Diversão e Arte

Sebos, onde os livros resistem

Das estantes físicas às virtuais, o Distrito Federal dispõe de boa variedade de lojas antigas e novas

Correio Braziliense
postado em 10/03/2020 04:09
Sebo, restaurante e espaço cultural se encontram na Cope



Um “rato de sebo” é alguém que se devota com frequência a procurar livros, discos e outras publicações em sebos; e sebos são lojas de livros, discos e outras publicações de segunda mão, usadas, gastas, já lidas ou ouvidas. Existem algumas teorias sobre como este templo do saber compartilhado ganhou este nome um tanto quanto insalubre. A mais óbvia afirma que os livros, de tanto serem usados, acabam ficando ensebados. Outra explica que, numa época anterior à luz elétrica, os estudiosos, lendo até mais tarde, acabavam engordurando os livros com o sebo das velas de outrora.

De qualquer forma, os aficionados por livros usados, baratos ou raros, ratos de sebo do Distrito Federal queixam-se de que “existem poucos sebos no quadrado” ou, ainda, “que a cena de sebos de Brasília é pequena”. De fato, é injusto comparar a oferta de lojas do segmento na capital com grandes metrópoles como Rio, São Paulo ou Minas Gerais. Mas existe, sim, uma boa gama de opções espalhadas pelo DF. Muitos destes empreendimentos fazem parte da memória afetiva de vários leitores e ajudaram a formar algumas gerações, e seguem na missão até hoje. Outros trazem inovações para o ramo e outros, ainda, migraram para as plataformas virtuais.

O Correio traz duas destas histórias e um guia de sebos espalhados pela cidade. O livro que você procura, certamente, o espera em um desses estabelecimentos, a um preço acessível. Mas, nem por isso, deixe de pechinchar.


Depósitos

Entre os sebos mais antigos da cidade encontra-se o Cope — Espaço Cultural, na 409 Norte, há 25 anos. A loja de livros usados foi fundada em 1996 por um ex-auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), que possuía um enorme acervo de livros, com o filho e a nora. “Quando ele recebia ministros em casa, eles diziam: ‘quando você morrer, vai tudo pro sebo’. Então, por que não fazer logo um sebo?”, lembra Paula Alencar, a nora em questão, que há 20 anos administra o espaço que herdou do sogro — ainda em vida, ela esclarece. Ele tem 79 anos agora.

O empreendimento teve início quando o marido, Adrian Carvalho, que havia abandonado a carreira militar, estava desempregado, e ela era uma estudante de ciências da computação na UnB. “A loja já nasceu informatizada, pois eu sou da área”, conta Paula. O acervo atual conta com mais de 300 mil títulos, de variados assuntos, todos armazenados na loja.

Além disso, a Cope aderiu às vendas virtuais e criou um perfil no site Estante Virtual, onde comercializa livros que ficam guardados em um depósito. “Chega muito livro. São livros de pessoas que vão falecendo. Quando falece alguém, a primeira coisa que vai embora de casa são os livros”, comenta a experiente livreira.

A Cope também é um espaço cultural que abriga atividades musicais, exibe jogos esportivos, serve petiscos e cervejas. Os livros têm uma média de preços 50% inferior à dos livros novos, principalmente os livros didáticos — a partir do sexto ano — que são bastante procurados.
 
 
Caixotes

Entre os empreendimentos mais novos, a tendência é de sebos ambulantes e virtuais. Nas universidades e espaços culturais, é comum encontrar uma banquinha com uma boa seleção de livros, geralmente vendidos por estudantes que querem se desfazer de coisas já lidas e juntar um trocado. Com o advento das redes sociais, é comum também encontrar pequenos vendedores que divulgam seu acervo em grupos virtuais e, quando a coisa fica mais séria, no Estante Virtual.

O músico e livreiro Guilherme Cobelo (Joe Silhueta) é um exemplo desta nova geração de empreendedores. Sua lida com os livros começou em 2003, quando tinha 17 anos. Querendo fazer alguma grana, fez uma pilha com alguns dos inúmeros exemplares que possuía e já tinha lido e foi vendê-los de bar em bar, de mesa em mesa, de Asa Norte a Sul. “Eu tinha em casa essa biblioteca. Sempre fui apaixonado por livros, sempre li muito, gosto de escrever também, então, sempre rodeado de livros. Minha mãe tinha muitos livros também”, recorda.

Pouco depois, entrou para a faculdade de história, pintaram alguns estágios e o sebo ficou um pouco de lado, mas nunca totalmente. Aos 22 anos, quando foi morar sozinho, era sempre os livros que lhe ajudavam com o aluguel, e uma vez mais os bares eram feitos de biblioteca pelo vendedor ambulante. “No Brasil, não se tem o hábito de ir à livraria como em outro países. Então, o trabalho ambulante também era uma forma de levar o livro até as pessoas”, reflete.

Em 2014, o projeto ganhou uma nova estética quando companheira, Tâmara, sugeriu aderir aos caixotes de madeira como suporte e marca, e o negócio, até então informal, ganhou nome, Dom Caixote, CNPJ e máquina de cartão de crédito. O projeto nômade tornou-se um pouco mais sedentário, batendo ponto ora no Café Senhoritas, ora na UnB, ora em outro bar.

Em 2017, entretanto, foi necessário dar outra guinada. Comprometido com a carreira musical, o fardo de carregar livros e instrumentos para cima e para baixo, sem dispor de um carro, começou a ficar de fato pesado. Problemas nos punhos e na garganta não eram nada bons para os negócios musicais, e participar de feiras segmentadas não estava dando o retorno necessário.

Aderiu então à estante virtual, com suas vantagens e desvantagens, e hoje despacha os livros para os compradores virtuais diretamente das estantes da sua casa, e da de seu primo, que entrou na sociedade há cerca de três anos. O acervo, não tão grande, mas cuidadosamente selecionado, é adquirido da mesma forma que nos outros sebos — por doações, trocas ou, como disse a Paula, da Cope, compras do acervo de pessoas recém-falecidas.

Os livros formam hoje uma parte significativa da sua renda, já que a profissão de músico é sujeita a instabilidades. Está satisfeito com a forma como os negócios funcionam atualmente, mas garante que voltará às ruas em breve. “Gosto de levar o livro direto para as pessoas, porque isso mobiliza e faz girar o acervo de uma maneira bem massa. Tamo só aí esperando passar a temporada de chuvas”.

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco



OUTROS SEBOS


Casarão dos livros
• Pertinho da praça do relógio, na quadra C9, lote 5, este sebo é a opção para os bibliófilos taguatinguenses. Compram, vendem, trocam e recebem doações, mediante avaliação, claro. Também vendem pelos sites da Amazon, Estante Virtual e Livronauta.


Sebinho
• Situado na 406 Norte, o sebinho é um dos mais tradicionais, antigos e famosos da cidade. Lá, além dos livros, comporta também um bistrô e uma variedade de eventos culturais, como Bloom’s Day e o Dia D, que celebram obras de James Joyce e Carlos Drummond de Andrade.


Pindorama
• Um dos mais antigos e tradicionais sebos da cidade, fornece livros raros e usados para os clientes desde 1989, na comercial da 505 Sul, bloco A, loja 41. Um dos fortes é a troca e venda de materiais didáticos. Também está na Estante Virtual.


Armazém do livro usado
• Está em atividade desde 1998 e se encontra 402 Norte, Bloco C, loja 34. Compram grandes e pequenas bibliotecas em todo o DF, e tem acervo disponível na Estante Virtual.


Investilivros
• “Gosto de trabalhar com livros, faço isso há 30 anos, tenho muito prazer em atender e dialogar com os clientes, que são sempre muito gentis e sabem o que querem”, é a descrição do livreiro no perfil do sebo na Estante Virtual. Se você sabe o que quer, procure seu livro lá.


Sebão de livros usados
• Vendendo literatura há 20 anos na 409 Norte, este sebo funciona melhor pelo telefone do que por meio de visita à loja. O próprio perfil do comércio na estante virtual alerta que é necessário reservar e agendar a retirada do livro, que pode estar em um depósito distante, operação que pode levar até 24h. O número é 3447-6672 ou 999583627.



Esquina Preciosa
• Na esquina da quadra 21 do Paranoá, este bar, além de abrigar eventos culturais alternativos, também é um mercadinho e sebo, com livros, CDs novos e antigos de música alternativa e muitos quadrinhos, a preço de banana.



Porão do livro
• Fundado há pouco tempo na 405 Norte, o Porão do Livro oferece um ambiente aconchegante, com cafezinho e bolo, e livros selecionados. O acervo também está disponível no Instagram e na Estante Virtual. Este guia é apenas uma base para você se encontrar na diversidade de opções oferecidas pela cidade, e não pretende e nem poderia esgotar todos os empreendimentos. Há diversos outros empreendedores montando suas banquinhas nas universidades, centros culturais, bares e ruas da cidade.
 
 
 
 
 
 
 

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