Diversão e Arte

Projetos audiovisuais criticados por Bolsonaro ficam de fora de edital

As quatro produções têm em comum a crítica do presidente e o fato de serem de temática LGBT

Correio Braziliense
postado em 23/01/2020 06:15
'Afronte' representava Brasília no edital

Foram anunciados os projetos que serão contemplados no edital Prodav 2018 - TVs Públicas. Ao todo, o edital selecionou 78 obras e mais de 60 milhões em verbas foram direcionados. No entanto, quatro projetos não aparecem na lista. São eles Afronte, Religare queer, Sexo reverso e Transversais. Além de serem de temática LGBT, os quatro têm em comum terem sido criticados nominalmente pelo presidente Jair Messias Bolsonaro em uma live que falava sobre o edital em 2019. 

O PRODAV 2018 - TV´s Públicas é um edital, regido pela Ancine, que visa alavancar com investimento projetos de séries. As obras deveriam ser produzidas em formato seriado com seis episódios de 26 minutos e seriam veiculadas em canais de televisão públicos. O edital determina que só poderia ser contemplada uma produção por tema e por estado. As quatro citadas pelo presidente eram todas concorrentes da fase final do projeto, ou seja, não concorriam entre si no edital.

A live de Jair Bolsonaro foi veiculada em 15 de agosto de 2019. O presidente criticou abertamente as quatro produções citando que, segundo ele, eram “projetos preparados para receber as verbas”. Bolsonaro mencionou “abortar” os projetos e ainda afirmou que um deles iria “para o saco”. Após as críticas, houve tentativas do governo de cancelar o edital, que chegou a ser suspenso por 180 dias. Mediante ação judicial, o concurso foi realizado e anunciou o resultado na última terça-feira (21/1).
 
“É uma grande e estranha coincidência que justo os quatro projetos criticados pelo presidente não tenham sido contemplados no edital”, afirma Emerson Maranhão, um dos diretores de Transversais, em entrevista ao Correio.

O projeto Transversais partiu do curta Aqueles dois, e visava contar a história de cinco pessoas transgêneros que moram no Ceará. “O único erro que tivemos foi seguir o edital”, diz Emerson, sobre a não contemplação do filme. 
 
Os editais são como concursos públicos e devem selecionar os projetos que atingem os objetivos propostos no texto. Bruno Victor, um dos diretores de Afronte, considera questionável o fato do edital não ter tido nenhuma interferência externa depois de tudo que aconteceu.

Afronte era um dos representantes do DF para receber verbas. Vencedor do prêmio Saruê no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro de 2017, o curta se tornaria uma série documental-ficção sobre a vida de negros LGBTs. “A primeira ação agora é tentar entender  a justificativa dos órgãos para nossas séries não receberem a verba”, afirmou Bruno.“Foi o cumprimento de uma promessa de censura”, afirma Cláudia Priscilla, diretora do projeto Religare queer. “Foi tudo muito assustador, tivemos com a live o entendimento de que estamos em uma guerra cultural”.
 
A ideia da série, que trata sobre templos religiosos inclusivos para comunidade LGBT, tinha como objetivo mostrar que há mais de 90 templos hoje que incluem o público, onde as pessoas podem ser o que são e professar a religião que acreditam. “O nosso objetivo é dar apoio ao público LGBT, nosso projeto é um projeto terno e delicado e não pornográfico como colocou o presidente” afirmou Kiko Goifman refutando as críticas de Bolsonaro de que seria algo misturaria “sexo com religião”.  
 
A Agência Nacional do Cinema afirmou que não vai se pronunciar sobre o caso.
 

Próximo passo


Após o anúncio dos contemplados pelo PRODAV 2018 - TV´s Públicas, as equipes das quatro produções estão montando estratégias em conjunto para lidar com o resultado do processo que as excluiu. “O importante é a união deste grupo. Tudo que for feito vai ser feito de forma coletiva”, colocou Cláudia Priscilla.

“Nós não estamos lançando suspeição sobre os projetos selecionados, achamos este edital muito importante e é importante que ele seja feito”, pontuou Emerson Maranhão. A movimentação que está sendo feita é pra entender a exclusão das quatro produções. “Não é do nosso interesse cancelar o edital, e sim entender o que aconteceu” completou Emerson.

“Somos quatro projetos que fomos censurados por este governo”, falou Kiko Goifman. Ele completou que pretendem fazer as séries acontecerem, só basta saber se “com outra forma de financiamento ou por meios jurídicos”, mas sempre deixando claro que o próprio presidente afirmou que eles já estavam prontos no edital e que por fim acabaram não sendo selecionados. 


*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco

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