Diversão e Arte

Saga de uma família

Diretor de um longa-metragem com seis horas de duração fala sobre corrupção, empoderamento feminino e admiração pelos colegas da Itália

Correio Braziliense
postado em 03/02/2020 04:36
A melhor juventude: painel de 40 anos de uma família compactado em primorosa obra


Aos 69 anos, o premiado diretor de cinema Marco Tullio Giordana foge da possibilidade de se tornar um “daqueles velhos entediantes”, como ele enfatiza, em entrevista exclusiva ao Correio. Curiosamente, desapegado de nostalgia, no começo dos anos 2000, conquistou a mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, justamente com um portentoso panorama da cultura e das tradições familiares italianas, numa fita de seis horas de duração — que, inédita no Brasil, chegou aos cinemas, há alguns dias, para ser exibida em duas sessões com três horas de duração.
 
Solidariedade, ódio, terrorismo e problemas sociais são alguns dados na trama do longa que acompanha por 40 anos a trajetória de integrantes da família Carati, em especial os irmãos Nicola (Luigi Lo Cascio) e Matteo (Alessio Boni), e amigos. Na primeira desilusão, os universitários descobrem os maus-tratos que cercam a perturbada garota Giorgia (Jasmine Trinca). O amplo painel traceja problema perpetuado nas democracias, como demarca o diretor: “A corrupção continua sendo nosso problema central”.

Numa jornada que promove a justaposição de artes como literatura, artes plásticas, música e fotografia, os irmãos vivenciam encontros e desencontros por Florença (na famosa enchente de 1966), pelas ilhas de Stromboli e Sicília, por Turim; junto a Roma, e até mesmo pela Noruega.

Camada extra de encantamento em A melhor juventude está na trilha sonora. Além de The house of the rising sun e de peças de Ravel, Georges Delerue e Piazzolla, figuram a clássica A chi (na voz de Fausto Leali. Entre as personagens femininas, está a dúbia pianista Giulia (Sonia Bergamasco), a vivaz Mirella (Maya Sansa), e a excepcional interpretação de Adriana Asti (atriz de filmes de Luís Buñuel, Pier Paolo Pasolini e Bernardo Bertolucci), na pele de uma professora desiludida.

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