Diversão e Arte

'A pior prisão é a autocensura', diz membro da Pussy Riot no Brasil

A artista lamenta as recentes tentativas de censura contra artistas brasileiros, mas considera que ''o mais difícil foi saber do assassinato de Marielle''

Correio Braziliense
postado em 31/01/2020 16:56

A artista lamenta as recentes tentativas de censura contra artistas brasileiros, mas considera que ''o mais difícil foi saber do assassinato de Marielle''Maria 'Masha' Alyokhina, uma das integrantes da banda punk Pussy Riot, que passou dois anos presa na Rússia após uma performance crítica, aconselha os artistas brasileiros a não se deixarem abalar pelo conservadorismo do presidente Jair Bolsonaro

 

"A prior prisão é a autocensura. Você pode passar alguns anos dentro de um presídio, mas na autocensura você pode permanecer preso a vida inteira", disse a artista russa, de 31 anos, antes de se apresentar em São Paulo na última quinta-feira à noite.  

 

Vestida toda de preto, com exceção do característico capuz amarelo que usava na cabeça, Alyokhina subiu ao palco durante o festival "Verão Sem Censura", organizado pela prefeitura paulistana com a proposta de exibir espetáculos que foram alvo de censura em 2019, no primeiro ano do governo Bolsonaro.  

 

À frente da performance, a jovem usou o espaço para apresentar a causa que defende, além de mostrar a trajetória da Pussy Riot desde o conhecido protesto contra o presidente Vladimir Putin, em 2012, em uma igreja ortodoxa de Moscou. 

 

"Acreditamos na história que nos contaram, mas, onde está a revolução?", cantou Alyokhina e as outras três integrantes do grupo no show em São Paulo, cujo cartaz era uma ilustração no qual desenhos de lixo e resíduos tóxicos formam o rosto de Bolsonaro.    

 

"Tenho certeza de que o Estado, o governo, não deveria dizer aos artistas o que devem ou não fazer, porque isso não tem a ver com eles. E é por isso que estamos em um festival contra a censura", ressaltou Alyokhina.

 

A artista lamenta as recentes tentativas de censura contra artistas brasileiros, mas considera que "o mais difícil foi saber do assassinato de Marielle", disse.  

 

A agenda de Alyokhina, que segue viagem pelo país com seu filho adolescente, terá passagens por Recife e pelo Rio de Janeiro, onde lançará a edição brasileira do seu livro "Riot Days" (Título sem tradução para o português). A obra traz reflexões pessoais e apresenta a sua experiência durante o tempo em que esteve na prisão.  

 

"A cultura e a arte representam perigo porque são (voltadas) para as pessoas. Por isso os ditadores têm tanto medo da arte. Mas isso não é motivo para pararmos (de agir) porque temos a responsabilidade de continuar", argumenta a ativista, que se mostra otimista ao notar sinais de maior resistência em seu país.  

 

"Na Rússia está cada vez pior. O que há de positivo é que começamos a nos reunir e a protestar. Somos diferentes, temos visões políticas que às vezes são distintas, mas todos estamos em consenso quanto a liberdade de expressão e de imprensa. Não apenas os cidadãos comuns, mas também os artistas famosos se arriscam à prisão ao protestar. Mas ninguém deixa de fazê-lo", acrescenta. 

 

Ao dividir o palco com a cantora Linn da Quebrada, Alyokhina gritou: "Sei que no inferno serei uma personalidade emérita".  

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