Pioneiro das lições de violoncelo é homenageado em série musical

Festival de Violoncelos celebra a atuação na capital do violoncelista Antônio Guerra Vicente, morto em 2019 por causa de linfoma

Correio Braziliense

postado em 03/03/2020 06:55

De hoje (03/03) até 1º de abril, será realizado o Festival de Violoncelos Antônio Guerra Vicente, por meio de concertos e masterclasses promovidos pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro (OSTNCS) e músicos convidados. A sequência de eventos foi idealizada em homenagem à vida e ao legado do professor que trouxe o ensino do violoncelo para Brasília e, desde os anos 1970, formou diversas gerações de instrumentistas que hoje atuam no Brasil e ao redor do mundo. Antônio Guerra Vicente ou Guerrinha como era carinhosamente chamado, morreu no início do ano passado, aos 76 anos, devido a complicações de um linfoma, câncer que afeta o sistema sanguíneo. 

 

O violoncelista foi professor da Universidade de Brasília (UnB), além de membro fundador do Quarteto de Brasília, que tinha na composição o próprio Guerrinha no violoncelo, Ludmila Vinecka (sua esposa) no violino, Glésse Collet, na viola, e Cláudio Cohen, também no violino. “A ideia surgiu já em 2019 após o falecimento do professor Antônio Guerra Vicente e ganhou ainda mais corpo com a vinda do violoncelista Matias de Oliveira Pinto, um dos solistas da nossa temporada de concertos 2019, que mora na Alemanha. Propus a ele a realização desta homenagem ao ilustre violoncelista Guerrinha. Matias imediatamente aceitou o convite e se colocou à disposição para a realização de concertos e masterclasses”, conta o maestro da orquestra, Cláudio Cohen.

 

Para o violoncelista Matias de Oliveira, o ponto chave de sua participação será o concerto com peças de José Guerra Vicente, pai de Guerrinha e grande compositor brasileiro, cujo instrumento principal era o violoncelo. O professor Matias explica a importância do instrumento no festival: “O violoncelo é um dos instrumentos mais versáteis, plurais, por assim dizer. Tem uma amplitude de extensão dos mais graves para os mais agudos, com até seis oitavas de diferença. Por isso, surgem mais orquestras de cello do que de alguns outros instrumentos. Portanto, faremos no festival, um concerto só de violoncelos, com peças de Villa-Lobos inclusive”, explica. 

 

 

 

Como diretor de alguns outros festivais do instrumento no Chile, na Alemanha e no Brasil, o professor e violoncelista ressalta que é sempre gratificante ver que festivais dão voz a um dos instrumentos mais bonitos e mais brasileiros, por estar dentro de inúmeras composições da música nacional, sejam elas clássicas ou populares.“Eu lembro da minha infância e de também quando tocava com Milton Nascimento e outros tantos músicos, como Roberto Carlos, com quem gravei uma vez. O violoncelo cabe bem em tudo quanto é tipo de música”, reflete Matias.

 

Algumas outras celebrações e datas contribuíram para a compor as características do festival, que se realiza ao longo do mês de março, mês de aniversário do homenageado Guerrinha. Além disso, a Orquestra Sinfônica e o maestro Heitor Villa-Lobos celebram seus aniversários também em março, sendo o dia nacional da música clássica comemorado no dia 5/3, um dia antes do aniversário de Guerra e da OSTNCS. “O Guerra foi um grande incentivador do trabalho da OSTNCS, colaborando com a orquestra desde a sua gênese, praticamente todos os violoncelistas foram seus alunos em algum momento. Esses fatores conectados colocam o Guerrinha como centro desta celebração”, relembra o maestro Cohen.

 

Como diretor artístico e maestro titular, coube a Claudio Cohen a responsabilidade de elaborar os conteúdos. A escolha das peças que estarão nos concertos é resultado de um consenso entre o maestro, os violoncelistas líderes da OSTNCS e o professor Matias. “Convidamos vários solistas de violoncelo para celebrar o instrumento e o grande mestre. Essa linha vai da jovem violoncelista em ascensão Marina Martins, até o veterano Antônio Del Claro, passando por Álvaro Siviero até o professor Matias de Oliveira. Esses quatro violoncelistas celebrarão a memória do Guerrinha por meio de suas performances”, adianta Cohen.

 

O concerto do dia 24/3 é um marco neste festival, pois serão apresentadas obras do compositor José Guerra Vicente, pai de Antônio Guerra, tendo solo de violoncelo de Matias. Nesta ocasião, entre os inúmeros violoncelistas formados por Guerrinha, encontra-se seu filho, Augusto Guerra Vicente, que é membro da OSTNCS e atuará nos concertos.

 

A importância deste festival para a orquestra está no sentido de dar destaque ao trabalho dos profissionais da música em Brasília. No caso de Guerrinha, exaltar a forma em que contribuiu para a evolução do violoncelo e dos músicos que formou. “Para mim, pessoalmente, é de certa forma poder retribuir toda a experiência adquirida ao longo de três décadas trabalhando com esse grande músico, seja em atividades sinfônicas, educacionais, mas especificamente na música de câmara com o Quarteto de Brasília”, lembra Cláudio Cohen. 

 

Na longa trajetória de concertos nacionais, internacionais, gravações de CDs e DVDs, nas diversas premiações angariadas com o Quarteto, como também em suas aulas na Universidade de Brasília, a presença de Guerrinha na composição da música de Brasília permanecerá gravada na história.

O festival conta com apresentações hoje, na abertura, e nos dias 17, 24, 28 e 31, no Cine Brasília, às 20h, com exceção do dia 28 que será no mesmo horário (20h), mas na Casa Thomas Jefferson (SEPS 706/906). Os concertos serão intercalados com masterclasses que ocorrem na Casa Thomas Jefferson, nos dias 4 com Marina Martins; 18, com Álvaro Siviero. De 25 a 27, aulas e ensaios com o professor Matias de Oliveira Pinto, e masterclass com Antonio Del Claro. Inscrições e informações no email: [e-mail]. Para horários das masterclasses, confira a programação nas redes sociais da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco.