Correio Braziliense
postado em 11/03/2020 04:08
Recado
“A simplicidade é o último degrau da sabedoria”
Kalil Gibran
Deu a louca no mundo
A economia mundial engatou a marcha lenta. O preço do petróleo foi atrás. Pra evitar quedas maiores, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) quis fazer um acordo com a Rússia. Fracassou. Em represália, a Arábia Saudita, maior produtor da commodity, aumentou a produção. Resultado: o preço despencou mais de 30%.
O fato virou notícia. Ganhou manchetes em Europa, França e Bahia. Aí, aconteceu. Repórteres anunciaram que “o preço do petróleo ficou mais barato”. Bobearam. Barato e caro estão incluídos na palavra preço. É redundância dizer preço barato ou preço caro. O preço pode ser alto, baixo, módico, razoável, convidativo, exorbitante. E por aí vai.
Bem-vindo
Produtos ou serviços são caros ou baratos: A gasolina é cara no Brasil. O diesel também é caro, mas um pouco mais barato. Paguei barato pelo quadro no leilão. Com a safra generosa, a cesta básica fica mais barata. No Nordeste, a lagosta é mais barata que no Sudeste.
Por falar em barato...
A origem de barato? A palavra vem da língua do povo que mais sabe negociar no mundo. É o árabe. Na língua de Maomé e na de Camões, mantém o significado: baixo preço. Ora, o bolso é a parte mais sensível do corpo. Daí por que nasceu a expressão verde-amarela “o maior barato”. Eta coisa boa!
Mau gosto
Apareceu no vídeo de Bolsonaro: “mal gosto”. O Valor publicou o tropeço entre aspas. Leitores não entenderam. Atribuíram o erro ao jornal. Não deu outra. Postaram no Twitter. Houve ataques e defesas. Na confusão, a diquinha do troca-troca tentou apaziguar os ânimos. É esta:
O contrário de mal é bem: mal-humorado, bem-humorado.
O contrário de bom é mau: mau gosto, bom gosto.
Ser generoso com o leitor é...
Escrever com simplicidade. Pascal explica: “Quando descobrimos um estilo natural, ficamos espantados e satisfeitos, pois esperávamos um autor e encontramos um ser humano”.
Senhora implicância
“A redução do crescimento chinês implica em forte desaceleração geral”, escreveu o colunista. Ele se esqueceu de pormenor pra lá de importante. Implicar implica e complica. Tem três regências:
1. No sentido de produzir como consequência, é transitivo direto. Não pede preposição: Guerra implica aumento da corrida armamentista. A mudança do ministro implicou alteração da equipe. A redução do crescimento chinês implica forte desaceleração geral.
2. Na acepção de envolver, comprometer, é transitivo direto e indireto: O delator implicou o deputado no escândalo. A empresária paraguaia implicou Ronaldinho na falsificação do passaporte.
3. No sentido de ter implicância, é transitivo indireto. Pede a preposição com: O professor implicou com o novato no primeiro encontro. O estagiário implica com os colegas. É natural que irmãos impliquem um com o outro.
Leitor pergunta
Vejo o jornal grafar o plural de corrimão como corrimões. Sou filho e neto de professores, que me propiciaram excelentes livros para uma leitura sadia e construtiva. Essa forma de plural me causa espanto. Em Portugal é aceita, não sei o motivo. Consultei o Aurélio. Ele frisa que o plural de corrimão é corrimãos. Qual a sua opinião?
Marcelo Gonçalves de Oliveira, Guarujá
O Houaiss registra os dois plurais — corrimãos e corrimões. Portanto, ambas as formas estão corretas. Mas... a língua é como a mulher de César. Não era suficiente a primeira-dama de Roma ser honesta. Ela tinha de parecer honesta. Mudando o que deve ser mudado, dizemos que a língua não só tem de ser correta. Tem de parecer correta. Neste país tropical, corrimões está certo, mas parece errado.
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Abro o jornal e me deparo com “pêssego em caldas”. Esquisito, não?
Carlos Gama, Santos
A forma é pêssego em calda ou pêssegos em calda. O mesmo vale para as demais delícias: figo em calda ou figos em calda, goiaba em calda ou goiabas em calda, pera em calda ou peras em calda.
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