Diversão e Arte

Genealogia do Ska

Três gerações do ska brasiliense reverenciam gerações do ritmo e buscam difundir o estilo jamaicano em Brasília


Na sexta-feira de carnaval, curiosos e amantes do ska, gênero musical jamaicano que se espalhou  em Brasília, terão uma oportunidade em dose tripla para apreciar o gênero. Em um festival inédito na cidade, em clima de folia, as bandas Ska Niemeyer, Brasília Ska Jazz Club e 2Tone40, com integrantes ligados a diferentes gerações do ska brasiliense, abordam repertórios de três gerações do ska internacional no evento Ska Folia, na Cervejaria Criolina, a partir das 20h.

Fundindo ritmos caribenhos, como mento e calipso, a influências norte-americanas, como o jazz, o rock’n’roll e o R&B, o ska surgiu e se popularizou na jamaica no final dos anos 1950, sendo o precursor do rocksteady e do reggae. Esta é considerada a primeira geração do ska.

A segunda onda veio entre os anos 1970 e 1980, quando o selo inglês 2 Tone Records uniu jovens pretos e brancos da classe operária inglesa, em bandas inter-raciais que misturavam o punk britânico e a música popular dos descendentes de imigrantes jamaicanos, para protestar contra a segregação racial e outros tipos de opressão, nos anos de chumbo da era Thatcher. Bandas como The Specials, The Beat e The Selecter fizeram a cabeça da juventude de então, e também de gerações posteriores.


A segunda onda

No Brasil, a maior responsável pela disseminação da cena 2 Tone foi a banda Paralamas do Sucesso, que, nos primórdios, tinha influência marcante da cena. Inclusive, no segundo álbum, O passo do Lui, tem uma música chamada Ska, cuja semelhança com One step beyond, da banda Madness, é gritante. Já a introdução da música Óculos é simplesmente idêntica ao solo de marimba da música Hands off she’s mine, da The Beat. Ambas as bandas faziam parte da 2 Tone. As coincidências não param só aí.

A cena que emergia em Brasília entre o fim dos anos de 1980 e o começo dos 1990 também foi contagiada pela mistura de punk e reggae, com naipes de metal enfáticos, atitude explosiva e ritmo compassado. Formada por remanescentes de bandas como Maskavo Roots, Bois de Gerião, Prot(o), Confronto Soundsystem e Ugabuga, a 2tone40 é uma reunião, idealizada pelo baterista Txotxa (Maskavo), que celebrou, em 2019, os 40 anos do selo, influência unânime entre os amigos e suas respectivas bandas, via Paralamas, Titãs e outras dos anos 1980. Grupos como Raimundos e Móveis Coloniais de Acaju, por aqui, e Los Hermanos e Skank, nacionalmente, também se renderam à energia dos metais caribenhos, nos anos 1990.

Em uma cidade ainda fortemente ligada ao punk rock, pode-se dizer que a Brasília dos anos 1990 era como a Inglaterra dos anos 1980. “2 Tones é uma versão dos ingleses do que seria o reggae, misturando o punk. Brasília, nos anos 1980, era muito punk. Natiruts (dos anos 1990) é o reggae jamaicano. Brasília acabou que se tornou uma coisa interessante nesse sentido: pessoas ligadas ao punk, ao ska britânico e ao reggae jamaicano”, analisa o baterista. “O que eu adoro na 2 Tone é que trazia o melhor de dois mundos: a energia e liberdade do punk, e a musicalidade da jamaica.”


A terceira onda

O músico Vinícius Corbucci devia ter uns 12 anos quando via essas bandas candangas da virada do milênio, trabalhadas no ska, agitarem os shows da cidade. “Cresci vendo os caras tocarem. Aquela agitação, aquele frenesi. É um ritmo muito pujante, não tem como ficar parado”, lembra. Fissurado em punk rock e hardcore, acabou  enveredando também pelo skapunk, que mistura os estilos, exemplificado por bandas como a californiana Rancid e considerado a terceira onda do Ska.

Aprendeu a tocar baixo e fundou a banda Molécula Tônica, em 2006, que debutou em disco no ano seguinte. Em 2016, já como estudante de contrabaixo acústico na UnB e na Escola de Música de Brasília, e com saudades do ska da antiga banda, que acabou, resolveu colocar em prática uma ideia que o acompanhava há algum tempo: tocar frevos e marchinhas de carnaval com roupagem de ska. Assim surgiu o bloco e, consequentemente, a banda Ska Niemeyer, que, junto a bandas como Ska Maria Pastora (Recife), e Sapo Banjo (São Paulo), trazem ritmos regionais e tradicionais para a mistura, com uma pegada mais world music, se inscrevendo na terceira onda do Ska.

A quarta onda

O trombonista da Ska Niemeyer se chama Bruno Portella, e também encontrou no ska o estopim da carreira musical. Ainda moleque, em suas audições caseiras, conheceu o ska punk de bandas como Five Iron Frenzy e The O. C. Supertones. Quando viu imagens desta última, e sua sessão de metais, Bruno soube o instrumento que queria estudar e tocar. Participou da banda Los Torrones, que trazia elementos do ska em seu caldeirão rockabilly, e, depois, da Ska Niemeyer.

No ano passado, entretanto, decidiu tocar outra vertente, e fundou a banda Brasília Ska Jazz Club, que, junto a bandas como São Paulo Ska Jazz ou Tokio Ska Paradise Orchestra, faz parte da quarta onda do ska, que traz pronunciados traços do jazz, negligencia um pouco a guitarra e suaviza os sopros. “Depois que entrei na Ska Niemeyer, surgiu a vontade de tocar um ska um pouco diferente, com essa pegada do jazz e essa linguagem mais sucinta. Como não tinha ninguém fazendo isso na cidade, decidi fazer”, diz bruno.

*Estagiário sob supervisão de  Severino Francisco



Ska Folia!
Cervejaria Criolina (SOF Sul Q. 1 Cj. B. lt. 6). Sexta-feira (21/2), às 20h. Baile de carnaval regado a ska, com as bandas brasilienses Ska Niemeyer, Brasília Ska Jazz Club e 2tone40, apresentando diversas vertentes e gerações do estilo. Ingressos a R$ 20 mais taxa (segundo lote) e R$ 30 mais taxa (segundo lote), à venda pelo Sympla (https://www. sympla.com.br/ ska-folia-__769961). Aniversariantes dos dias 21 e 22/2 entram gratuitamente, com direito a um acompanhante e um copo de chopp. Menores de 18 anos não entram.