Diversão e Arte

Entre a emoção e a política

De protestos a homenagem à família, discursos dos vencedores estarão entre os pontos altos da noite de hoje

Correio Braziliense
postado em 09/02/2020 04:07
De protestos a homenagem à família, discursos dos vencedores estarão entre os pontos altos da noite de hoje
Marcar posição política e revelar sonhos pessoais sempre fizeram parte do show dos artistas vencedores dos prêmios Oscar, ao longo de décadas. Nessa linha, não são poucos os momentos impactantes da história da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

A transmissão dos Oscar é composta de situações como a vitória de Ray Milland (Farrapo humano), que, como melhor ator, em meados dos anos de 1940, se limitou a dizer estar “profundamente honrado” com a pequena estátua do Oscar na mão. A atriz Greer Garson (em 1943, por Rosa da esperança) extrapolou, em quatro minutos de fala, no discurso que teve como pontapé a expressão: “Como essa é a oportunidade de toda uma vida, espero que vocês não se importem se eu tentar expandir as palavras apenas um pouco...”.

No plano político, o Oscar sempre se mostrou proficiente, até mesmo quando o discurso foi encampado por terceiros, representantes dos ganhadores. É célebre o caso de Marlon Brando, ator que venceu, em 1973, e colocou uma atriz a falar em nome dos indígenas com as culturas sabotadas pela máquina dos sonhos de Hollywood. Considerado um delator, no período de perseguição a comunistas, nos anos de 1950, em 1999, o diretor Elia Kazan, por exemplo, foi votado para um prêmio honorário. Entre aplausos e apatia (de facção ressentida dos membros da Academia), demarcou: “Quero agradecer a todos vocês. Eu acho que posso simplesmente sair de mansinho”.

Raridade foi a presença e o discurso de Woody Allen, na festa de 2002. Aos 66 anos, “passado um terço da vida”, ele contou, no palco, do inusitado telefonema do comitê organizador da festa: achou que era “uma espécie de recall”, para a devolução dos quatro prêmios conquistados. Mas era, na verdade, para apresentar um clipe de filmes rodados em Nova York — cidade abalada com os ataques de 2001. “Por Nova York, faria qualquer coisa: botei meu terno e estou aqui”, disse.



Falas históricas


Wanessa Redgrave - atriz coadjuvante, por Julia (1978)
• “Houve milhões que deram a vida e estavam preparados para sacrificar tudo na luta contra a Alemanha nazista, fascista e racista. Eu os saúdo e presto homenagem a vocês”


William Hurt - vencedor em 1986, como ator de O beijo da mulher aranha
• “Eu não esperava estar aqui, então não sei o que vou dizer. Quero agradecer às pessoas corajosas no Brasil com quem fiz este filme. Saudades, Brasil. Tenho muito orgulho de ser ator”


Elizabeth Taylor - em 1993, ao vencer o prêmio humanitário Jean Hersholt
• “Estimulo-os a extrair das profundezas do seu ser a prova de que somos uma raça humana. Para evidenciar que nosso amor supera nossa necessidade de odiar. Que nossa compaixão é mais convincente do que nossa necessidade de culpar. Que nossa sensibilidade para com os necessitados é mais forte que nossa ganância. Que nossa capacidade de raciocinar supera nosso medo. E que, no final de cada uma de nossas vidas, possamos olhar para trás e nos orgulhar de ter tratado os outros com a bondade, dignidade e respeito que todo ser humano merece”

Andrzej Wajda - lendário cineasta, ao receber prêmio honorário, em 2000
• “Aceito esta grande honra como um tributo a todo o cinema polonês. O tema de muitos de nossos filmes foi a guerra, as atrocidades do nazismo e as tragédias trazidas pelo comunismo. É por isso que hoje agradeço aos meus compatriotas por ajudarem meu país a se juntar à família das nações democráticas, a civilizações ocidentais, suas instituições e com respaldos estruturais”

Robert Redford - no palco do Oscar, em 2002
• “Como podemos ver ultimamente, o mundo ao nosso redor segue mudança radical (...) Enquanto todos lutamos para encontrar o caminho, para entender o caos, a destruição e a tragédia, uma palavra que surge é a palavra liberdade... Há sua importância, sua raridade e há a felicidade de torná-la efetiva. (...) A glória da arte é que ela não apenas pode sobreviver à mudança, mas também pode liderá-la”


Halle Berry - primeira atriz central negra a vencer em 2002
• “Este momento é muito maior que eu. Este momento é para Dorothy Dandridge, Lena Horne, Diahann Carroll. É para as mulheres que estão ao meu lado, Jada Pinkett, Angela Bassett, Vivica Fox. E é para toda mulher de cor sem nome e sem rosto que agora tem uma chance, porque houve uma abertura de porta, esta noite. Estou repleta de honra”

Michael Moore
em 2003, vencedor pelo documentário Tiros em Columbine
• “Vivemos em uma época em que temos um homem enviando gente para a guerra (no Iraque) por razões fictícias (...) Nós somos contra esta guerra, Sr. Bush! Que vergonha, Sr. Bush! Você devia se envergonhar!”


Lupita Nyong´o - vencedora de atriz coadjuvante, em 2014, por 12 anos de escravidão
• “Quando olho para esta estatueta de ouro, ela me faz lembrar, a mim e a toda criança, que não importa de onde você seja, seus sonhos são válidos. Obrigada”

Leonardo DiCaprio - em 2016, ao vencer por O regresso
• “As mudanças climáticas são reais. Ocorrem, agora. É a ameaça mais urgente que todos enfrentam e precisamos trabalhar juntos e não procrastinar. Precisamos apoiar líderes em todo o mundo que não falam pelos grandes poluidores ou pelas grandes corporações, mas que falam por toda a humanidade. Para os povos indígenas do mundo. Para os bilhões e bilhões de pessoas desfavorecidas que serão as mais afetadas. Para os filhos dos nossos filhos”
 
 
 
 
 
 

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