Diversão e Arte

'Tudo ok' estourou no carnaval e se torna a música-chiclete do verão

Lançado em novembro do ano passado, hit fala sobre mulher refeita de uma desilusão amorosa, mostrando ao cenário nacional o brega-funk nascido no Recife

Correio Braziliense
postado em 01/03/2020 12:38

Lançado em novembro do ano passado, hit fala sobre mulher refeita de uma desilusão amorosa, mostrando ao cenário nacional o brega-funk nascido no Recife“Cabelo ok, sobrancelha ok, maquiagem ok, a unha tá ok, brota no bailão pro desespero do seu ex.” Mesmo os ouvidos mais avessos à música pop provavelmente foram pegos por esses versos nos últimos dias. Se o verão de 2020 demorou a oferecer ao público seu grande hit, o carnaval coroou a música Tudo ok, parceria entre Thiaguinho MT, Mila e JS O Mão de Ouro, como a sucessora de Lepo lepo, Deu onda e outros sucessos instantâneos do passado. 

 

Embora compartilhe o estilo de refrão pegajoso e a letra caricata, o “chiclete” da vez tem características próprias, que apontam tendências do mercado fonográfico e a potência do ritmo brega funk. Além da reverberação ostensiva nos últimos dias, o single apresenta números poderosos.

 

No Spotify, posicionou-se no primeiro lugar da parada Top 50 Brasil, que lista as músicas mais tocadas no país no momento e foi a música brasileira mais ouvida na plataforma durante os quatro dias de carnaval. Por lá, o total de execuções já passa dos 36 milhões. No YouTube, onde foi lançada, em 15 de novembro de 2019, com o videoclipe produzido pelo canal Kondzilla, as visualizações já bateram a marca dos 100 milhões.

 
A popularidade alcançada neste início de ano vai além da letra sobre alguém que caprichou no visual para ir a uma festa e esquecer de um relacionamento anterior. Natural de Araruama, no Rio de Janeiro, Thiaguinho MT, de 28 anos, é egresso daquela vertente do funk caracterizada pelos versos mais despudorados sobre sexo. Procurando um estilo menos ousado, ele declarou ter se inspirado nas redes sociais para criar a letra que mudou sua carreira de patamar, ao menos momentaneamente.

Pelo WhatsApp, uma amiga certa vez disse que estava “com o cabelo ok e com a unha ok”. No Twitter, o cantor viu um internauta falar sobre “brotar no bailão”. Achando graça nisso e em outras histórias populares nesses ambientes virtuais sobre pessoas que dão a volta por cima depois de um término de relacionamento, ele compôs a letra e levou ao “midas do brega funk”, como indica a alcunha de JS O Mão de Ouro.

FÓRMULA 

Natural de Recife, o DJ e produtor Jonathan Santos, de 23, faz jus ao nome artístico. Suas batidas e mixagens estão presentes também em Sentadão, de Filipe Original e Pedro Sampaio, e Surtada, com Dadá Boladão, Tati Zaqui e Oik, outras duas faixas entre as 10 mais ouvidas no Spotify no carnaval. Sua fórmula de sucesso é a melodia oriunda das periferias pernambucanas, que tem conquistado um público nacional, como provam os números das plataformas digitais.

Estudioso do assunto, o jornalista e pesquisador pernambucano GG Albuquerque, doutorando pela Universidade Federal de Pernambuco em estéticas e culturas da imagem e do som, e criador do site musical Volume Morto, entende que “essa atualização constante é inerente às músicas populares periféricas”, como o funk carioca e o brega recifense.

“Eles se renovam sempre em termos de linguagem e sonoridade. O consumo musical contemporâneo atravessa muito as fronteiras de gênero musical. Claro que eles ainda existem e são mediadores importantes, mas não são mais determinantes. Vemos o público ultrapassando fronteiras, assim como os artistas, que fazem essas misturas, como do funk com o sertanejo, tanto por questões comerciais quanto artísticas. Dito isso, o crescimento do brega funk tem muito a ver com essa dinâmica própria da música popular periférica”, argumenta Albuquerque, que lembra: “Ao contrário do que pensa o público menos familiarizado, o funk não é um gênero tão fechado, ele tem uma série de temáticas diferentes e micro gêneros”. 

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