Diversão e Arte

Marlene Souza Lima se apresenta no Feitiço Mineiro nesta quinta

Marlene Souza Lima contrariou as estatísticas, teve formação na EMB e se tornou referência do instrumento no país


Marlene Souza Lima é uma mulher negra que transformou toda a ambição de uma criança em realidade. Vinda de uma família musical, na qual o pai era saxofonista, sempre teve o desejo de trabalhar com música. E conseguiu. Quando criança, morou em Brasília e desenvolveu a maior parte dos estudos na Escola de Música de Brasília (EMB) —  reconhecida, nacionalmente,  pela excelência. Apesar de não ser popularmente conhecido como um ambiente feminino, a artista desenvolveu os estudos musicais de guitarra.

“Quando comecei meus estudos de guitarra era uma coisa do outro mundo ser uma mulher guitarrista. Era muito raro mesmo, mas na minha casa nunca tivemos problema. Não existia isso de ‘ser profissão de homem ou profissão de mulher’. Então, eu abracei a guitarra por amor e só longe de casa que percebi que existia este estigma. Já era tarde! Mas isso não quer dizer que não presenciei atitudes machistas e preconceituosas. Houve um tempo em que deixei de tocar por questionamentos sobre esses assuntos. Mas passou!”, conta Marlene.

E ainda bem que passou. Hoje, ela é uma das guitarristas mais conhecidas do Brasil. Com um estilo musical puxado para o jazz, uma característica que vem do berço e com o aperfeiçoamento proveniente de estudos na Califórnia (EUA), a cantora conquistou espaço nacionalmente e internacionalmente.

Apesar de ter no estilo norte-americano um refúgio, Marlene não se acomoda apenas com uma possibilidade de fazer música “Sou mais centrada no jazz e na bossa nova. Esses eram os estilos que eram executados em casa quando criança, meus pais sempre curtiram este tipo de som. Já na adolescência ouvia muito o rádio e assim o pop, a soul music e a MPB entraram no meu gosto.”

Multifacetada artisticamente, a instrumentista tem na improvisação e reconstrução um ponto forte. Essa é uma característica bem brasileira, musicalmente falando. Em palco, seja em apresentações solo, em trio seja com uma banda, a guitarrista busca desconstruir os padrões maciços existentes quando o assunto é música. “O improviso proporciona uma maneira de enxergar novas possibilidades dentro da melodia, harmonia e ritmo de uma música. Há vezes em que se cria novo arranjo, de forma natural, quando tocando no palco. É surpreendente.”

O público brasiliense terá uma boa oportunidade de se surpreender com essas inovações hoje, no Feitiço Mineiro (306 Norte). Marlene se apresenta com uma banda formada pelos artistas da cidade em um show que relembra sucessos que tocavam nas rádios brasileiras nos anos 1980. Ao lado dos vocais Yara Gambirasio, Cely Curado, Nilson Lima e Salomão di Pádua e dos músicos Fernando Nantra (baixo elétrico), Jana Sabino (teclado) e Paulo Marques (bateria), relembra sucessos como Muito estranho, Lindo lago do amor, Helena, Nada por mim, Como eu quero, Cheiro de mato, Perigo, Vento de maio, Johnny love, Tô que tô, Iluminados, Noite do prazer e Nasci para bailar.

Marlene faz questão de pontuar que, apesar de parecer um show direcionado para um público específico, a apresentação é para todos. E assume a responsabilidade por ser um dos destaques da banda e pelos novos arranjos. “A responsabilidade é grande. Alguns ouvintes estão acostumados a ouvir determinada música de um jeito e esperam ouvir ela da mesma forma como fora gravada. Mas, em contrapartida, há aquele grupo que gosta de surpresa, bem como também o público jovem que nem conhece as versões originais mas se interessa pelo assunto. E este é o intuito do show. Sair do cover e mostrar outras cores para os temas.”

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco


O rádio nos anos 1980
Feitiço Mineiro (306 Norte). Quinta-feira (12/3), às 22h. Show em homenagem aos sucessos nacionais executados nas rádios do Brasil nos anos 1980. Entrada franca com cobrança de couvert artístico. Não recomendado para menores de 18 anos.


Três perguntas / Marlene Souza Lima


Qual a proposta para o show no Feitiço Mineiro?

Mostrar que apesar dos caminhos incertos que a cultura do Brasil atravessa hoje, a arte busca sempre alternativas para se fazer presente. Conseguimos reunir um grupo democrático. Quatro mulheres e quatro homens. O objetivo é mostrar com alegria as músicas que fizeram parte da nossa juventude.

Como mulher e negra, como você  avalia o espaço/cenário musical para as mulheres?

Atualmente, o cenário está mais aberto. Houve uma mudança. Muitas mulheres e meninas musicistas estão no mercado mostrando seus talentos. Pode melhorar? Sim! Mas está bem melhor que uns 20 anos atrás. Já não é surpresa você dizer que vive de música como guitarrista.

O que a música representa pra você?

A música pra mim é meu mantra. Minha saúde. Meu amor.