Diversão e Arte

Galerias promovem encontro e debate entre artistas e público

Iniciativas são boa oportunidade para compreender e se aprofundar na arte contemporânea

Correio Braziliense
postado em 01/02/2020 06:03
André Santangelo estará hoje na Referência
Dialogar é sempre uma boa maneira de compreender o outro. Talvez a mais infalível. Talvez até a única. Mas dialogar também pode ser uma forma de compreender a si próprio. Pensando o diálogo como uma via de mão dupla, as galerias independentes da cidade apostam nos encontros entre artistas e público para ampliar o conhecimento e movimentar as exposições, cujos pontos altos, na maioria das vezes, são os coquetéis de abertura. Durante as próximas duas semanas, o brasiliense terá pelo menos cinco oportunidades de encontrar, questionar e ouvir artistas que estão com exposições em cartaz na cidade.

Neste sábado (1º/2), às 11h, o artista André Santangelo participa de encontro com o público na Referência Galeria de Arte para falar sobre a obra desenvolvida para a exposição Casa do Lago cheia de mim, uma série de fotografias que investigam a qualidade pictórica da fluidez da água. “Esses encontros são fundamentais”, acredita Santangelo. “Ao mesmo tempo que é bonito o distanciamento para contemplação da obra, é interessante também entender e desfrutar de determinados contextos do artista. Isso amplia o entendimento da poética, a interação e a satisfação com a obra.” Além disso, Santangelo lembra que esse tipo de evento também estimula a formação de público. Quanto mais contato entre o público e os artistas, mais intimidade os visitantes adquirem com a arte e mais propensos ficam a manter uma continuidade de visitas a exposições, galerias, museus e centros culturais.

Courinos vai conversar com o público na Alfinete Galeria

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A artista Courinos, que participa de uma conversa com o público neste sábado, às 17h30, na Alfinete Galeria, junto com a também artista Anabi, encara esses encontros como uma troca. Para ela, é importante porque atrai, também, um público acadêmico e, sobretudo, ajuda a organizar as ideias sobre o próprio trabalho. “É sempre um exercício, assim como a escrita. A minha expectativa é realmente me desafiar, porque não tive essa roda de conversas quando fiz minha primeira individual e agora tenho esse momento de amadurecer a fala sobre o próprio trabalho. Você ganha segurança”, acredita a artista, que ainda está em formação universitária e é novata no circuito de arte.

O galerista Rogério Carvalho mantém um programa de acompanhamento de artistas que, periodicamente, resulta em exposições na Galeria XXX Arte Contemporânea. Encontros entre público e artistas fazem parte do cronograma do espaço. No próximo dia 10, a galeria recebe as seis artistas da mostra Mulheres à margem, em cartaz no local. “É essencial. É o momento da troca mais aprofundada. Da voz ser realmente entendida”, garante Carvalho. “A obra é resíduo. O que importa é o processo do artista, e é no momento da conversa que podemos aprender mais sobre. O resultado de uma exposição não deve ser avaliado apenas pelo conjunto de obras e curadoria, mas, sim, e principalmente, pela clareza do processo. É nesse momento que o público entra em contato com as delicadezas do artista. É o momento mais sublime de qualquer evento.”

Às vezes, a arte contemporânea pode ser muito hermética. Exibida em espaços eventualmente intimidantes ou nem sempre acessíveis, carece da popularidade conquistada com certa facilidade por áreas como o cinema ou a música. “Esses encontros ajudam a popularizar o que é o trabalho do artista plástico, a explicar para as pessoas, porque as artes plásticas, de fato, são menos conhecidas do público, então a gente usa esse espaço para democratizar”, diz Alice Lara, que inaugura exposição na Referência no dia 6, conversa com os visitantes no dia 8 sobre o papel das residências artísticas, arte, ativismo e profissionalização de artistas mulheres e periféricos. A artista terá a companhia de João Angelini.

Pintora com experiência há mais de uma década e um trabalho protagonizado com  interesse pelo mundo animal, Alice conta que a maior curiosidade surgida nessas conversas tem a ver com a técnica utilizada. “Ultimamente, a questão da animalidade tem despertado curiosidade. Mas geralmente as pessoas querem saber o que estou trabalhando especificamente. E também sobre o processo técnico da pintura, as pinceladas, como faço certas coisas. Isso é uma questão forte”, conta.

O processo criativo, no caso de André Santangelo, também é alvo de curiosidade. “E é o que mais importa, porque, entendendo esse processo, você adentra mais na poética. Acho que é uma das coisas importantes para formar público”, aponta. Para a galerista e artista Gisel Carriconde, proprietária da DeCurators, há outro ponto importante nesses encontros. “As falas, para mim, trabalham com o próprio artista, para a própria formação de artistas. Falar sobre o trabalho é superimportante, porque o artista tem que articular um pensamento sobre o que ele está fazendo”, diz. É o momento de olhar para o próprio trabalho e pensar sobre o que ele é capaz de trazer de novo e qual o significado para a trajetória. O feedback do público ajuda o artista a estruturar o próprio pensamento. Ainda este mês, a DeCurators deve receber João Angelini para um encontro com o público.

Encontro com André Santangelo
Sábado (1º/2), às 11h, na Referência Galeria de Arte

Encontro com Courinos e Anabi
Sábado (1º/2), às 17h30, na Alfinete Galeria

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