Diversão e Arte

Editora dedicada a fotolivros de mulheres lança os primeiros volumes

Os três primeiros volumes da Estrondo, editora dedicada exclusivamente a fotolivros produzidos por mulheres, trazem os trabalhos de Júlia Godoy, Amanda Carneiro e Bete Coutinho

Correio Braziliense
postado em 07/03/2020 06:15
Amanda Carneiro

Quando Michelle Bastos criou a Estrondo!, estava de olho na produção de fotografia do Distrito Federal,e também no mercado editorial. Há nesse meio, segundo a editora, uma ausência de mulheres. Com a Estrondo!, Michelle quer olhar para os trabalhos realizados por fotógrafas locais e dar visibilidade a essa produção.

A editora nasceu há dois anos, mas somente agora coloca no mercado os três primeiros livros de uma série de 15 programados para os próximos anos. “Existe uma subpublicação de mulheres em absolutamente tudo, e esse modelo se repete na foto. Eu estava bastante cansada de ver esse padrão se repetindo, e isso vai desde a formação de jurados e curadorias feitas por homens até premiados majoritariamente. Estamos no século 21, já deu, né?”, diz a editora.

Fotógrafa e cientista social, Michelle fez um levantamento de quantos fotolivros de mulheres foram publicados em 2017. “De 70% a 91% dos títulos eram de homens, com exceção de uma única editora brasileira que tem o cuidado de balancear. Essa diferença de acesso e essa indiferença em relação à questão é grande. Agora, no mês de março, a gente vê esse discurso de gênero se repetindo, mas é só agora”, lamenta Michelle, que contou com a curadoria de Cinara Barbosa e Elza Lima para editar as obras.

O foco, ela avisa ,são mulheres residentes no DF e no Entorno. “Isso foi interessante porque trouxe trabalhos que não estão no circuito. O projeto abarcou uma diferença significativa em termos de espacialidade, moradia, recorte social. É a primeira editora brasileira de fotolivro para publicar unicamente mulheres”, garante.

Realizados com R$ 80 mil do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), os três primeiros volumes da Estrondo! trazem os trabalhos de Júlia Godoy, Amanda Carneiro e Bete Coutinho. São ensaios que vão da perspectiva documental à poética.

Durante dois anos, Amanda Carneiro trabalhou com o grupo de voluntários do Pisco de luz para registrar as ações que levam luz a regiões isoladas. Entre os lugares mais visitados, estão comunidades quilombolas do norte de Goiás. De lá vieram as imagens de Ariar, que reúne uma compilação das imagens captadas por Amanda durante o trabalho. “Fui fazendo uma construção numa tentativa de entender aquelas pessoas, tentar entender o outro, o ser humano e suas moradas de forma geral. Esse trabalho foi meio que uma troca porque, além do livro, fiz uma exposição para a própria comunidade”, explica Amanda.

Inventário

Julia Godoy
 
A atuação como revisora influenciou Júlia Godoy na produção de Vírgula, um olhar poético para as paradas de ônibus da L2 Sul e Norte. “Fiz um inventário das paradas. E selecionei pensando na parada como um não lugar, mas acaba sendo mais que isso, porque as pessoas fazem intervenção, escrevem, desenham, e até vendem coisas”, conta a artista, que relacionou a pontuação da vírgula com o intervalo entre um ponto e outro de um deslocamento. As imagens foram impressas em tecido e este, desfiado, o que confere uma textura especial às fotos.

A capital também é personagem do livro de Bete Coutinho. Em Brasília pequena, ela oferece um olhar para partes da arquitetura da cidade que estavam depredadas, para lugares demolidos e detalhes mínimos que remetem a lugares como a Catedral, a periferia e a Torre de TV. “Não são esses lugares fotografados, são visualizações minhas em abstrações nessas partes da arquitetura que estavam demolidas e em ruína no Plano Piloto”, avisa a fotógrafa.
 
Bete Coutinho 

Intervenções com desenhos sobre as fotografias são uma forma de Bete construir sua própria visão da cidade. “Ilustrei com desenhos da ponte JK, da Catedral, de bloco residencial, do Museu Nacional, da Torre de TV. E a minha visão muito particular da periferia, com casinhas pequenas. São referências, não são fotos de uma realidade”, avisa a fotógrafa, que também criou um personagem inspirado em Juscelino Kubitschek, por quem ficou fascinada na infância, depois de ouvir uma história sobre o então presidente ter passeado anonimamente, a bordo de um caminhão, pela cidade em construção.



  • Vírgula
De Júlia Godoy. Editora Estrondo!, 26 páginas. R$ 35

  • Brasília pequena
De Bete Coutinho, Editora Estrondo!, 32 páginas. R$ 35

  • Ariar
De Amanda Carneiro, Editora Estrondo!, 32 páginas. R$ 35




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  • Foto: Julia Godoy/Divulgação
  • Foto: Bete Coutinho/Divulgação

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