Correio Braziliense
postado em 05/03/2020 06:30
Enquanto fazia o ensaio Chão de flores, no qual percorreu várias regiões administrativas do Distrito Federal em busca de detalhes coloridos nas fachadas das casas, Zuleika de Souza começou a reparar em um detalhe curioso: os adornos de jardins eram mais comuns do que esperava. Ela passou, então, a fotografar também esses enfeites, boa parte deles bastante excêntricos. Desse olhar nasceu Jardinagens do devaneio, série de 20 fotografias em exposição a partir de hoje na Galeria Baixo Cobogó e que reúne uma coleção de personagens curiosos.
Zuleika conta que a série é uma espécie de capítulo de Chão de flores, mas, dessa vez, há imagens realizadas em outros estados, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás. “As pessoas gostam de enfeitar os jardins com esses anões, com estátuas. E eu comecei a me intrigar e a perguntar pessoas por que elas fazem isso. Fui fazendo as imagens e colecionando”, conta a fotógrafa, cujo interesse repousa sempre na arquitetura popular.
Como nunca fica apenas no registro, Zuleika também começou a conversar com as pessoas por que são fascinadas por esses objetos. “Uma vez perguntei para uma senhora em Abadiânia. Ela tem sete anões em tamanho natural e uma Branca de Neve. Ela disse que nunca viu o filme, mas acha legal porque os anões não sujam o jardim”, conta. Essa resposta, a fotógrafa encontrou em outros personagens. “Uma pessoa em Pirenópolis me disse a mesma coisa. Eles acham que, com uma estátua, a folha não cai, não cai a flor.” Em suas andanças, ela chegou a encontrar um jardim que não tinha um verde sequer, formado apenas por esculturas, e outro povoado por mais de 100 anões.
Em uma seleção realizada em parceria com Daniela Estrella, Zuleika decidiu manter na exposição uma tonalidade uniforme: todas as imagens são marcadas por um tom esverdeado originário, na maioria das vezes, da própria vegetação dos jardins. “Para ficar uma paleta parecida”, explica. Embora haja alguns registros realizados em blocos das superquadras de Brasília, boa parte das imagens foram feitas em casas. Ali, garças de concreto, anões, ninfetas, anjos, santos, esculturas gregas e mais uma galeria de seres estáticos povoam um mundo de jardins encantados e inusitados.
A curiosidade da fotógrafa foi tanta que ela chegou a visitar uma fábrica de adornos em Ipameri, em Goiás. “Fiquei querendo entrar um pouco nesse mundo. Tenho uma certa atração por bonecos”, conta, ao lembrar que, no ano passado, fez a série Memória das coisas em mim, registro de bibelôs que estão na própria família há muito tempo. “Essa minha curiosidade tem uma coisa a ver com a representação humana e animal em estátuas. É uma coisa que me atrai”, garante a fotógrafa, que tem registros realizados nos últimos 10 anos.
Jardinagens do devaneio
De Zuleika de Souza. Abertura hoje, às 17h, na Galeria Baixo Cobogó (CLN 704/705 Norte Bloco E loja 51). Visitação de segunda a sexta, das 11 h às 20 h, quintas, das 11h às 22h, e sábados, das 9h às 20h
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