Diversão e Arte

Brasília, pela visão de Peter Scheier, estampa mostra paulistana

Fotógrafo alemão, refugiado no Brasil no século passado, realizou registros importantes sobre a construção da capital

Correio Braziliense
postado em 04/02/2020 07:28
IMS paulistano expõe a arte do alemão Peter Scheier

Moldada dentro de padrões de modernidade e inovação em pleno século 20, Brasília foi criada a partir do nada. Mesmo em uma época — década de 1950 — na qual o Brasil estava começando a desenvolver novas tecnologias de construção, a capital federal foi planejada em pouquíssimo tempo e detém o título de maior cidade do mundo construída no século 20. Esses conceitos foram suficientes para inspirar o fotógrafo alemão Peter Scheier, à época, a utilizar a nova capital como tema de um trabalho fotográfico. 

Os registros fotográficos realizados por Peter Scheier nos anos de 1958 e 1960 — durante a construção de Brasília — estão presentes na exposição do IMS Paulista, em São Paulo. As imagens foram selecionadas do acervo do fotógrafo (localizado no instituto carioca), em um processo que durou cerca de dois anos. A curadoria do evento está sendo realizada por Heloisa Espada, que fala sobre a história das imagens.
 
“São fotografias de 1958 e 1960, dois anos em que Peter esteve na capital, que ainda estava em construção. Ele vendeu o material fotográfico para agências internacionais e as fotos também se encontram reunidas no livro Brasília Vive, que reforça o argumento visual de que construir Brasília era possível. O fotógrafo expõe toda a beleza da cidade com um olhar peculiar e diferente. Mesmo em construção, ele explora o fato da nova capital ser uma cidade muito habitável, com crianças e funcionários, utilizando um argumento contrário ao que era exposto, negativamente, pelas pessoas na época. A fotografia de Peter Scheier traz a arquitetura de Brasília, ainda em construção, com a característica de composições sobrepostas dos planos”, explica. 
 
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A exposição é a primeira individual sobre o fotógrafo desde a década de 1970, no Brasil. O conjunto de fotografias expostas sobre Brasília conta, ainda, com um texto motivador que trazem os 35 anos de atuação de Peter Scheier no país. As palavras da curadoria são reforçadas dentro da produção textual que acompanha as imagens da capital. Dá para se ter uma ideia do que era imaginado para a inovadora cidade. 

“O objetivo da publicação foi mostrar que a nova capital já não era um lugar inóspito no interior do país. [...] No Eixo Monumental de Brasília, ele investiu numa visão intermediada pelas amplas fachadas de vidro das obras de Oscar Niemeyer, explorando a integração entre o interior e o espaço público proposta por aquela arquitetura. Nas fotos do eixo residencial, o elemento humano é protagonista. [...] Em consonância com o discurso desenvolvimentista da época, a Brasília de Scheier representa a promessa de modernidade e de tempos melhores para o país”, relata um trecho do texto. 

Brasília e Israel 
 
Existe uma conexão entre Brasília e Israel, país do Oriente Médio. Na capital federal, Scheier participou do processo de construção. Em terras israelenses, foi convidado para a cobertura da comemoração e divulgação de 10 anos em 1959 (data próxima aos dois anos em que o fotógrafo esteve em Brasília). 

Com um pensamento fotográfico semelhante no triênio 1958-1959-1960, Peter realizou os dois trabalhos e percebeu que o projeto de uma “modernidade na terra prometida” se encaixava para as duas situações. 

“Nas paredes da exposição ficam os destaques de alguns conjuntos, sendo que os de Brasília e Israel se encontram no fim da exposição, lado a lado. Existe a relação da construção de Brasília com a de Israel, principalmente por conta dessa utopia de serem lugares com novas simbologias. São construções de uma capital e de um país que, naquele momento, prezavam pelo desenvolvimento, modernidade e a esperança de uma vida nova. Para os israelenses, era a terra prometida. Tem essa questão de ser um olhar semelhante na questão da aposta em um novo lugar. As arquiteturas, modernas, repetiram os recursos da transparência e dos pilotis, por exemplo. Conceitos bem parecidos, mesmo com as particularidades dos países”, conta Heloisa Espada. 

Refugiado 

Antes de desembarcar em terras brasileiras, Peter Scheier viveu na Alemanha e trabalhou como comerciante e contador para ganhar dinheiro. Era fotógrafo amador e tinha como hobby a utilização de diversas câmeras fotográficas. Entretanto, com a aproximação do governo de Getúlio Vargas com o regime nazista de Hitler, a entrada de imigrantes no Brasil era muito difícil. Mesmo assim, Scheier conseguiu, por meio de uma carta convite, adentrar no país. 

“Ele veio para o Brasil como refugiado em 1937. Começou trabalhando em um frigorífico como salsicheiro. Ao mesmo tempo, vendia cúpulas de abajur. Scheier uniu algumas cúpulas de abajur e tirou fotos delas, de formas diferentes. As fotos, divulgadas, fizeram sucesso e a Lorenzetti entrou em contato pedindo para ele fazer algo semelhante. 

Daí pra frente, ele ganhou concursos de fotografia promovidos pelo Estado, aprofundou-se em cursos de tipografia e fotogravura e foi contratado para um suplemento do Estado de São Paulo. Nos anos 1940, ele abriu um estúdio de fotografia, que funcionou até 1975. Além das atividades do estúdio, a empresa realizava fotos de arquitetura e publicidade, eventos sociais, casamentos e formaturas”, lembra a curadora. 

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco.

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