Diversão e Arte

Dicas de português

Correio Braziliense
postado em 23/02/2020 04:07
Recado
“Se o amor é fantasia, eu me 
encontro em pleno carnaval.”
Vinícius de Moraes



Abre alas, que o samba quer passar
Carnaval é sinônimo de alegria, descontração, irreverência. Blocos, escolas e foliões aproveitam os dias de momo pra exercitar a liberdade. De certa forma, retomam o tempo das saturnais romanas. Era um período alegre.

Os servidores públicos entravam em recesso. Os tribunais fechavam as portas. Nenhum criminoso podia ser punido. Libertavam-se os escravos para assistir aos festejos. As famílias ofereciam banquetes.

Durante as celebrações, invertiam-se as posições sociais. Os escravos davam ordens aos senhores. Os senhores lhes serviam iguarias à mesa. Todos se mascaravam para ficar mais à vontade. Há quem diga que as máscaras nasceram aí. No Brasil, reservam-se quatro dias no calendário pra brincar — com disfarces ou sem disfarces.



Manda quem pode
Carnaval é coisa séria. Tão séria que a Igreja o controla. É a Santa Sé que manda na festa. Começa pelo calendário e chega ao nome. Ela diz: “O momo só pode reinar 40 dias antes da quaresma. Vai do Dia de Reis (6 de janeiro) à quarta-feira de cinzas. Depois disso, o mundo se veste de roxo”.



Cadê autonomia?
A quarta-feira de cinzas depende da Páscoa. A ressurreição de Cristo se comemora no primeiro domingo depois do primeiro domingo de Lua cheia de março. Em que dia cai? Varia. Depende dos caprichos do satélite da Terra.



O batismo
A Igreja foi além do calendário. Interferiu no nome. Carnaval vem de carne. Significa dias em que a carne é liberada. Opõe-se à quaresma, período de abstinência. Como festa pagã, escreve-se com inicial minúscula.

Antes de chegar a esta alegre Pindorama, a palavrinha bateu pernas. Desembarcou aqui por via do italiano carnevale. Mas seu berço é o latim. Na língua dos Césares, significava “adeus à carne”.



Prole
O carnaval deitou e rolou nesta terra mestiça. Deu filhotes. Dele nasceu carnavalesco. O sufixo — esco é velho conhecido nosso. Aparece em adjetivos. Mas não qualquer adjetivo. Só nos derivados de substantivos. Quer dizer semelhante, parecido. Carnavalesco é semelhante a carnaval. Dantesco, a Dante. Burlesco, a burla (zombaria). Momesco, a momo.

A família cresceu. Veio o neto — o advérbio carnavalescamente. Reparou? Ele é filho do adjetivo (carnavalesco). Cuidado ao usá-lo. Dizer que uma pessoa se comporta carnavalescamente às vezes ofende. O recado é este: você age como se estivesse no carnaval. Parece palhaço.



Eles disseram
“Meu fumo é minha ioga / Você é minha droga / Paixão e carnaval / Meu zen, meu bem, meu mal.” (Caetano Veloso)

“Eu não quero mais chorar / Por causa de um amor qualquer / Minha dor tem de acabar / No carnaval, se Deus quiser. (Gilberto Gil)

“Que ideia a de que no carnaval as pessoas se mascaram. No carnaval desmascaram-se.” (Ferreira Vergílio)

“Se a única coisa de que o homem terá certeza é a morte; a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano.” (Graciliano Ramos)



Leitor pergunta
Ouvi uma repórter dizer: “A gente vai ir pra lá”. Soou mal.

Uriel Villas Boas, lugar incerto

É redundante. Basta “a gente vai pra lá”.

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Tenho duas questões: a palavra talvez tem plural? A palavra fezes só se usa no plural?

Ricardo Eugênio Perez, lugar incerto

Em português, todas as palavras podem ser substantivadas. Basta acrescentar-lhes um artigo, um pronome ou um numeral. Como substantivos, têm plural: o vestir (os vestires), um não (dois nãos), este quê, aqueles quês.

O talvez não foge à regra. É advérbio, mas pode virar substantivo: o talvez, os talvezes.

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Fezes joga no time de férias, óculos, pêsames, víveres. Só se usa no plural.



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