Correio Braziliense
postado em 27/01/2020 04:36
São Paulo — “Sinto que as pessoas começaram a entender que os desenhos não são só para crianças, e que os mais velhos também podem assisti-los. É só uma mídia, não um gênero”. É assim que o norte-americano Owen Dennis, criador de Apenas um show e Trem infinito — ambos exibidos no Brasil pelo Cartoon Network —, avalia as mudanças do cenário das animações nos últimos anos. Para ele, esse sempre foi o grande desafio do mercado. “É uma coisa que a Disney estragou. Eles queriam tanto ter animações para crianças, que criaram essa cultura. Mas, agora, há um espaço para animação de adultos, e não só aquelas que têm um personagem bêbado como protagonista”, completa em entrevista ao Correio.
O longa-metragem animado Homem-Aranha no Aranhaverso, de Peter Ramsey, Bob Persichetti e Rodney Rothman, lançado em 2018, é apontado por Dennis como um divisor de águas nesse sentido. O filme foi elogiado por crítica e faturou US$ 375,5 milhões, com foco no público mais velho. “Homem-Aranha no Aranhaverso foi sensacional. Esse é o tipo de filme que faz você convencer as pessoas de que animação não é só para crianças e que, talvez, possamos tentar outras coisas”, defende.
Tentando “essas outras coisas” que Owen Dennis largou a carreira de professor de inglês na China para voltar aos Estados Unidos e retomar o trabalho em animação — ele chegou a fazer faculdade de animação por três anos. O primeiro trabalho foi Apenas um show. Desde o ano passado, ele está no ar com Trem infinito, sucesso nos EUA e recém-lançado no Brasil. A animação, que foi feita para todos os públicos — inclusive, o adulto —, acompanha a protagonista Tulip, uma jovem programadora de jogos que acaba em um trem que abre um portal e segue sem parar. Isso acontece após a jovem se revoltar com os pais, que estão em processo de separação e não conseguem levá-la para um acompanhamento de design de jogos.
O trem, que dá nome à animação, é uma analogia às mudanças da vida de Tulip e uma lição de que é impossível voltar no tempo. “Olhamos o trem como uma metáfora para uma jornada, um trem que está sempre indo em frente e que nunca volta, assim como o tempo, garantindo que todas as experiências que ela tiver serão constantemente para frente. Queremos provar que, mesmo tentando voltar, ela não consegue fazer isso acontecer, porque é impossível. Acho que a metáfora e o simbolismo são as partes mais importantes da série, porque levam a reflexão”, comenta. Uma segunda temporada está garantida.
Outros sucessos
Desde 2014, o Cartoon exibe a animação brasileira O irmão do Jorel, idealizada pelo ator, diretor e quadrinista Juliano Enrico. Sucesso de público na tevê, a produção, que tem três temporadas, ganhou ainda mais projeção quando entrou no catálogo da Netflix. Tudo isso graças à história engraçada e diferente que acompanha um jovem menino, que não tem o nome revelado e é apenas apresentado como irmão do Jorel, ao lado da família e dos amigos.
Outra obra que está no serviço de streaming e que vai muito bem com o público adulto é Rick & Morty. O desenho conta a história de Rick, um cientista brilhante que está sempre em busca de grandes experiências indo parar até em universos paralelos, acompanhado do neto, Morty. A atração conta com quatro temporadas.
Quatro perguntas / Owen Dennis
Como veio a ideia para Trem infinito?
Eu estava no avião indo da China para os Estados Unidos e acordei quando estávamos em cima do oceano. Estava todo mundo ou dormindo, ou olhando para as suas televisões, e era meio estranho, de certa forma. Tudo começou dessa ideia de acordar num lugar desconhecido. Pensei no trem, porque aviões são grande demais. (Risos)
Você se inspirou em alguém para criar a Tulip?
Tulip tem pedaços de muitas pessoas. Ela tem vários aspectos de mim. Eu programava games quando eu era mais novo. E ela é do mesmo lugar que eu, de Minnesota (EUA). Mas a personalidade dos roteiristas está lá também. Todo mundo coloca um pouco de si na Tulip.
Um dos conflitos da personagem é a separação dos pais. Por que decidiu por esse assunto?
Pensei nesse conflito porque é algo que acontece com muita gente. Pelo menos, acontecia muito quando eu estava crescendo. É algo que sei que muita gente teve que lidar. Alguns dos roteiristas tinham essa experiência também. Queríamos que fosse algo real, que fosse relacionável, porque você não vê essa parte do divórcio nos desenhos. Você vê quando os pais já estão separados e já está “tudo ok”. Mas você normalmente não vê o exato momento, quando a pessoa está entendendo o que aconteceu, e como isso a afeta e como a vida vai mudar. A maior parte da série é sobre mudança e como você lida com ela. E isso é uma grande mudança.
Diversidade é um dos temas de Trem infinito. Isso era algo que você buscava também?
Sim, eu acho que é importante seguir o caminho de fazer todos os personagens serem eles mesmos. Tentamos criar algo inclusivo, com pessoas diferentes, com passados e culturas distintas. Tentei isso ao máximo.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.