Diversão e Arte

92ª edição do Oscar tem 41 indicações e muita emoção

A cerimônia da 92ª edição do Oscar promete quebrar sonolência de premiações recentes

Correio Braziliense
postado em 09/02/2020 06:30
1917: filme de guerra tem toda panca de vitoriosoQuatro, dos oito principais filmes indicados na 92ª edição do Oscar concentram 41 indicações. Hollywood será palco de um duelo de gigantes. A audiência em todo o planeta deve ultrapassar a 29 milhões de espectadores. O Brasil, este ano, está no páreo, com as participações de Petra Costa e, indiretamente, de Fernando Meirelles (leia quadro).
Na briga entre os longas, 1917 é aposta quase certa (mas surpresas podem ocorrer esta noite) para a consagração final. O filme do britânico Sam Mendes venceu o Globo de Ouro, o Bafta e premiações específicas de sindicatos. Mas, O irlandês, de Martin Scorsese; e Era uma vez em... Hollywood, de Quentin Tarantino têm chances.
O pacifista Jojo Rabbit pode levar a categoria de roteiro adaptado, desbancando a quarta versão para Adoráveis mulheres (numa recriação de Greta Gerwig), um símbolo moderno de cinema feminista. Vale lembrar que é recorde a indicação de 64 mulheres (33%) este ano. Presente no longa de Gerwig, Laura Dern deve vencer, na categoria de atriz coadjuvante: mas, por outro filme — História de um casamento.
Parasita marca a entrada de sul-coreanos na festa
Críticos

Entre os diretores, a disputa também é acirrada: Sam Mendes, Martin Scorsese e Quentin Tarantino estão na dianteira no gosto dos críticos. Correm por fora Todd Phillips (do fenômeno Coringa, com 11 indicações) e o sul-coreano Bong Joon Ho, que cravou seis indicações para um filme estrangeiro (Parasita). O filme é o sexto da história, a figurar como indicado a filme e produção em língua estrangeira. Todos os outros cinco venceram apenas na última categoria. Para roteiro original, Tarantino e Bong Joon disputam cabeça a cabeça.
A cerimônia da 92ª edição do Oscar promete quebrar sonolência de premiações recentes 
A categoria central dos atores tem tudo para confirmar nomes: Joaquin Phoenix (Coringa), numa das mais comentadas interpretações da temporada, dificilmente ficará sem a estatueta. Ao lado dele, a atriz Renée Zellweger (de Judy) tem o considerável respaldo de dar voz (literalmente) à outra artista: ela personifica Judy Garland, na telona. Deve levar como melhor atriz, a exemplo do que aconteceu, no passado, com Barbra Streisand, Liza Minnelli e Emma Stone: todas elogiadas como atrizes-cantoras.
O Oscar 2020, que tem na lista a segunda mais jovem concorrente na categoria melhor atriz (Saoirse Ronan, de Adoráveis mulheres), traz uma artilharia de pesos pesados: com veteranos alinhados na categoria de ator coadjuvante. Ainda que Brad Pitt seja o virtual vencedor (por Era uma vez em... Hollywood), há Joe Pesci, Anthony Hopkins, Tom Hanks e Al Pacino.
 
Petra Costa, junto com outros produtores de Democracia em vertigem 
Toque brasileiro na festa

O Oscar desta edição reservou lugar para um filme brasileiro, que vem repleto de polêmica: a diretora Petra Costa foi destacada para competir com o documentário Democracia em vertigem. A produção traz um painel pessoal sobre o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rosseff. Petra entra em campo, contra os títulos For Sama e The cave, ambos bastante cotados para vencer.
De modo indireto, Fernando Meirelles é outro brasileiro que brilha, nos bastidores de Dois papas, filme indicado para três estatuetas. Há 16 anos, Meirelles disputou a categoria de melhor direção, com Cidade de Deus. Repleto de adendos de Meirelles, o roteiro de Dois papas (assinado por Anthony McCarten) está candidato ao Oscar, mesmo caso dos atores da produção Jonathan Pryce e o coadjuvante Anthony Hopkins. 
O histórico de brasileiros presentes em filmes contemplados por indicações ao Oscar não é pequeno. Para além das indicações de fitas como O pagador de promessas, O que é isso, companheiro?, O quatrilho e Central do Brasil, houve reconhecimento (apenas em indicação) para personalidades como Fernanda Montenegro, Juliano Salgado, Hector Babenco, Ary Barroso, Paulo Machline, Carlinhos Brown e Sergio Mendes. 


Entre a emoção e a política


Marcar posição política e revelar sonhos pessoais sempre fizeram parte do show dos artistas vencedores dos prêmios Oscar, ao longo de décadas. Nessa linha, não são poucos os momentos impactantes da história da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. 
A transmissão dos Oscar é composta de situações como a vitória de Ray Milland (Farrapo humano), que, como melhor ator, em meados dos anos de 1940, se limitou a dizer estar “profundamente honrado” com a pequena estátua do Oscar na mão. A atriz Greer Garson (em 1943, por Rosa da esperança) extrapolou, em quatro minutos de fala, no discurso que teve como pontapé a expressão: “Como essa é a oportunidade de toda uma vida, espero que vocês não se importem se eu tentar expandir as palavras apenas um pouco...”.
No plano político, o Oscar sempre se mostrou proficiente, até mesmo quando o discurso foi encampado por terceiros, representantes dos ganhadores. É célebre o caso de Marlon Brando, ator que venceu, em 1973, e colocou uma atriz a falar em nome dos indígenas com as culturas sabotadas pela máquina dos sonhos de Hollywood. Considerado um delator, no período de perseguição a comunistas, nos anos de 1950; em 1999, o diretor Elia Kazan, por exemplo, foi votado para um prêmio honorário. Entre aplausos e apatia (de facção ressentida dos membros da Academia), demarcou: “Quero agradecer a todos vocês. Eu acho que posso simplesmente sair de mansinho”.
Raridade foi a presença e o discurso de Woody Allen, na festa de 2002. Aos 66 anos, “passado um terço da vida”, ele contou, no palco, do inusitado telefonema do comitê organizador da festa: achou que era “uma espécie de recall”, para a devolução dos quatro prêmios conquistados, ou mesmo um pedido de desculpas pela não indicação (do fracassado O escorpião de Jade), em qualquer categoria. Mas era, na verdade, para apresentar um clipe de filmes rodados em Nova York — cidade abalada com os ataques de 2001. “Por Nova York, faria qualquer coisa: botei meu terno, e estou aqui”, disse.


Falas históricas

Vanessa Redgrave, atriz coadjuvante, por Julia (1978)
“Houve milhões que deram a vida e estavam preparados para sacrificar tudo na luta contra a Alemanha nazista, fascista e racista. Eu os saúdo e presto homenagem a vocês”



William Hurt, vencedor em 1986, como ator de O beijo da mulher aranha
“Eu não esperava estar aqui, então não sei o que vou dizer. Quero agradecer às pessoas corajosas no Brasil com quem fiz este filme. Saudades, Brasil. Tenho muito orgulho de ser ator”


Elizabeth Taylor, em 1993, ao vencer o prêmio humanitário Jean Hersholt
“Estimulo-os a extrair das profundezas do seu ser a prova de que somos uma raça humana. Para evidenciar que nosso amor supera nossa necessidade de odiar. Que nossa compaixão é mais convincente do que nossa necessidade de culpar. Que nossa sensibilidade para com os necessitados é mais forte que nossa ganância. Que nossa capacidade de raciocinar supera nosso medo. E que, no final de cada uma de nossas vidas, possamos olhar para trás e nos orgulhar de ter tratado os outros com a bondade, dignidade e respeito que todo ser humano merece”


Andrzej Wajda, lendário cineasta, ao receber prêmio honorário, em 2000
“Aceito esta grande honra como um tributo a todo o cinema polonês. O tema de muitos de nossos filmes foi a guerra, as atrocidades do nazismo e as tragédias trazidas pelo comunismo. É por isso que hoje agradeço aos meus compatriotas por ajudarem meu país a se juntar à família das nações democráticas, a civilizações ocidentais, suas instituições e com respaldos estruturais”

Robert Redford, no palco do Oscar, em 2002
“Como podemos ver ultimamente, o mundo ao nosso redor segue mudança radical (...) Enquanto todos lutamos para encontrar o caminho, para entender o caos, a destruição e a tragédia, uma palavra que surge é a palavra liberdade... Há sua importância, sua raridade e há a felicidade de torná-la efetiva. (...) A glória da arte é que ela não apenas pode sobreviver à mudança, mas também pode liderá-la”


Halle Berry, primeira atriz central negra, a vencer em 2002
“Este momento é muito maior que eu. Este momento é para Dorothy Dandridge, Lena Horne, Diahann Carroll. É para as mulheres que estão ao meu lado, Jada Pinkett, Angela Bassett, Vivica Fox. E é para toda mulher de cor sem nome e sem rosto que agora tem uma chance, porque houve uma abertura de porta, esta noite. Estou repleta de honra” 


Michael Moore, em 2003, vencedor pelo documentário Tiros em Columbine 
“Vivemos em uma época em que temos um homem enviando gente para a guerra (no Iraque) por razões fictícias (...) Nós somos contra esta guerra, Sr. Bush! Que vergonha, Sr. Bush! Você devia se envergonhar!”


Lupita Nyong´o, vencedora de atriz coadjuvante, em 2014, por 12 anos de escravidão
“Quando olho para esta estatueta de ouro, ela me faz lembrar, a mim e a toda criança, que não importa de onde você seja, seus sonhos são válidos. Obrigada” 

Leonardo DiCaprio, em 2016, ao vencer por O regresso
“As mudanças climáticas são reais. Ocorrem, agora. É a ameaça mais urgente que todos enfrentam e precisamos trabalhar juntos e não procrastinar. Precisamos apoiar líderes em todo o mundo que não falam pelos grandes poluidores ou pelas grandes corporações, mas que falam por toda a humanidade. Para os povos indígenas do mundo. Para os bilhões e bilhões de pessoas desfavorecidas que serão as mais afetadas. Para os filhos dos nossos filhos”

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