Correio Braziliense
postado em 22/02/2020 04:08
O carnaval é eterno
“Aquele que, ao passar pela vida, faz dela motivos de alegria e comemorações, sempre terá boas recordações. É “aprender a fazer do limão uma limonada”, como diz o jargão popular. Cada fase da vida deve ser cultivada com alegria e gratidão.
Vivenciar a infância na antiga Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante, quando se iniciava a construção das quadras do Plano Piloto de Brasília foi uma experiência extraordinária e feliz. A efervescência daquele tempo imprimiu em meu espírito um profundo amor por Brasília, respeito ao trabalho dos candangos e às amizades que perduram até hoje, como elo da construção de minha história de vida.
Nela estão as primeiras experiências que guardo com carinho. As primeiras festas, os primeiros amigos aconteceram aqui.
E aqui aconteceu, também, meu primeiro carnaval.
Pioneiríssima (cheguei a Brasília em 1959), busco no meu baú de lembranças, a recordação dos bons tempos de juventude e sinto imenso prazer em falar sobre o carnaval do tempo da construção da cidade. No início, Brasília não tinha tradição carnavalesca. Tudo era baseado em experiência de carnavais de outras regiões. Mas o carnaval é eterno, não se perde no tempo.
Embora aqueles carnavais fossem bem diferentes do que temos hoje, vemos que se mantêm muitas referências, como o uso do brilho, dos vidrilhos, das lantejoulas, plumas e da irreverência das músicas bem-humoradas.
Os temas musicais, hoje considerados politicamente incorretos, como A cabeleira do Zezé ,entre outros, faziam o salão “pipocar” com a alegria dos foliões, sem nenhum preconceito. Os pout-pourris, as marchinhas, as marchas-rancho, como a Jardineira, As Pastorinhas e a Máscara Negra e outras eram as preferidas nos salões, pois naquela época não tínhamos o carnaval de rua com os blocos de hoje, tão concorridos e criativos.
Em 1959 não existia carnaval para crianças. Precisei aguardar um tempo para estrear em meu primeiro carnaval, que me traz a lembrança da música:
Tanto riso, oh! quanta alegria, mais de mil palhaços no salão, arlequim está chorando pelo amor da colombina, no meio da multidão....
Os carnavais aconteciam nos salões dos clubes como o Iate, o Minas Brasília Tênis Clube, o Cota Mil, todos com muita animação.
Foi no Iate Clube de Brasília, que dancei meu primeiro carnaval. Formamos um grupo de amigas, nos vestimos de havaianas e brincamos até nos fartar. A experiência foi tão boa, que repetimos outros carnavais com fantasias de odaliscas, colombinas, pepitas, e tantas outras que a imaginação nos permitia.
Hoje, com a liberalidade de costumes e a globalização, o carnaval tomou contextos atuais nas fantasias, nas músicas com cunho político e irreverência.
As marchinhas antigas foram substituídas por ritmos atuais como o axé, funk, rock, e até o sertanejo universitário, que levam o saudosismo dos foliões ao carnaval respeitoso e sem violência.
Para nós, mesmo com tantas mudanças ao longo dos tempos, ainda temos os carnavais dos primeiros tempos de Brasília, bem vivos em nossa memória.”
Elizabet Garcia Campos, Candanga pioneira, cidadã brasiliense
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