Diversão e Arte

Festa das Águas, na Prainha, terá diversas atrações em homenagem à Iemanjá

Além de prestigiar a orixá, o evento estende as reverências para Oxum, rainha da água doce e dona dos rios e cachoeiras

Correio Braziliense
postado em 02/02/2020 06:31
A festa é uma tradição da Praça dos Orixás 
“Iemanjá, Odoyá Odoyá, rainha do mar”, entoa Dorival Caymmi em sua música em homenagem à mãe das águas. Também conhecida com Mãe de Todos os Orixás, Dandalunda, Inaé, Ísis, Janaína, Maria, Princesa de Aiocá; Iemanjá é celebrada oficialmente em 2 de fevereiro. “É um dia de suma importância, o 2 de fevereiro, porque há uma consciência nacional sobre os valores que a divindade africana Iemanjá nos estabelece. É um momento para todos que buscam uma identidade afro-religiosa concentrarem o pensamento na mesma energia que é Iemanjá, explica a Mãe de Santo, Mãe Vilcilene de Jagun, líder religiosa do Ilé Ase Jagun Onigbejá ti Osun.

Nas canções do samba e da música popular, na prece do pescador de água doce ou salgada, no pular de ondas na virada dos anos, há sempre um momento de prece dirigido à figura de Iemanjá. Orixá feminino das religiões afro-brasileiras, talvez um dos mais populares do país, o nome significa “Mãe cujos filhos são como peixes”, do Yorubá “Yèyé omo ejá. “Iemanjá é o símbolo da tranquilidade, da fartura alimentar, de poder ensinar seus filhos a pescar e voltar com o alimento. Simboliza família, Iemanjá é protetora da família”, explica a líder religiosa.

Para comemorações do dia de Iemanjá, as comunidades religiosas de matriz afro-brasileira do DF e entorno resolveram se reunir e fazer parcerias para uma grande celebração chamada Festa das Águas, que ocorre hoje, na Praça dos Orixás, apelidada de Prainha. Tanto a Festa de Iemanjá quanto a Praça dos Orixás foram tombados como Patrimônios Culturais Imateriais do Distrito Federal, em dezembro de 2018.

A festa faz parte de um projeto idealizado pelo Instituto Rosa dos Ventos e fomentado pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal. “Há também parceria com o Conselho do Direito do Negro, parte da Subsecretaria da Igualdade Racial responsável pela reunião dos religiosos que farão parte do momento sagrado pela manhã”, explica Stéffanie Oliveira, produtora do evento.

Segundo a organização, a festa tem um espaço de ocupação cultural, uma feira afro, composta por expositores locais, e uma praça de alimentação. O bolinho de Iansã, o famoso acarajé, está entre as opções gastronômicas. Além disso, rodas de samba, oficinas de dança afro e outras manifestações artísticas também compõem esse espaço. O repertório das apresentações traz músicas que reverenciam as rainhas das águas, Iemanjá e Oxum, com Ijexas e sambas de grandes nomes do país: Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Beth Carvalho, Candeia, Cartola, Roque Ferreira e Nelson Cavaquinho. Além de composições autorais de músicos da cidade, com enfoque na temática religiosa de matriz afro- brasileira.



Para além da religiosidade, essas expressões na arte, dança, música, moda e gastronomia são também uma forma de resistência e reafirmação do povo negro, dos terreiros assim como uma forma de fortalecer autoestima, sentimento de identidade e pertencimento.“Eu enquanto mulher negra e artista me sinto muito feliz por poder participar desse festejo e também poder cantar em louvor a nossa grande mãe”, expõe Kika Ribeiro.

Apesar de sinônimo de festa, energia, e purificação, os elementos simbólicos das religiões afro- brasileiras ainda sofrem estigmatização e discriminação, geradas pelo preconceito e intolerância religiosa. “Recentemente, o terreiro da Carolina Saraiva, nossa produtora, sofreu um ataque por meio de um incêndio criminoso que acabou com o acervo de roupas de santo acumulado ao longo de 50 anos, além do roubo de artigos sagrados como os tambores”, relata Mari Sardinha, cantante e cavaquinista no grupo “Que trabalho é esse?”.

A resistência e a luta pela ocupação dos espaços têm trazido avanços, principalmente com o incentivo às manifestações culturais, sociais e artísticas.“No momento, estou trabalhando no projeto Samba das Sete Mulheres que traz como fundamento o culto e a celebração afro-brasileira e também o empoderamento da mulher negra dentro da cultura afro e do samba, relata Kika Ribeiro, que se apresenta junto ao grupo Filhos de Dona Maria.

Os artistas falam sobre suas expectativas para o evento, como é o caso de Mari Sardinha, que encerra o evento com a roda de samba do Que Trabalho é Esse?: “São as melhores possíveis já que se trata de uma festividade considerada patrimônio cultural nacional, que reafirma a resistência das comunidades de religiões de matriz africana, e que historicamente sofre ataques por intolerância religiosa.”

Já Khalil Santarém, cavaquinista e cantante do grupo Filhos de Dona Maria, conta sua experiência em edições anteriores da festa: “Já participei da cerimônia em homenagem a Iemanjá em 2 de fevereiro na Prainha em anos anteriores e a festa é linda. O convite para participar da festa nos deixa muito honrados tendo em vista a importância dessa celebração para o povo de terreiro”.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco



Sentido das oferendas

Mãe Vilcilene explica a importância das oferendas nas religiões afro-brasileiras: “O orixá Iemanjá responde pela tranquilidade do lar. Nossa vida é como um barco, e no mar precisamos dessa tranquilidade, por isso colocamos no barco presentes para Iemanjá de modo que ela aceite os presentes e traga a nossas vidas as bênçãos que precisamos.” Por exemplo, ela cita a rosa branca e essência de alfazema, para limpeza, calma e energia positiva.

Stéffanie Oliveira, da produção Rosa dos Ventos aconselha quem pretende levar sua oferenda: “Uma coisa muito importante em relação às oferendas: a gente não pode jogar plástico, não pode jogar vidro de perfume no lago, precisamos dessa consciência de vir e trazer a sua florzinha, trazer sua oferenda, não jogar coisas que são lixo e ter esse cuidado. Vamos colocar oferendas biodegradáveis para preservar as águas que são sagradas.”



Festa das Águas

Praça dos Orixás 
Prainha do Lago Sul (St. de Clubes Esportivos Sul Trecho 2 — Brasília). Hoje, a partir das 9h da manhã, aberto a toda comunidade.


Outros eventos também embalam as comemorações ao dia da Rainha das Águas
Como a Festa de Iemanjá pré-carnaval do bloco Periga Ser, que vai contar com os Djs El Bruxxo e Fernoca, com a banda Dona Cremilda e com o cantor Júnior Canhoto. A festa começa às 17h, no Caixa Dagua Bar Do Kareca, que fica na QND 14, lote 9 de Taguatinga. 


Festa de Iemanjá, Periga Ser - Bloco Pré-Carnaval
Caixa D’água Bar Do Kareca, que fica na QND 14, lote 9 de Taguatinga. Hoje, às 17h, aberto a comunidade.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags