Diversão e Arte

Série documental sobre Milton Nascimento relembra o Clube da Esquina

A série será distribuída pelo Canal Brasil e reúne Bituca, Lô Borges, Márcio Borges e Ronaldo Bastos

Correio Braziliense
postado em 30/01/2020 06:30
Milton Nascimento: o artista do movimento que mais se destacou ao longo da carreiraRio de Janeiro — Qualquer reunião familiar, repleta de amigos e boa música se torna especial. Partindo desse princípio, surgiu a ideia de criar uma série documental tendo Milton Nascimento e o estúdio, em Minas Gerais, como base para relembrar os sucessos do Clube da Esquina. O projeto idealizado pelo diretor Vitor Mafra e pela produtora Gullane se chama Milton e o Clube da Esquina. A série, que será distribuída pelo Canal Brasil (na televisão e na plataforma de streaming), reúne Bituca (como Milton Nascimento é carinhosamente chamado pelos amigos) e a ilustre presença dos amigos Lô Borges, Márcio Borges e Ronaldo Bastos em mais um capítulo dessa jornada musical.
 
Reunidos novamente em 2020, como na década de 1960, período em que o Clube da Esquina começou a se desenvolver, o quarteto relembra, em cena, histórias e momentos da época, além de gravar e cantar composições que fazem sucesso até hoje. Consolidado nome na música brasileira e internacional, Milton Nascimento foi o precursor do movimento e o artista que mais obteve sucesso na carreira musical. Mesmo assim, não perde a simplicidade e mantém os ideais de um jovem que andava pelas ruas de Belo Horizonte.
 
O cantor esteve presente, ao lado de Lô Borges e Márcio Borges, no evento oficial de lançamento da série Milton e o Clube da Esquina, no Rio de Janeiro, e, sentado ao lado dos companheiros, ressaltou os ideais da carreira. "As coisas acontecem, pois a gente fez tudo baseado na verdade. Isso serve para a música e para os amigos. Nada mais do que isso. Se não fosse a verdade, eu jamais seria músico."
 
Milton e os amigos do Clube da Esquina: série revive a revolução mineira na música popular 
 
O grupo de amigos, apesar de pouca idade, tinha muita disposição e talento. Nomes como Beto Guedes, Tavito e Wagner Tiso fizeram parte desse movimento antes de despontarem em outros projetos. Viviam de música e cinema, os programas favoritos da galera. E, mesmo muito jovens, engajaram-se nas lutas do movimento estudantil em um período ditatorial no Brasil. Tudo isso, em conjunto com o amor pela arte, era inspiração o suficiente para que Milton, Lô e Márcio desenvolvessem inúmeras composições, que viriam a se tornar sucessos e são exibidas no novo programa. Márcio Borges, o mais empolgado integrante durante o evento, acredita que nunca existirá um outro movimento que se equipare ao Clube da Esquina.
 
"Era uma conjunção de coisas que dificilmente vão se reproduzir de novo. Acho que ninguém mais vai fazer isso. Jamais vão conseguir reunir essa quantidade de talentos e pessoas bacanas em um só lugar, em uma esquina, e contar com um artista tão talentoso como Milton", argumentou. 
 
O compositor completou, ainda, fazendo uma crítica ao  novo modelo de se fazer música, ressaltando que o estilo sertanejo vem tomando o espaço de outros músicos. "Isso não significa que o Brasil não esteja lotado de talentos. Apesar do mainstream e de a grande mídia rodar apenas um estilo de música, temos vários diamantes."

Novos diamantes


Na gravação musical de Milton e o Clube da Esquina, alguns cantores foram convidados para participar e dividir o espaço com um dos integrantes do grupo. Seu Jorge, Samuel Rosa, Gal Costa e Ney Matogrosso interpretam canções emocionantes e de muita intensidade ao lado de Milton Nascimento, Lô Borges, Márcio Borges e Ronaldo Bastos. Seu Jorge definiu o momento como "uma graduação na carreira". A nova geração musical, entretanto, não deixou nada a desejar em relação aos cantores que estão há mais tempo em carreira. Iza, Criolo e Maria Gadú também são convidados da série e cantam composições que surgiram quando ainda estavam no ventre materno.
 
Fabiano Gullane, um dos responsáveis pela produção da série, sente-se realizado com o novo produto. "É um tributo para esses artistas que colocaram a amizade e a música no mesmo patamar. É uma obra que atravessa décadas. Tem 50 anos e continua atual, inspirando novas gerações."
 
É o caso de Maria Gadú, que apareceu de surpresa no evento oficial de estreia e comparou a simbologia política e social envolvendo o lançamento do disco em 1970 e a estreia da série em 2020. "O disco e a revisitação surgem em momentos complicados do país como um todo. Esse desmonte que vem acontecendo há uns quatro anos torna esse trabalho que fala sobre união, local de fala e representatividade mais necessário. O Milton representa o povo preto e indígena. Essa é a voz que vem cantando e encantando com essas músicas que falam de amor. Como representante da geração nova, que aprendeu a fazer música ouvindo essas referências, acho que estamos muito bem. Temos Iza, Criolo, Liniker e Xênia França, por exemplo. A nossa geração entendeu o recado passado pelos anteriores e está se transformando dentro da própria fala. Essa mensagem está sendo repetida, pois ela ainda é necessária."

Produção cinematográfica


Responsável pela direção da produção, Vitor Mafra resolveu apostar em um formato diferente de documentário, baseado no livro Os sonhos não envelhecem - Histórias do Clube da Esquina, de Márcio Borges. Nos seis episódios da série, existe um momento musical que é atrelado a um bate-papo posterior envolvendo convidados, amigos e Milton Nascimento. "Não sou documentarista, nem ficcionista, mas, quando o assunto é música, eu tô dentro. O formato da série é interessante, diferente de um documentário. A música fica em primeiro plano e, a partir dela, partimos para as histórias. Levantei a pauta dos diálogos a partir de cada música, sendo que o impacto fica sobre o número musical. Podemos ver nas gravações que o Milton se sentiu à vontade com o repertório e com as conversas, que são agradáveis e naturais", explica.
 
Eduardo Bidlovski (também conhecido como BiD), responsável pela direção musical de Milton e o Clube da Esquina, foi ousado ao não mudar nenhum conceito das músicas originais. Manteve os arranjos e acordes, apostando em uma banda de novatos para a reprodução. "Foi emocionante reproduzir cada música. É o projeto em que mais me emocionei de tudo que fiz até hoje, a troca de olhares deles inspira todo mundo. Montei uma banda e realizamos muitos ensaios. Foi uma oportunidade para novos músicos viverem essa experiência de tocar junto com o Clube da Esquina. Tentei recriar os discos da mesma forma que eles soaram há anos atrás, com timbres de guitarra e arranjos de corda originais, para causar uma sensação nostálgica. Fizemos igual para manter o respeito e o carinho que temos pelas músicas", destaca.

Sempre atuais


Apesar de terem se passado mais de 50 anos dos primeiros movimentos do Clube da Esquina, a musicalidade desenvolvida por eles continua se renovando. Em 2019, os músicos realizaram uma turnê comemorativa ao disco duplo Clube da Esquina, com shows de ingressos esgotados no Brasil e em outros nove países. A renovação, segundo Lô Borges, não surge com novas músicas ou novos integrantes, mas com uma mudança de público. "Esse trabalho com shows nos mostra que é possível fazer 20 anos várias vezes durante a vida. O público se renova. Os nossos contemporâneos estão na plateia, mas os filhos e netos, também. Isso se perpetua e nos dá a oportunidade de fazer mais aniversários. A renovação da chama da canção, da composição, isso é uma coisa que continua sempre presente nos shows e na nossa vida. É muito bacana estar dividindo, mais uma vez, com o Bituca, essa história linda que foi construída em Belo Horizonte", conta.

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco.
*O repórter viajou a convite do Canal Brasil

Serviço
Milton e o Clube da Esquina
Novos episódios toda sexta-feira. Estreia nesta sexta-feira (31/1) no Canal Brasil, às 22h30. Classificação indicativa livre.
Horários alternativos: Sábado, às 13h; Domingo, às 2h e às 9h; Segunda-feira, à 0h15

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