Diversão e Arte

Com propostas diversificadas, três exposições ocupam a cena da cidade

De ensaio assinado por Armando Salmito às abstrações de José Roberto Bassul, passando pela arte do coletivo #duplaPLUS, Brasília tem cardápio amplo, nas artes visuais

Correio Braziliense
postado em 03/03/2020 07:03

Luisa Günther:

 

A abstração no olhar do arquiteto José Roberto Bassul, os limites entre a performance, a dança e as artes visuais no coletivo #duplaPLUS e o registro de anônimos pelas ruas de Nova York no ensaio de Armando Salmito estão em exposições que ocupam as galerias da cidade esta semana. A fotografia está sempre em primeiro plano no trabalho dos artistas, mas as narrativas e os olhares partem de diferentes perspectivas. 

 

Em dupla

 

A ideia de expor um panorama do trabalho da #duplaPlus na Galeria Casa veio do curador Carlos Lin. O segundo ano de ocupação do espaço – projeto no qual galerias são convidadas para expor –, é também o de 60 anos de Brasília e a intenção foi criar uma exposição que também celebrasse a cidade. (CORPO)sições para danças tímidas antes do meio-dia é uma reunião de registros realizados pela #duplaPLUS ao longo de mais de dois anos, entre a descoberta de um câncer e a morte do bailarino Ary Coelho, companheiro da artista e professora Luisa Günther. “A exposição começa com esse mote (da celebração). Daí fui para a dolorosa tarefa de ficar vasculhando os registros da gente para ver quais iriam e quais não iriam, para ver quais seriam as Brasílias possíveis”, conta Luisa. 

 

Ela e Ary passaram a realizar as performances – primeiro pelos cenários da capital e, depois por outras cidades – quando ele começou a se sentir fraco demais para dançar por causa da doença. O questionamento e a reflexão sobre as fronteiras entre a dança, a performance e as artes visuais passaram a fazer parte do trabalho da dupla e os registros começaram a ser publicados no Instagram. Ao fazer a seleção para a retrospectiva, Luisa se deu conta de que, apesar de as imagens serem de Brasília, poderiam ter sido feitas em qualquer cidade. “Porque tem uma coisa banal, cotidiana, vulgar e não necessariamente o monumental do nosso cartão-postal”, conta a artista, que escolheu mais de 150 imagens e, ao mesmo tempo, resolveu dar continuidade ao trabalho convidando outros artistas para formarem a dupla. “Uma das primeiras crises era como dar continuidade sem ser dupla, e saquei que minha dupla era qualquer outro que tirasse foto.” Todas as imagens foram realizadas com o celular e, para manter a proporção da telinha, Luisa quis que respeitassem o formato, por isso as ampliações destinadas à galeria também são pequenas. 

 

Saiba Mais

 

 

(CORPO)sições para danças tímidas antes do meio-dia

Mostra do coletivo #duplaPLUS. Abertura amanhã (04/03), às 17h, na Galeria Casa (Casapark, 1º Piso, ao lado do Espaço Itaú de Cinema). Visitação até 29 de março, de terça a sábado, das 14h às 22h, e aos domingos, das 14h às 20h. 

 

Fotos enfatizam presença humana que acaba por se tornar apenas um vestígio quando se trata de metrópoles como Nova York 

Fotos enfatizam presença humana que acaba por se tornar apenas um vestígio quando se trata de metrópoles como Nova York 

 

 

Cenas anônimas

 

Em 2011, enquanto fazia um curso de fotografia no International Center of Photography (ICP), em Nova York, Armando Salmito começou a registrar pessoas anônimas pelas ruas da cidade. Foram 10 meses de registros e mais de mil fotografias nascidas de um encantamento do fotógrafo pela cidade. 

 

O resultado está no ensaio Anônimos, que Salmito apresenta na Galeria Parangolé, no Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul. “Eu estava estudando e tirando fotos, e ao mesmo tempo vidrado na cidade. E o aspecto do anonimato, daquele turbilhão de pessoas que eu nunca ia saber quem são, muitos imigrantes, buscando algo, me chamou a atenção”, conta o fotógrafo. “Diante desse cenário, frequentemente me pegava interessado por uma pessoa ou outra, de modo que comecei a fotografá-las.”

 

As fotos enfatizam essa presença humana que acaba por se tornar apenas um vestígio quando se trata de metrópoles como Nova York. Nesse contexto, a individualidade se perde no anonimato e o olhar do fotógrafo acaba por resgatar uma subjetividade que passa despercebida. 

 

 

Anônimos

Fotografias de Armando Salmito. Curadoria: Patrícia Lira. Abertura hoje (03/03), às 17h, na Galeria Parangolé, Centro Cultural Renato Russo (CRS 508, Asa Sul). Visitação até 5 de abril, de terça a sábado, das 10h às 20h, e domingo, das 10h às 19h.  

 

 

Brasília abstrata

 

As formas da capital ocupam boa parte das imagens de Sobre quase nada, série inédita que José Roberto Bassul apresenta a partir de sábado na Referência Galeria de Arte. Divididas em duas séries – Quase nada e Poéticas mínimas –, as fotografias nasceram de uma tentativa de registrar dois tipos diferentes de arquitetura pelo viés de um olhar abstrato e despojado.

 

Ligada à ideia de pausas e silêncios, Poéticas mínimas combina minimalismo, elementos geométricos e arquitetura modernista em registros de cores esmaecidas, fruto da vontade do fotógrafo, que também é arquiteto, de fazer um contraponto aos excessos do apelo do consumo. “O silêncio pode ser tanto um refúgio ou uma expressão poética quanto uma instância de reflexão crítica em relação à contemporaneidade, a aspectos políticos que envolvem o mundo”, acredita Bassul, que cita o antropólogo David le Breton para refletir sobre o silêncio. “Ele veio ao Brasil no ano passado e, em entrevista, disse uma frase que é quase uma estrela guia dessa exposição: ‘nos dias de hoje, o silêncio e o caminhar são duas formas de resistência política’”.

 

Em Quase nada, o foco é na arquitetura contemporânea e seus excessos. Ao fotografá-la, Bassul quer despojá-la de seus excessos. “Porque a arquitetura contemporânea é muito pretensiosa, é a arquitetura do espetáculo, e essa série tenta despir essa arquitetura dessa pretensão. O minimalismo das fotos tem uma intenção de despojamento desses edifícios espelhados, escultóricos, ensimesmados,”, avisa. No total, Sobre quase nada reúne 38 fotos, muitas realizadas em Brasília e algumas premiadas em concursos importantes como o Moscow International Photo Award e o International Photography Award 2019. 

 

Sobre quase nada

Exposição de José Roberto Bassul. Curadoria: Marília Panitz. Abertura sábado, 7 de março, a partir das 17h, na Referência Galeria de Arte (CLN 202 Bloco B Loja 11 – Subsolo). Visitação até 11 de abril, de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 15h.

 

 

 

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  • Fotos enfatizam presença humana que acaba por se tornar apenas um vestígio quando se trata de metrópoles como Nova York
    Fotos enfatizam presença humana que acaba por se tornar apenas um vestígio quando se trata de metrópoles como Nova York Foto: José Roberto Bassul /Divulgação
  • Fotos enfatizam presença humana que acaba por se tornar apenas um vestígio quando se trata de metrópoles como Nova York
    Fotos enfatizam presença humana que acaba por se tornar apenas um vestígio quando se trata de metrópoles como Nova York Foto: Salmito/ Divulgação

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