta sobre a investigação, a personalidade de Edir Macedo e a relação Estado e igreja.

Em minucioso trabalho de apuração, jornalista percorre do nascimento de Edir Macedo à ascensão e consolidação da Igreja Universal

Por que um livro sobre Edir Macedo?

É um livro-reportagem e a conclusão que a gente chegou era que nunca tinha sido contada, de uma maneira mais ampla, a história da igreja. Muitas reportagens foram publicadas ao longo dos anos e a Igreja Universal sempre chamou muita atenção, sempre causou muita polêmica a forma dela atuar, o crescimento da igreja surpreendeu sempre muita gente, a forma de se apresentar, de se posicionar causava polêmicas e até hoje tinham sido publicadas biografias oficiais. Muita gente que participou da construção da igreja, inclusive que assumiu papel de liderança, elas não são citadas em outras biografias, era como se não existissem e várias delas queriam falar, contar sua versão ou relatar fatos ocorridos durante o período que foram integrantes da igreja. Segundo alguns desses ex-pastores e ex-bispos, algumas coisas colocadas nessas biografias oficiais não eram exatamente assim. Então, cheguei à conclusão de que havia um espaço, um vácuo a se contar.


Quanto tempo durou todo o processo?

No livro, exatamente, trabalhei por quatro anos. A pesquisa deu muito mais trabalho. Depois de contada a história, essa preocupação de procurar ser minucioso, e detalhar cada informação de qual local veio, deu muito trabalho. Mas, a gente achou muito importante até para comprovar a autenticidade, a veracidade (dos depoimentos). Tudo o que está no livro foi dito por algum entrevistado, está em alguma reportagem, foi dito por ele (Edir Macedo) em alguma reportagem, está em teses acadêmicas ou na história oficial da igreja.


O que mais chamou atenção na história do Edir Macedo?

Alguns fatos são marcantes, porque, na época, causaram muita polêmica, repercutiram no país inteiro e no exterior. O chute na santa, o vídeo no qual aparece o Edir Macedo orientando os pastores a aumentar a arrecadação. São fatos assim que marcaram muito e eu, como jornalista, nos últimos quase 30 anos fiz muitas reportagens sobre a Igreja Universal.


Não teve receio de lançar o livro por conta das polêmicas e controvérsias?

Sou jornalista com quase 40 anos de profissão, sempre fiz reportagens que costumam chamar de investigativas. Acho que é nossa obrigação e nosso papel falar e mostrar o que tiver que mostrar, o que tiver que ser dito doa a quem doer, seja bom seja ruim. O livro, como também as reportagens que fiz ao longo da vida, nunca teve o objetivo de atacar ou de defender ninguém, mas de mostrar a verdade. E aquela verdade que não está sendo mostrada, ela, mais do que nunca, precisa ser mostrada. Esse tipo de trabalho é o que mais me fascina, me atrai e acho importante fazer. Embora, claro, em um livro-reportagem, quando você se propõe a falar de um tema específico, ele vai contemplar tudo. Já fiz reportagens diversas, corri riscos, sofri ameaças, mas faz parte da profissão. O trabalho, quanto mais difícil, traz um resultado melhor. Os integrantes da igreja sempre agiram de maneira muito dura com reportagens que mostravam o que eles não gostavam.


Acha que não entrevistar o Edir Macedo influenciou o trabalho de alguma forma?

No passado, cheguei a pedir entrevistas com ele várias vezes e ele nunca atendeu. Deu algumas entrevistas para veículos aos quais ele escolhia.


Diante de todo o material que você apurou, se pudesse entrevistá-lo, como seria essa entrevista? Qual pergunta não poderia faltar?

Não me lembro de nenhuma pergunta específica, gostaria muito mais de ouvi-lo e talvez perguntar o que ele diz a respeito das críticas que recebe e por que essa ênfase tão grande na arrecadação. Todas as igrejas recebem o dízimo, as ofertas, o que se questiona, muitas vezes, é a volúpia e a forma de fazer isso. A história dele é conhecida e eu conversei com ex-bispos, ex-pastores, ex-executivos do grupo que conviveram muito com ele, alguns moraram na mesma residência que ele, e essas pessoas relataram como ele é, como faz, como age, como pensa, descreveram o perfil. Fiz o livro baseado em tudo o que eu ouvi.


Acha que o Edir Macedo é uma espécie de pop star?

Ele é um líder carismático, uma pessoa com muita visão, um empreendedor, um realizador, uma pessoa que traçou uma vida, um objetivo, avançou e cresceu. De um simples escriturário da Loterj (Loterias do Rio de Janeiro), virou um religioso rico, poderoso, com igrejas espalhadas no mundo inteiro, com uma legião de fiéis. É um realizador.


Que reino é esse que você usa no título do livro?

O reino é o governo dele, o domínio dele, é o que ele tem sob o seu comando, a igreja, as empresas, as emissoras que tem. É essa instituição forte, poderosa que cresceu, que se espalhou pelo mundo, a legião de fiéis.


O quão Edir é universal?

A instituição é fechada. A gente não tem acesso a tudo o que acontece lá dentro. Então, o que a gente sabe é contado por, eventualmente, algum fiel e, principalmente, por ex-fiéis, ex-integrantes.


Como você vê a relação do Estado/política com a religião?

O Brasil é um estado laico. Em um Estado laico, você não apoia nem se opõe a nenhuma religião. O Estado tem que ser imparcial em relação às questões religiões. Agora, existem grupos que gostariam de talvez transformar o Brasil em uma teocracia, que teria um esquema de governo, ações políticas, jurídicas submetidas às normas de alguma religião, como é no Irã. O poder seria exercido, direta ou indiretamente, por líderes de determinada religião. Isso não é uma coisa bem-vinda.  Agora, grupos religiosos conservadores vêm ganhando força, principalmente, por meio da eleição de representantes ao Congresso e vêm propondo uma agenda conservadora com o objetivo de impor a visão daquele grupo religioso. Dentro de uma democracia, é legítimo os grupos se manifestarem, mas não quererem impor.

O jornalista e pesquisador Gilberto Nascimento narra a trajetória do líder religioso e faz uma radiografia da Igreja Universal

O Reino — A história de Edir Macedo e uma radiografia da Igreja Universal
Gilberto Nascimento. Companhia das Letras. Número de páginas: 379. Preço médio: R$ 59,9.
 
 
 

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