Correio Braziliense
postado em 13/02/2020 06:20
Para a atriz Ana Paula Braga, contar a carreira e a trajetória nas artes cênicas é uma mistura de vergonha com privilégio. Formada em direito, a candanga de sangue gaúcho encontrou no palco, interpretando diferentes personagens, entre um texto e outro, a tradução do que desejava fazer: “Vi que podia trabalhar com as pessoas e para as pessoas. Falar de temas importantes e ter uma voz atuante”, resume.
O abrir das cortinas para o talento e para a grande paixão ocorreu em 2002 durante uma oficina de teatro na faculdade Dulcina de Moraes, com o professor Túlio Guimarães. Dali, Ana Paula seguiu para a formação em artes cênicas na mesma faculdade. “Como tenho uma certa timidez, achei no teatro essa possibilidade de conversar com as pessoas e tocá-las sobre os temas que são colocados nas peças, sobre assuntos que talvez a gente não tivesse a oportunidade de falar sem estar no teatro”, comenta.
A atriz ainda concilia a carreira artística com a atuação como servidora do Ministério Público do Trabalho. Dois mundos que Ana Paula descreve como completamente diferentes. Contudo, a conciliação é possível, porque há uma entrega. “É possível fazer arte se a gente quer fazer arte”, afirma. “A arte é feita para que a alma do artista não pereça”, escreveu Ana Paula nas redes sociais.
Aos 45 anos, a atriz não para. De manhã, de tarde ou de noite segue trabalhando, seja no funcionalismo público, seja em algum projeto teatral. As férias do Ministério servem para viajar ou se dedicar mais diretamente ao teatro. “No fim do mês, vamos para Nova Iork apresentar a peça A Moscou! Um palimpsesto no On Women Festival”, conta.
Diferentemente de gerações de atores e atrizes brasilienses que se dividem em grupos e companhias, Ana Paula não faz parte de um grupo. “Mas sempre me chamam para trabalhar, como agora com a Cia. Brasiliense de Teatro”, completa. A única mulher ao lado de três homens - o diretor e dramaturgo James Fensterseifer e os atores Marcos Davi e Felix Saab — foi bem acolhida.
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Em cena, ela interpreta Medeia, personagem de uma tragédia grega que se rebela contra o mundo que a rodeia. “No começo, foi muito difícil decorar o texto, é uma linguagem não usual. Depois, é uma personagem cheia de nuances. Essa mulher é uma força da natureza, mais do que qualquer outra explicação. Não é fácil interpretar várias facetas de uma mulher que buscava amor e paixão, buscava um homem, se sentia traída e chega num ponto tão elevado que é capaz de matar os filhos. É uma responsabilidade”, descreve a atriz.
Para Ana Paula, em todo o trabalho, o ator tem que pensar o que quer falar. “Todos nós temos todos os sentimentos de Medeia dentro da gente, mesmo que seja em uma proporção diferente do que ela utilizou, mas temos um pouco de todos os personagens. Somos humanos e não podemos julgar”, afirma.
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